Alonzo ainda estava tentando se decidir o que havia acontecido mais rápido: a suposta desintegração do tal arauto ou a velocidade qual a qual aquela notícia havia se espalhado por todos os corredores de Las Noches. E aquilo estava martelando sua cabeça desde o momento que havia recebido a informação. Um Hollow havia sido transformado em pó, e aquela substância era muito parecida com a areia que compunha todo o terreno daquele mundo. O que aquilo significava? Estariam eles pisando sobre inúmeras criaturas que haviam sido mortas daquela forma através dos éons que aquele mundo havia existido?

Eram perguntas demais, e talvez importantes demais. Ele resolveu deixar aquele problema para os outros Arrancares que se diziam cientistas. Alonzo sabia que era apenas um Fracción, e apesar de se encontrar em uma posição de destaque quando comparado a grande maioria dos Hollows que haviam fixado sua residência no Hueco Mundo, também sabia que estava longe do ápice de sua força e a aparição daquele tal deus do deserto promoveria o caos perfeito para que ele pudesse crescer. Seria maravilhoso se aproveitar do caos gerado para angariar alguma força para si mesmo.

O deserto era extenso o suficiente para ele não ter ideia de onde começar por procurar. Mas logo se lembrou de Bastia, e apesar dela ser muda, sabia que provavelmente a outra poderia lhe indicar onde conseguir mais informações. Afinal de contas, vivia em um dos vilarejos que haviam se negado a aceitar a jurisdição de Las Noches.


Ele perdeu algumas horas perambulando pelo deserto até chegar onde Bastia morava. Poderia ter encurtado o caminho usando seu Sonido? Certamente. Mas no fundo ele achava relaxante andar em meio a paisagem desolada, fazia com que ele se acalmasse. Quando se aproximou do local onde costumavam treinar, e que porventura tinha uma visão privilegiada do vilarejo onde Bastia residia, soltou um suspiro longo e pesado. — Cacete.

Alonzo foi se aproximando com passos largos, observando toda a região, que parecia bem mais desolado do que deveria ser o normal. Ele se lembrava das construções rústicas e da aparência precária, mas agora uma camada generosa de areia encobria quase tudo. Ele ficou levemente incomodado, se perguntando quanto daquela areia era parte dos resquícios dos corpos dos antigos moradores daquele lugar. Estava claro que algo havia acontecido ali. As casas pareciam estar rachadas, polvilhadas ao redor da areia estavam os mais variados tipos de objetos, soltos em intervalos regulares como se tivessem sido perdidos em uma fuga desesperada. Aqui e ali ele via peças de roupas rasgadas, algumas em condições tão severas que haviam se transformado em trapos irreconhecíveis.

Treinar com Bastia era cômodo e ele esperava que ela estivesse viva, mesmo que fosse altamente improvável. Mas também deveria agradecer a ela. No final das contas, havia realmente ajudado ele a começar a desvendar aquele pequeno mistério. Ele se abaixou perto de uma pilha de roupas, começando a fazer uma investigação minuciosa sempre que encontrava algo novo ali. Será que tudo havia se transformado em pó? Ou será que haviam deixado algo mais sólido para trás?

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O homem soltou um suspiro de pura frustração ao notar que não parecia existir nada ali. Era nítido que as únicas coisas que haviam sido deixadas para trás eram aqueles objetos que não pareciam interessantes e as roupas rasgadas. Nada que indicasse qual havia sido a natureza daquele ataque ou identificasse a identidade de seu agressor. Ele acreditava que conseguiria encontrar algo ali, mas parecia ser uma esperança tola. Talvez o tal arauto tivesse tido sua mente afetado por alguma coisa forte o suficiente a ponto de consumir seu corpo. Ele sabia que deveria existir algum nexo de ligação entre os dois acontecimentos, mas ele não tinha provas.
Ele ficou exatamente onde se lembrava de ser o centro daquela pequena aglomeração de Hollows e deu uma boa olhada ao redor. Parecia que tudo ali havia sido abandonado a muito tempo, mas ele sabia que não poderia fazer mais do que alguns dias desde o suposto ataque. Ele balançou a cabeça novamente, talvez tivesse mais sorte em outro vilarejo.

E conforme ele se afastava, começou a ouvir passos. Alonzo levantou a cabeça e escaneou o horizonte, em busca da origem daquele som. A areia próxima dele começou a tremer, como se algo estivesse se arrastando por baixo dela. Ele deu dois passos para trás e ficou encarando o monte. Primeiro, surgiu a cabeça esbranquiçada. Depois o restante do corpo. Ele analisou aquela figura esquisita: apesar da aparência humanoide, todas suas extremidades pareciam afiadas como lâminas. Agora ele tinha ideia do que havia causada tamanha destruição naquelas roupas. De uma forma ou de outra ele sabia que aquilo não poderia ser o tal deus do deserto: não exalava pressão suficiente.

O sorriso de escárnio brotou nos lábios de Alonzo quando ele avançou contra a criatura. Ele não esperou qualquer reação dela, apenas levantou o dedo indicador na direção do corpo dela, concentração sua energia espiritual ali e tentando aplicar Tsukiyubi. Ele achou graça na forma com a qual a criatura tentou esquivar para longe de seu toque.

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O sorriso no rosto de Alonzo esmaeceu quando ele tocou na pele branca daquela criatura. Era muito resistente, bem mais do que ele estava esperando, quase como se ela fosse uma máscara. Apesar da resistência, não parecia ser uma criatura muito rápida, ou talvez suas velocidades fossem equivalentes. Ela tentou esquivar, mas acabou sendo lançada alguns metros para frente. Apesar de ter sido vítima do ataque, estava claro que pouco dano havia sido infringido ao corpo dela. Ele resmungou quando viu ela se aproximando novamente. Ele não queria estender muito um combate, mas parecia que aquilo seria inevitável.

O pequeno avançou, deixando um rastro de areia atrás de si, andava quase como se estivesse pisando em algo quente. A criatura expôs todos seus dentes pontiagudos, quase como uma ameaça. Alonzo quase achou engraçado novamente. E então ela chacoalhou todo o corpo, deixando os braços em formato de lança expostos novamente, estava bem nítido qual seria a intenção dela ali. E ele esperou, curioso para ver as capacidades daquela coisa. Os alvos, como ele já esperava, eram suas partes baixas. Com um grunhido de insatisfação e uma tentativa de se mover para longe, tentou escapar das duas lanças que se moviam na direção de suas pernas.

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Alonzo teve sucesso em livrar uma de suas pernas das garras da criatura, mas acabou calculando mal a trajetória do segundo ataque e colocou sua perna na exata direção da garra. Ele soltou um urro quando sentiu sua carne sendo perfurada e seu sangue tingindo a areia branca. Ele não gostava de sangrar, ainda mais quando estava no Hueco Mundo. Agora ele sabia quais eram as capacidades daquela criatura e estava impressionado. Suas garras eram realmente afiadas, e ele não queria ser novamente alvo daqueles golpes.

Ele respirou fundo, sentindo como aquela perfuração havia sido grave. Bem mais grave do que ele estava esperando. Por sorte, era um dos Arrancares que havia sido agraciado com uma regeneração anormal. Sentia seu corpo tentando conter os danos e o tecido tentando se recuperar. Também sabia que não era suficiente para fechar completamente o buraco que havia em sua coxa, mas pelo menos ele não sagraria até a morte no meio daquele cenário desolado.

Ao ver que sua vida provavelmente estava em jogo, assumiu uma expressão bem mais séria. — Ah... então você quer brincar? — Perguntou, com uma expressão que denotava seu descontentamento, sabendo completamente que a criatura não parecia ter condições de responder. Aproveitando a proximidade entre os corpos, contra-atacou. Respirou fundo e deixou que a pressão espiritual fluísse por seu corpo, e quando ela se localizou em seus punhos, ele socou o corpo da criatura.

Alonzo estava enfurecido, e enquanto a outra tentava esquivar com suas pernas de agulha, ele continuou pressionando o ataque. Primeiro tentando encaixar um Takentonbo, para em seguida executar um Tsukiyubi contra aquela figura.

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Calculo de Dano:

Aquele ferimento maldito parecia estar impactando a performance de Alonzo muito mais do que ele estava esperando. Ele soltou um suspiro de puro ódio ao ver a criatura escapar de seu soco pressurizado, e mesmo com ela no chão, também havia completamente errado seu empurrão. Ele balançou a cabeça, tentando conceber sua própria incompetência, mas não iria se dar por vencido tão facilmente assim. Ele sabia que aquele Takentonbo havia sido executado com maestria, talvez tivesse sido o suficiente para tirar o fôlego dos pulmões daquela criatura, se é que ela tinha algum órgão análogo. Ele sorriu ao notar a criatura do vazio caída no meio da areia, com os braços abertos. E apesar de saber que não demoraria mais do que alguns segundos para ela se levantar, pelo menos estava conseguindo lutar, de uma forma ou de outra.

Mas algo estranho aconteceu, quase como se o tempo ao seu redor se recusasse a passar. Todo o cenário que já era silencioso ficou ainda mais, de forma quase assustadora. Ele não conseguiu escutar nada, e se ainda tivesse um coração, sabia que talvez sequer conseguisse escutar ele batendo no próprio peito. Alonzo ouviu um farfalhar muito suave e olhou ao redor, buscando a origem do som enquanto ignorava o inimigo que ainda estava caído próximo dele.

Não muito longe deles estava uma figura desconhecida. Alonzo tentou dar um passo para trás mas notou que seu corpo se recusava a obedecer seu comando. O que estava acontecendo com ele? A figura era muito parecida com os relatos que haviam se originado desde a morte do tal arauto. O recém-chegado estava completamente vestido de branco, trajando panos de aparência estranha. Talvez fosse realmente um deus, quanto mais Alonzo olhava, mais sua visão mudava, quase como se ele não conseguisse conceber a real aparência daquele ser: as vezes achava que ele estava vestindo trapos, outras, vestindo vestes dignas de um rei. Como sua percepção quanto aquilo poderia mudar tão facilmente? A única coisa que parecia imutável era o turbante que cobria completamente a face daquela figura, fazendo com que ela quase se fundisse a paisagem.

O encontro durou longos segundos. Quando a pressão ao seu redor reduziu e ele sentiu-se capaz de mover seu corpo novamente, de um passo para frente. E a figura desapareceu na velocidade de um piscar de olhos, quase como uma miragem. Alonzo balançou a cabeça: será que estava ficando louco? Ele não podia ficar prestando atenção naquele tipo de coisa no meio de uma luta. Mas quando se voltou para o combate, notou que a criatura do vazio havia desaparecido assim como havia surgido, de forma misteriosa.

Ele tinha certeza de que não havia imaginado aquele combate, então significava que a figura também era real. O que estaria acontecendo? Será que ele estava sendo avaliado? Sabia que suas chances naquele combate talvez fossem de paridade, ou até mesmo de desvantagem por conta das garras alheias. Ele poderia muito bem ter sido morto. O que o diferenciava dos outros Hollows que haviam sido mortos? Será o fato dele ser um Arrancar? Ou talvez sua ligação com Las Noches? Ele não gostava de ser tratado com dó, mas ficou intrigado com qual teria sido o motivo do deus do deserto ter poupado sua vida.


Alonzo permaneceu mais algumas horas no vilarejo, parado no mesmo lugar, esperando que a criatura voltasse ou que algo acontecesse. Mas nada mudou. Sua única companhia era a lua, permanente fixada na mesma posição.

Ficou realmente surpreso por quanto sua paciência havia durado, mas ele não queria voltar para Las Noches ferido e de mãos vazias, com um relato que talvez não fosse levado a sério. Ele resmungou. Talvez tivesse deixado algo passar? Decidiu que iria investigar o vilarejo novamente, algo deveria ter passado desapercebido em sua inspeção. Mas ele não precisou andar muito para que algo chamasse sua atenção. Assim que se aproximou de onde o deus do deserto havia estado previamente, viu algo caído no meio da areia: um broche feito de ouro com o símbolo do sol. Aquilo não estava ali antes. O sol? Era algo completamente contrário a tudo que existia no Hueco Mundo. Seria aquilo alguma forma de aviso?

Sua expressão se abateu mais um pouco. Será que esse era o verdadeiro motivo por trás daquela aparição? Será que era essa a razão por trás do sumiço repentino daquela criatura do vazio? Alonzo deveria ter sido poupado por conta de seu canal direto com os Espadas e com o Rei. — Eu vi... o deus do deserto. — Resmungou para si mesmo enquanto encarava o artefato. Seja qual fosse o significado dele, estava além de suas forças. Talvez Kana soubesse o que fazer com o broche. Apertando ele no punho, começou sua jornada de retorna até Las Noches. As coisas estavam se tornando mais complexas a cada segundo que passava.

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