Kazuo acordou em meio a um delírio. Ele se contorcia na cama, agarrando o estômago e murmurando coisas sem sentido. Seus companheiros de ambulatório correram em seu socorro, tentando acalmá-lo. — O que está acontecendo, Kazuo? O que você sente? — Perguntava um dos seus colegas. — Meu estômago está girando como uma bola de demolição. Sinto como se houvesse uma colmeia de abelhas em meu intestino. E meu coração... meu coração está batendo tão rápido que parece uma máquina de costura! — Respondeu Kazuo em meio a gemidos.

Seus pares trocaram olhares preocupados, tentando encontrar alguma maneira de ajudá-lo. — E se eu tiver uma doença rara? E se meu corpo estiver sendo atacado por bactérias mutantes? E se eu estiver prestes a morrer? — Dizia Kazuo, com ambas as mãos na altura da cabeça, como se estivesse em um surto de pânico.

Os dois colegas de ambulatório continuavam se entreolharam, cada vez mais preocupados e confusos. — Droga! Me lembrei que eu sou o médico aqui, preciso me recompor o mais rápido possível. Cof! Cof! — As pressas, lembrando que teria um paciente para atender, Kazuo pediu licença aos seus colegas, pois teria um paciente para atender muito em breve. — Estou bem, doente, mas bem. Por favor, podem sair. — E assim o fizeram.

Quando deu a hora do atendimento, o paciente de Kazuo, um homem de idade,  muito experiente, chamado Ryota, entrou no escritório com uma maleta em mãos. Assim que Kazuo levantou os olhos para recebê-lo, percebeu que algo estava diferente na postura do paciente. Em vez de parecer preocupado ou doente, ele parecia animado e determinado.

— Boa tarde, doutor Kazuo. — Disse o paciente, colocando a maleta sobre a mesa. — Eu trouxe meu tabuleiro de shogi hoje. Você tem um tempo livre para jogar uma partida? — Kazuo sorriu, feliz por ter a chance de jogar uma partida de shogi com um paciente experiente. Como o médico que foi em vida, Kazuo sabia que tão importante quanto tratar doenças e ferimentos, era cuidar da mente do seu paciente. — Claro, por que não? — Respondeu Kazuo, abrindo a maleta e pegando as peças.

Os dois rapidamente se acomodaram em seus lugares e começaram a partida.

Mil partidas depois e Kazuo se encontrava em maus lençóis.

— Vejo que você está jogando bem, Kazuo. Mas você tem que prestar mais atenção nas peças que já foram capturadas. Às vezes, elas podem ser usadas a seu favor. — Disse o paciente. Kazuo acenou com a cabeça, tentando assimilar essa dica. — Sim, isso faz sentido. Acho que estou tão focado em mover minhas peças que acabo esquecendo de olhar para as peças do meu adversário. — Respondeu.

O paciente deu um sorriso simpático. — Sim, é fácil se concentrar apenas na sua jogada, mas a verdadeira habilidade vem da observação e análise do seu oponente. Você tem que estar sempre um passo à frente. — Continuou.

Kazuo tentou aplicar a dica em sua próxima jogada, e ficou surpreso quando seu paciente capturou sua peça. — Uau, como você fez isso? Eu pensei que eu estava em uma boa posição. — Kazuo demonstrou surpresa com sua aparência apática. Ryota, como era chamado, riu. — Bem, eu só notei que você estava deixando uma peça vulnerável e aproveitei a oportunidade. Sempre tente pensar em suas jogadas como uma estratégia maior, Kazuo. — Indicou.

Kazuo pensou no conselho do paciente enquanto continuavam a jogar, tentando prever os movimentos do adversário. — Eu entendi. É como no Kido, não é? Você tem que pensar na sua estratégia como um todo e antecipar os movimentos do seu oponente. — Disse confiantemente. Kazuo havia percebido que as técnicas de estratégia e antecipação utilizadas no jogo tinham muitas semelhanças com o Kidō.

No Kidō, assim como no shogi, é necessário ter uma visão clara da situação atual e do futuro, prevendo os movimentos do oponente para criar a estratégia mais eficaz. Além disso, ambas as práticas exigem que o jogador esteja ciente das possibilidades e limitações de suas peças, de modo a usá-las da melhor maneira possível.

O paciente assentiu. — Sim, exatamente. Acho que você está começando a pegar o jeito. Continue assim e você se tornará um bom jogador de shogi e um grande Shinigami. — Finalizou o paciente, recolhendo as peças após mais uma vitória. Kazuo sorriu, sentindo-se grato pelo conselho do paciente e pela oportunidade de aprimorar suas habilidades estratégicas de inteligência. — Obrigado pela partida. — Disse Kazuo. — Foi realmente uma experiência incrível. — Ryota ouviu aquilo e respondeu. — O prazer foi meu. Acho que ambos saímos vencedores hoje. — Ao término, Kazuo guiou o paciente até a porta e ele foi embora.

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