Declínio. Aquele mundo decaia a cada novo dia, acompanhada de minha lâmina, atravessava as criaturas, banhando-me com seus sangues e me alimentando com suas carnes. Algo em mim odiava toda aquela violência, aquele combate desnecessário, mesmo assim não recuava o fio de minha espada, arrancando suas vidas, fossem essas inocentes ou não, me sentia como uma ceifadora imprudente, em busca de uma fonte de poder, em busca de preencher de uma vez o vazio em meu peito, mas nada acontecia.

— Maldição… — pestanejei, equivocada.

Enquanto meus passos afundava na areia e minha lâmina escorria o sangue das recém vítimas, observei ao longe outro, não como os demais monstros que havia anteriormente derrotado, outro igual, outro como eu, de corpo e em pé, caminhando pelo deserto, de olhar determinado, não havia perdição, seria ele o meu verdadeiro opositor? Seria da sua carne a minha evolução?

Ergui minha lâmina, sem temor, avançando imprudentemente, afundando a areia em passadas violentas, se fosse através dele que viesse minha transformação, não temeria a seu pudor, não era mais uma sobrevivente, havia me tornado uma caçadora, em nome de algo maior, em busca de um propósito maior, almejando não apenas uma evolução, mas uma vitória, almejando uma liberdade, almejando um… coração.


Antes que minha lâmina fosse de encontro ao meu alvo, o surgimento da besta assegurou-se do confronto a minha lâmina, utilizando de suas próprias garras, não era algo como eu, mesmo assim, era diferente, era uma criatura poderosa, diferente das outras que havia enfrentado.

Considerações:

O que estava acontecendo? Eles estavam me atacando? Como? Pensei que entendessem minimamente a hierarquia desse deserto, mesmo assim, tanto eu quanto o outro espécime em minha frente estava diante de suas garras, de seus dentes, eles não temiam nossa presença, até mesmo pareciam instigados por ela, mas como? Bailalua estava envolta dos dentes da criatura, minha força não era o suficiente para atravessá-lo, no entanto era como instinto, como se o buraco meu peito movesse o meu corpo, emanando uma onda de calor manifestada em energia pura, uma força intuitiva, mas que até mesmo as palavras eram soletradas em minha boca — Presión Enfocada — juntas ao clamor, a energia atravessou a criatura em um único instante, matando-a no processo.

— Restam três… — chegava a soar engraçado, aquele em minha frente parecia completamente afundado pela criatura que o atacava, não éramos nós os superiores? Eu não me considerava tão especial, mas ele parecia patético, odiava toda aquela morte desnecessária, não conseguia entender, ou até mesmo compreender os motivos da minha própria ação.

— Você não vai morrer para uma criatura dessa, né? — enquanto o som saia entre meus lábios, minha espada atravessava outra criatura, cortando suas garras, tirando-as de cima do meu igual — Você será meu oponente, não morrerá agora. — conclui.

Considerações:

Eram quatro, um grupo, eles pareciam confiante, ou melhor, desesperados. Era engraçado, eu nunca havia conseguido me juntar com nenhum grupo de criaturas, nunca sequer senti algum tipo de conexão, mas eles estavam ali, juntos, atacando-nos, buscando evoluir não individualmente, mas como um grupo, chegava a ser poético, mas patético, admito. Meu corpo deslizava em meio a areia, em movimentos simples, não perfeitamente ensaiados, mas suficientemente eficazes, cortando-os enquanto evitava suas garras, eles eram inferiores, como imaginava, no entanto o que me chamava a atenção era o meu igual, que apenas observava, ele não parecia disposto a atacar, ele parecia assustado, era cômico. Atravessei mais um, matando o segundo, no entanto ainda restavam dois, um deles sem mão, e o mais afastado, tímido, talvez fosse o líder do bando, mas ele parecia cauteloso, aproximando-se dos corpos mortos, sem investir. — Bom, veremos do que são capazes. — dizia, jogando-me na areia, observando os acontecimentos restante, estava interessada onde aquele confronto daria, o que fariam, quem sobreviveria, mas no fim, todos seriam meramente parte da minha evolução, tornaram-se parte de mim, do meu poder e da minha evolução, da minha próxima etapa, seria magnífico, não? Eu daria propósito àquelas vidas infelizes, insensíveis e perdidas.

Considerações:

Em meu momento de observação, notei quando a criatura aproximou-se de forma inesperada do seu companheiro falecido, devorando-o impiedosamente, era cômico, um animal seguindo seus instintos, enquanto ao lado o meu igual sangrava, com a mordida da criatura inferior. O líder agora avançava rumo ao segundo companheiro, devorando-o também, era possível sentir seus olhos arderem, eu lembro dessa sensação, ele estava conhecendo seu próprio limite, seu poder, sua alma pouco a pouco se libertava, enquanto caminhava em direção a essa liberdade, ele agonizava, não em dor, mas em poder. Subitamente avançou, em direção ao meu igual, mas não o atacou, aproveitou-se do descuido do companheiro, agarrando-o pela jugular, arrancando sua cabeça fora, também o devorando, enquanto o sangue de seu companheiro manchava as vestes do arrancar, que surpreendentemente demonstrava afeição de assustado.

— Relaxe, eu já lhe disse anteriormente, você será meu oponente. — Enquanto as palavras saiam, meu corpo moveu-se rapidamente, chegando próximo o suficiente daquele que decretei como líder, mas ele não parecia me atacar, ele era mais inteligente que seus subordinados, ele me encarava, mas não atacava. A criatura então deu de costa, deixando o local. Pensei em atacar-lá, podia encerrar sua vida ali mesmo, mas não o fiz, dei as costas também, indo embora.

— Nos veremos novamente… — disse ao arrancar.

Considerações: