—  O Peso de toda aquela desgraça por mais uma vez pendia sobre meu corpo. Mal havia deixado o inferno, e acabei me enfiando em outro. Suspirei profundamente, enquanto lia com atenção a carta que me fora repassada pelos oficiais da divisão de Inteligência. Ao que tudo indicava, havia uma trama para instaurar o mais puro caos dentro do Sereitei, obra de shinigamis exilados. Se eu não fosse capaz de manter a minha mente no lugar, talvez estaria até mesmo entre eles. Com o terno negro e as mãos no bolso poucos instantes após terminar de ler a carta que me fora dada, andejava através das ruas da Gotei, vazias, sob a lua de prata.

— "Eu vou acabar perdendo a cabeça com essa merda." — Ditei, de maneira sarcástica. — "Tsc..."

Não era mais de meu feitio pagar de carrasco, mas parecia ser necessário. Eu só possuía a permissão de dar cabo daqueles que planejavam a invasão, e portanto, deveria manter as aparência e discrição entre os civis do Rokungai, coração da revolução. Não apenas shinigamis comuns, mas até mesmo almas civis haviam sido convocadas para a concretização deste plano. Sabia bem que caso isto desse um único passo para a frente, estaríamos sob grandes chances de colapso. Eu normalmente permitiria que esta desgraça ruísse, mas não estava na hora. Não ainda.  O vento uivava enquanto a brisa gélida batia em meu rosto, jogando os cabelos louros para trás. Mantinha o semblante sereno, silencioso através das ruas. Até que cheguei nos portões centrais do Sereitei, guardados por incontáveis ceifadores, que mantinham a vigília, dia e noite, todo o tempo, sem descanso. Com as armas em mãos e olhares afiados, fixavam-se em mim, mas sem erguer a voz. Sabia bem que eles gostavam de se meter como valentões, mas não teriam coragem de tentar meter moral em mim, não é? Esbanjava a braçadeira que me condecorava como tenente no braço direito, iluminada pela lua.

— "Saia da frente, seu otário!" — Um dos guardas, de propósito, trombou-se contra mim, me empurrando para trás com seu ombro esquerdo. — "Tá loco, menor?! Aqui a fita é outra! Pra passar cê tem é que fazer um favorzinho pra gente..." — Ele dizia, sorrindo.

Os outros gargalharam.
Afiei os olhares.

— "O único favor que vou fazer aqui é afundar a sua cara até que seu cérebro escorra pelas suas orelhas." — Respondi, fazendo-o se assustar. Ele não esperava tal resposta. — "Saia. Não tenho tempo a perder com tipos baixos como você!" — O empurrei para longe, fazendo-o cair no chão.

Os outros sequer se mexeram, enquanto permitiam a minha passagem. O guarda caído logo se recompôs, me observando com olhar de desprezo. Porém, logo voltei o meu rosto para frente, desaparecendo entre as sombras para me guiar, solitário, até o Rokungai. Sabia que não seria fácil, mas era necessário. Discrição não era o meu forte...E eu certamente não estava me importando em matar mais do que o necessário. Outra coisa que eu também estava estranhando eram aqueles guardas do portão. Mantiveram a vigília em mim, quietos. Um pequeno arrepio percorreu a minha espinha.

Eles não eram boa gente.
...Mas afinal, quem é bom, neste mundo?

Informações:

—  Moscas. Por todos os lados - Nada além de putrefação e degradação humana. Não demorei muito a chegar no recinto do 72º Distrito do Rokungai, conhecido principalmente pelo seu cheiro maldito e completo desalento do povo em relação ao bem-estar do local. Fedia a cadáveres, e os drogados que vaguejavam de um lado para o outro carregavam consigo semblantes de pura decadência. Com nojo, buscava me manter afastado de todos eles. Haviam por lá bandidos, mendigos, prostitutas e todo tipo de criatura que lhe faria revirar o estômago. De cima a baixo, não havia nada além de desgraça. Me perguntava como sequer era possível viver naquele lugar, e ainda pior: Por que escolher um distrito tão porco como base para suas operações? Talvez o cabeça por trás desta revolução houvesse pensado que ninguém lhe buscaria no esgoto da Soul Society. Estava enganado. Em meio à putrefação nas periferias do Rokungai, um único homem se destacava na multidão. Com terno negro e olhos inexpressivos, um shinigami?! Me observavam com temor, como se ali estivesse um demônio ou algo parecido.



Com as mãos no bolso, calmamente me deslocava entre as vias que fediam a fezes. Homens e mulheres depravados jogados ao chão como sacos de lixo. Corpos dilacerados, deixados ao relento para que apodrecessem junto à dignidade da região rejeitada do Rokungai. Porém, como eu poderia descobrir os esquemas sombrios que por ali se perpetuavam? Eu chamava atenção demais, e havia me sido designada uma missão de infiltração e furtividade. Eu estava pouco me fudendo para o que a Soul Society queria - Faria do meu jeito. Com as veias saltadas no pescoço, mantinha os olhos abertos, entre as vielas e becos imundos do distrito. Era repulsivo - Mas colossal. Haviam milhares de almas residentes por ali, e portanto, seria impossível investigar puramente através de minha intuição ou pistas físicas. Deveria arranjar um método alternativo.

Saltei entre os prédios e observei cada situação que se passava - Assaltos a mão armada, luxúria, gula, ganância. Os pecados se arranjavam naquele único distrito, mas entre tantos vagabundos, deveria haver um único destaque na multidão consumida pela desgraça. Suspirei profundamente e toquei o solo, sentindo as reiatsu que estavam ao meu redor. O céu cinzento começava a se tornar pesado. O ar ao meu redor, gélido, fora consumado por pingos de chuva que caíam sobre minha cabeça. De pouco a pouco, a natureza começava a agir. Não demoraria muito para que uma tempestade caísse sobre o distrito. Mas não seria uma chuva comum. Choveria sangue. Pelas minhas mãos.

Tudo ao redor mostrou-se claro. Sentia cada espírito, cada intenção, cada intensidade.
Mas...Só poderia haver uma reiatsu shinigami entre tantas ali. O escolhido das trevas estaria ali? Ou mais um fracasso me esperava?

Abri os olhos.
Me encontrava com a resposta oculta.

Eu via um único caminho.

Informações:

—  Em meio ao desprezo, uma fagulha dourada se destacava. De pouco a pouco, tornava-se cada vez mais poderosa, engolindo todos os outros pontos espirituais ao seu redor. Estava a exatamente trinta e dois metros de mim, à esquerda, em uma das vielas estreitas do 72º Distrito. Arregalei os olhos enquanto meu rosto assumia a expressão de surpresa, e imediatamente desloquei-me até o ponto destinado. Não demorara muito para que pudesse reconhecer o homem que emanava a reiatsu - Que por mais que estivesse visivelmente suprimida, era comparável a, no mínimo, um oficial de alta classe. Ele era um homem  baixo, com cerca de 1,60 e feições joviais. Carregava consigo um livro de capa preta, e vestia-se com um casaco de plumas. Seu cabelo era relativamente longo, com pontas espetadas. Porém, o que lhe destacava era a tatuagem de cruz no centro de sua testa, e a feição de completo desinteresse. Me mantive escondido, a apenas seis metros dele, que estava na companhia de outras duas figuras, mas encapuzadas. Retirando as mãos do bolso, ele deferiu a primeira palavra.

— "E de que importa? O Gotei está fragilizado. Eu não vou perder essa oportunidade só porque os membros têm pensamentos divergentes. Lembre-se do que porque está aqui." — Ditou, imponente.


— "Ei...Esse não era o acordo. Você nunca disse que seríamos obrigados a seguir esse seu plano maluco! Um único capitão vale por milhares de oficiais, não pense que sua força será o suficiente para conter os que ainda estiverem vivos. Lembre-se bem: Nem todos foram para o Hueco Mundo, seu idiota! Vamos ir pelo plano alternativo." — O Encapuzado disse, aparentemente revoltado.

— "Sheesh..." — O Jovem resmungou, cruzando os braços. — "Vocês são uns covardes mesmo. Se é tanto o que querem, porque não pedem pela aprovação dos outros? Eu estou no comando, mas posso lhes dar esta oportunidade. Mas de pouco importa, não é? Ah...Enfim...E quanto aos espiões? O que eles descobriram?" — Perguntou aos subordinados.

— "Parece que os membros do Gotei estão retornando para cá, de pouco a pouco. Fora relatada a presença de alguns poucos capitães e tenentes que retornaram. O único que nunca saiu daqui, pelo que sei, é o tenente da 6ª Divisão, Sunken Noritoshi. Não acho que seja uma boa jogada irmos de frente." — Ditou, o segundo encapuzado.

— "Entendo. Vamos indo, então. Deixarei a vanguarda cuidar da fase inicial. Não importa que rumo o plano tome, eles são essenciais. Vamos." — O líder respondera, abrindo um portal.

Então, o garoto sumiu junto a seus dois subordinados. O portal fechou-se tão rapidamente quanto abriu, e eu, por sorte, pude me manter escondido entre as sombras. Afiando os olhares, acabei por saltar da escuridão que me ocultava, verificando que de fato não haviam mais rastros físicos ou espirituais daqueles três por ali. Porém, ao menos, eu havia adquirido conhecimento vital. Só me restava saber o que era a "Vanguarda". Uma infantaria? Eles pretendiam atacar em breve? Era um problema. Não sabia quantos membros tinham. E eles ainda possuem espiões!

Que inferno.

Informações:

—  O que eu ali buscava já havia sido cumprido - Mas era somente o início. Citavam também que os membros dessa tal "trupe" possuíam ideias divergentes quanto ao prosseguimento de seus planos. O que isso significava? Talvez estivessem, de propósito, tentando sabotar a rebelião que eles próprios planejaram? Ergui uma das sobrancelhas, e de imediato pus-me entre as ruas, a fim de deixar aquele lugar. Agora, estava por minha própria conta. Solitário, entre os distritos periféricos, obrigado e encontrar o meu próprio norte.

— "Parece que há muito mais do que inicialmente fora relatado. Droga...Não tem como eu impedir e prever tantos passos de uma só vez. Preciso encontrar um ponto fraco neste esquema...Antes que ele encontrem o nosso." — Pensei, jogando os olhares para cima. Os pingos de chuva se intensificavam - Sons distantes de trovoadas podiam ser ouvidos. Estava na hora. — "Será que devo criar uma armadilha? Não, seria fácil demais...Eu vou entrar no jogo deles. Estão nas profundezas, tenho certeza. Mas onde?" — Me questionava.

Encontrá-los seria um inferno. Mas se o fizesse a tempo, com toda certeza seria capaz de intervir. Não perdi tempo: Continuei a minha jornada, a travessia no deplorável distrito, até que deixasse o mesmo, encharcado pelas lágrimas e suor dos que ali haviam sido condenados pela eternidade. 71º Distrito, 70º Distrito...E assim em diante. Vasculhei, um a um, canto a canto. Nada. O tempo parecia passar muito mais devagar em minha mente, estava em conflito. Sabia que jogava contra o tempo, mas eu não me importava com a Soul Society. Por quê, então estava tão preocupado?

Ah...Deve restar um resquício de meu eu antigo, não é?

Pouco importava. Eu o fazia para me fortalecer.
Não lutava pela humanidade.
Não lutava por amor.

Eu não trazia esperança.

Trazia destruição.

Informações:

—  Porém, de alguma, como se fora obra do destino - Me encontrei com uma peça chave para o contínuo daquela missão. Cerca de duas horas após deixar o 72º Distrito, agora me encontrava no 50º, a dezenas de quilômetros de distância do qual anteriormente estava. Lá, cruzei meu caminho com um dos encapuzados que estavam presentes no encontro com o suposto líder da trama diabólica. Agora, ele vestia roupas similares as de um mendigo, camuflando-se na multidão empobrecida, mas ainda mantendo suas feições faciais, bem como o capuz icônico, com escritas douradas à altura dos olhos. Cerrei os punhos, e saltei de onde estava, posicionando meu cotovelo contra sua garganta, antes de arrastá-lo para outros vinte e dois metros, quando colidira-se contra uma parede de concreto. No momento do impacto, o homem cuspiu - Ofegando por ar, em desespero. O soltei, o fazendo cair de joelhos em minha frente.

— "AH! DESGRAÇADO!" — Ele exclamou, levando sua mão destra até o bolso contrário. — "Com quem pensa que está se metendo, seu pedaço de merda? Eu vou te estripar até..." — Pausou.

Percebera a braçadeira que eu vestia.
Ele ficou em choque, sem reação. O homem do qual ele falava há apenas algumas poucas horas atrás estava em sua frente, preparado para encerrar a sua medíocre existência. Desistiu de sacar a sua zanpakuto, e fitou-me nos olhos. Ele sabia que era fraco demais para me enfrentar sozinho, então pareceu estar disposto a se submeter, em troca de que sua vida fosse poupada por mim.

— "Me diga o que diabos vocês estão tramando." — O questionei. — "Quero saber tudo. AGORA!" — Empurrei-o, agressivamente.

— "E-Espere!" — Ele gritou ao ser empurrado. — "Eu sou só um recruta qualquer. Nosso trabalho é manter o olho nas almas que são trazidas para a trupe...Só isso! Eu não faço parte da matança, então nem vem com essa merda pra cima de mim! Se quer resolver algo, vai ter que se ver com a chefia da trupe." — Ditou.

— "É mesmo? E quem são os chefes? O Que é a Vanguarda?" — Continuei.

— "Tsc...A Vanguarda será o primeiro impacto sobre o Sereitei. Eles atacarão pelos portões centrais. Os guardas e esquadrão de vigília foram subornados e a infantaria irá ganhar livre acesso ao Gotei. De lá, começarão os ataques. Eles planejam destruir, primeiramente, a 6ª Divisão. Deve ser porque você é o único shinigami que aqui permaneceu. Te consideram um problema e tanto. Sobre os chefes...Eh...Eu sei lá. Eu só sei do que está acima dos outros, mas ele nunca diz nada sobre ele próprio. Só nos disse para o seguirmos." — Respondeu.

— "Quando será o ataque?" —

— "Daqui três horas." — Finalizou.

Já não mais havia necessidade para perguntas. Virei-me, mas não antes de rasgar a garganta do indivíduo com um único saque de minha Wakizashi, partindo as suas jugulares e traqueia. Uma cachoeira de sangue jorrou do corte profundo, banhando-o de vermelho escarlate. Sua via se esvaiu com rapidez, enquanto eu limpava a lâmina da zanpakuto, que posteriormente seria guardada sob meus ternos negros. Já sabia do que precisava. Eles não tinham mais para onde correr. Shinigamis ou não..Civis ou não...Pouco importava. Crianças, velhos, mulheres....Todos morreriam igualmente.

Pelas minhas mãos.

Informações:

—  Três horas. Míseras três?! Me custaram duas apenas para chegar até este ponto, e para retornar talvez dure até mais. Ao menos, não havia muito a ser explorado além do já previsto. Deveria seguir o meu caminho de imediato, deixando o cadáver putrefato para trás. Ensanguentado em suas próprias mágoas, desapareci entre as sombras empilhadas pela escuridão da madrugada eterna. As sepulturas ocultas na escuridão remetiam ao semblante de um presságio inevitável; Intervenção divina - Do céu para a terra, na forma de aniquilação. Era desta forma que eles pensavam que iriam atuar sobre o Sereitei. Eram tolos. Mesmo que sua revolta seja justificada, não poderia, jamais, deixar que seres de mente tão fraca reinassem através do medo. Você não será respeitado, apenas odiado. É uma contagem regressiva para a sua própria ruína.

[...]

Restava uma hora, e eu já havia cruzado uma grande parte do Rokungai, atravessando diversos distritos e pontos suspeitos até alcançar uma espécie de bairro fantasma do 84º Distrito. Suas casas de madeira nobre estavam definhando, e nada ali imperava além da absoluta poeira. O vácuo silencioso dava-me arrepios, mas pior do que isso: Mesmo que todo o local estivesse completamente silenciado pela ausência de vida, tinha o pressentimento de que, mesmo assim, ali havia alguém. Mantive uma postura cautelosa, fechando as mãos ainda manchadas pelo sangue do servo da trupe. Não demorou muito até a resposta vir concreta: Por reflexo, joguei o corpo para a esquerda, observando um feixe luminoso cruzar o meu caminho e colidir-se com as ruínas de um casarão antigo, detonando-o com a força do impacto.

— "Hollows?" — Me questionei. — "Não, espere...Essa reiatsu! São shinigamis?! Merda!" — Imediatamente me coloquei em posição.

— "Tsc...Errei. Parece que ele é mais rápido do que eu previ." — Uma voz ecoou na distância. — "Parabéns, Sr. Tenente. A sua performance foi ótima. Estivemos seguindo todos os seus passos. Você sabe que temos espiões, não é? Só não sabe onde. Vamos dizer que...Um passarinho me contou." — O Homem deixou a neblina, revelando-se.

— "Então é mais da escória da Trupe? Venha logo. Não temo vermes de classe tão baixa quanto vocês." — Ditei, de forma a desprezá-lo.

O homem apenas se deu ao trabalho de gargalhar momentaneamente. Então, estalou os dedos.
Dois, três, quatro...Seis outros integrantes da trupe surgiram ao meu redor, cercando-me por completo. Era uma emboscada! Estranhamente, haviam programado perfeitamente o momento ideal para me pegar naquela armadilha. Mas, ao invés de assustar-me com o plano maquiavélico, me mantive imóvel, apenas em guarda. Eu não demonstrava medo ou surpresa.

Não havia motivos para isso.
Eu não estava em perigo.

Informações:

—  Mantive a guarda alta, mas com feição completamente relaxada. Meus olhos não se cruzavam com os de meus ávidos inimigos, que não hesitaram nem por um segundo me atacarem. Eles pareciam ser somente um bando de vagabundos com o mínimo de treinamento, já que carregavam consigo espadas comuns. Exceto pelo primeiro - Que de fato era um shinigami, mas ele também não seria problema. Os outros seis que me atacaram vieram em conjunto, todos armados com diferentes tipos de equipamentos. Revidei, primeiramente, ao girar meu corpo e utilizar a energia cinética acumulada para desferir um chute giratório em altíssima velocidade, rasgando o ar na mesma medida em que atingia dois adversários simultaneamente, quebrando suas mandíbulas ao impacto e os lançando para vários metros de distância. Quanto aos demais, não fiz nada além de saltar para longe, me reposicionando.

Era a vez do shinigami. Liberando sua shikai - A espada elegante se transformava em um machado de guerra, emanando fogo pela ponta de suas lâminas mortais. Porém, evitei o golpe direto e agarrei o braço esquerdo do rapaz, jogando seu corpo contra os vagabundos na mesma medida em que o desarmava. Porém, ao tocar o machado, o mesmo se incendiou, o que me forçou a largá-lo. Antes mesmo que pudesse tocar o chão, o exilado tomou o machado novamente e golpeou o solo, causando uma erupção localizada que transformou um terreno de cinco metros radiais em um poço de magma. Uma explosão cilíndrica se moldou, era uma shikai excelente, mas não tinha nível para me enfrentar. Apenas abri um leve sorriso, mais uma vez evitando o golpe ao tocar o solo e me impulsionar para trás. Meus pés pousaram sobre uma das construções em ruínas, e com o reiryoku, me propulsei para frente como um foguete, caindo com uma voadora contra o peito do shinigami, destroçando sua caixa torácica e o arremessando a uma dezena de metros. Na colisão, vários destroços caíram sobre seu corpo. Os vagabundos nem sequer olharam, e apenas continuaram avançando. Fora fácil, no entanto. Os soquei até que suas faces estivessem cobertas de sangue. Dentro de meros vinte segundos, a batalha havia terminado. Suspirei, olhando para cima. Não havia sido difícil, mas o mero fato daqueles homens estarem ali significava que já sabiam de minhas intenções. Eu precisava ser rápido, se quisesse parar a Vanguarda. Ao menos, pará-la antes que toda a desgraça se iniciasse.

— "Não vai dar tempo! Que merda!" — Cerrei os dentes, disparando contra a localização do Sereitei. — "Aqueles guardas malditos eram espiões também? Se continuar assim...Eu não conseguirei impedir o avanço da trupe. Espero que, ao menos, não estejam em centenas." — Finalizei.

Então, sob o céu escuro, continuei minha jornada solitária. A corrida contra o tempo para salvar quem mais odeio.

Informações:

—  Não poderia afirmar, ao menos com clareza - Que havia sido precipitado em afirmar as minhas frases anteriores. Fosse por propulsionar o meu próprio corpo e acabar indo até mais rápido do que o normal pela urgência da situação ou simplesmente por um erro de cálculo, havia sido capaz de, ao menos, me certificar de que a Vanguarda da trupe estava relativamente distante dos portões. A cerca de trezentos metros de distância do Sereitei, procurei pelo exército que viriam a enviar. Não haviam centenas de homens, e nem dezenas.

Havia apenas um homem.

Ele era alto, passava dos dois metros de altura. Seu corpo era magro, mas estranhamente bem definido. Portava cabelos negros curtos, óculos escuros e um par de calças jeans. Em mãos, a aparente jaqueta, verde. Passei com um flash logo ao lado do indivíduo suspeito, erguendo a poeira que ficava para trás, e virando-me em direção ao desconhecido, a exatos dez metros de distância do mesmo. Com postura relaxada, abria um sorriso irônico. Não fui o primeiro a levantar a voz, no entanto.

— "Você deve ser o tal do Noritoshi." — Ele disse, jogando a jaqueta para longe. — "Eu sou a Vanguarda." — Respondeu.

— "Um único homem? Vocês devem ser bem confiantes de pensar que poderiam intimidar o Gotei 13 com isso. Tenha o nome que quiser, a sua força não é párea para nós. Você ainda tem a chance de dar as costas e desistir...Mas eu já sei qual vai ser o resultado disso." — Ditei, me posicionando para o combate.

— "Não será uma grande luta, tenente." — O homem respondeu, suspirando.

 Então, algo macabro ocorrera em seu corpo. Com em um truque de mágica demoníaco, seus músculos começaram a se expandir de maneira completamente anormal. Os braços, as pernas e o peito cresciam exponencialmente, criando camadas adicionais de músculos sobre os originais e os deixando com aparência monstruosa. Não só isso, mas os ossos do homem também se alargavam, e a calça na altura de suas panturrilhas se rasgavam. Uma aura de Reiatsu emanava de seu corpo, exalando nada além de pura malícia. O seu corpo havia se tornado completamente monstruoso - Anormal, fora de qualquer padrão anatômico humano. Sua aura era azul, e queimava com chamas. Só de fechar os punhos, pressionava todo o ambiente ao seu redor. Me mantive na mesma postura. Agora, o homem possuía cerca de 2,30 de altura. Era um colosso. Eu sabia que não seria fácil.

Informações:

—  Arqueei a sobrancelha esquerda, percebendo que ao término de sua fala, o monstruoso homem pressionou o pé esquerdo sobre o solo, partindo-o em uma pequena cratera de um metro de diâmetro. Então, disparou em toda a sua velocidade. Ele era extremamente veloz - Estávamos a dez metros um do outro, mas mesmo assim, ele foi capaz de me alcançar em menos de meio segundo. Sua movimentação era anormal, e não precisou sequer encostar o pé uma única vez sobre o chão. Ele não correu, apenas se impulsionou. Neste instante, seu punho fechado fora envolvido por uma energia sobrenatural. De imediato, ativei o Punho Corrente, adotando uma nova postura de combate, e golpeando seu punho com meu palmo destro. O encontro entre mãos causou uma enorme onda de choque a se espalhar, rachando o chão abaixo de nós e desfigurando o terreno próximo. O som ecoou como um poderoso impacto, indicando que, de fato, ele possuía uma força demoníaca. Porém, não havia sido o suficiente: Minha força não estava no mesmo patamar que a dele.

Seu punho fechado atravessou o meu golpe, e atingiu-me diretamente no peito, me arremessando a mais de trinta metros de distância. Colidi contra um monte de rochas, o que me fez cuspir uma grande quantidade de sangue. Algumas de minhas costelas haviam se rachado, com toda certeza. Tornou-se difícil respirar. Com o ar pesado e olhos arregalados, a boca continuava a escorrer sangue. Se não fosse eu recebendo este golpe, tinha certeza de que qualquer oficial ou tenente morreria. Levei o palmo esquerdo até a barriga, para tentar suportar a dor indescritível. Queimava como se eu estivesse no inferno, e aquilo havia sido somente o primeiro golpe dele! Era absurdo. Um verdadeiro monstro...E talvez, um oponente digno também. Após me recompor, levantei-me com rapidez, trazendo à tona a minha Wakizashi - Zanpakuto curta, paralela entre as mãos.

— "Depois que você cair, toda a Soul Society ruirá. Não importa o quanto você tente ou continue a se levantar...Já não existe esperança para este mundo. Fique onde está. Talvez a sua morte seja indolor desta forma." — Ele ditou, se aproximando enquanto arrumava os óculos.

— "Heh...Eu pensei que não haveriam adversários poderosos neste lugar, mas parece que me enganei. Eu não pensei que fosse ser obrigado a utilizar isto...Mas é o que a situação pede, não é? Prepare-se, "Vanguarda". Eu vou te mostrar o que é poder de verdade!" — Exclamei.

Então, um pequeno corte fora feito pela ponta da lâmina em minha própria mão, deixando que uma única gota de sangue escorresse. Naquele mesmo instante, a Wakizashi começara a brilhar. A Vanguarda bem sabia do que se tratava, e portanto, disparou em uma tentativa desesperada de impedir a liberação de minha Zanpakuto - Em vão. Antes que pudesse me alcançar, a lâmina transformou-se. Era isto: O estágio inicial, Shikai!


Uma onda energia consumiu os arredores.
Era agora ou nunca.

Informações:

—  A minha lâmina curta logo transmutou a sua forma para uma enorme guitarra escarlate - Com 1,70 metros de comprimento e a base parcialmente destruída, fora posta sobre minhas mãos, pronta para ser tocada. Fios escorriam da parte quebrada, e um suporte adornado por espinhos dourados surgiu ao redor de meu corpo, conectando-se à guitarra que dava nome a minha Shikai. Abri um sorriso, sabendo que a batalha já estava decidida. Toquei-a durante alguns instantes somente para testá-la, e foi o suficiente para liberar uma pressão espiritual poderosa o suficiente para rachar o solo abaixo de mim. Meus olhares se cruzaram com os do vanguardeiro, que apenas podia observar, inexpressivo.

— "Esta é a sua Shikai, tenente? Admito que é muito mais poderosa do que pensei. Não imaginava que alguém de sua classe pudesse portar uma arma de tal nível, mas é irrelevante. Eu já abandonei estas liberações há muito tempo. Eu só confio em minha força - Porque ela é a absoluta. Jogue o que quiser contra mim, irei esmagar suas ações fúteis com minhas mãos!" — Ele exclamou, disparando.

— "Não tão rápido." — O Sorriso se alargou.

Então, comecei a tocar. Porém, desta vez, tratava-se do solo de guitarra elétrica da música "Eruption", de Van Halen. Com extrema velocidade, as cordas da Black Sabbath chegavam a se incendiar. O épico solo de speed metal forçava os movimentos de meu adversário a jogarem no ritmo da música. O vanguardeiro logo perdeu a compostura, e seu corpo, sentindo as vibrações poderosas da shikai, mal conseguia manter-se de pé. A pouco menos de cinco metros de distância de mim, o gigante permaneceu completamente paralisado. Finalizei a ação ao encerrar o solo com uma nota extremamente aguda, que transformou todo o solo a trinta metros adiante em nada além de pó. A vibração causava destruição enorme, levantando uma colossal nuvem de poeira enquanto os óculos do vanguardeiro eram partidos, e seu corpo era arremessado a dezenas de metros. Quando a nuvem se dissipou, não havia nada naquele terreno além de um solo partido em centenas de pedaços, e o corpo colossal do homem, ensanguentado. Ele logo se levantou, com feição séria, quase odiosa. Cerrando os punhos, o homem bateu em seu peito, a fim de mostrar que aquilo não seria o suficiente para derrubá-lo. Alguém de seu nível não cairia com tamanha facilidade, e realmente me impressionou. Eu não esperava que alguém pudesse se levantar após receber uma das minhas manipulações sonoras.

— "Entendi. Você cria vibrações sonoras a partir das notas tocadas, mas existem dois tipos. Eu não o vi tocar as notas graves da guitarra durante o seu solo. Além disso, a outra habilidade...Eu acho que você não poderá usá-la tão cedo, não é? É uma shikai impressionante, mas não pode penetrar a minha carne. Entenda, shinigami: Nós estamos muito além de vocês." — Ditou, franzindo o cenho.

Então, disparou novamente. Estava mais rápido - Muito mais rápido. Fechou a distância de trinta metros em um único segundo, e canalizou uma quantidade imensa de energia espiritual em seu palmo destro, levando-o a frente para que pudesse me atingir com toda a sua força. Brilhava em azul, e eu não podia fazer nada, se não tentar me esquivar.

O que diabos é este cara?!

Informações:

—  O Golpe do homem viera em tamanha velocidade que meu corpo mal fora capaz de reagir. Porém, no último instante, utilizei uma vibração sonora de baixa latência para atrasar a técnica do vanguardeiro, dando tempo o suficiente apenas para que eu pudesse esquivar o meu corpo para a esquerda. A palma do homem passara por mim, e toda a sua energia foi liberada no ar. Porém, ao contrário do que se esperava, não aconteceu nada. Não houve uma explosão, ou mesmo uma onda de choque. Era simplesmente um golpe direto.

— "Hm? Nenhum efeito no ambiente?" — Me questionei, atingindo a cabeça do homem com o corpo da guitarra, o afastando um pouco. — "Que estranho. Será que foi um blefe?" — Continuei.

— "Você deve estar confuso, não é? Essa técnica não deixa rastros, e também não danifica o ambiente. Ela simplesmente desintegra tudo o que toca!" — Exclamou, avançando mais uma vez.

Utilizou-se da mesma novamente. Porém, agora ele quem tinha a vantagem. Ao invés de me atingir com o palmo, inverteu a guarda e girou seu corpo, desferindo um chute giratório contra meu abdomen, me lançando contra o chão com extrema violência. Sangue espirrou de meu nariz, mas tive reflexo para tocar a guitarra em notas tão agudas que mal eram perceptíveis ao ouvido humano, causando um impacto sonoro ao meu redor que fez o gigante sair voando para doze metros de distância. Desta vez, seus músculos haviam sido mutilados, e ele notoriamente apresentava certo incômodo por conta da dor. mesmo assim, seus ferimentos se fecharam tão rapidamente quanto foram abertos. Ele não era imortal - Mas seu corpo beirava a indestrutibilidade. Suas células haviam vibrado a ponto se de destruírem, mas ele pôde se recuperar sem nenhum sinal de fadiga. Era impressionante, mas eu tinha um plano. Se por fora ele era tão poderoso...Eu iria ver o quão resistente era por dentro!

Fingi estar exausto, próximo da morte. Com um dos joelhos sobre o chão, eu empunhava a guitarra como forma de apoio, enquanto o homem se aproximava, gargalhando. Ele pensou que já havia conquistado a vitória, e que eu não mais apresentava um perigo para ele. Então, de maneira arrogante, aproximou-se, deixando sua guarda baixa. Talvez ele simplesmente não estivesse preocupado com um ataque surpresa - Pensava que não funcionaria, assim como os outros. Ele estalou os ossos de suas mãos, até parar em minha frente.

— "Isso acaba agora." — Ergueu o punho destro. — "O Pesadelo acabou de começar, shinigami!" — Finalizou.

Então, o punho desceu.

Informações:

—  Ele não esperava por uma retaliação - Porém, veio da forma mais brutal. Utilizando a ponta da guitarra como uma lança, penetrei, de leve, os músculos densos da vanguarda, o suficiente apenas para colocar as cravelhas em seu interior. Havia sido um ataque direto que poderia tê-lo atravessado caso fosse um outro ser qualquer, mas naquela ocasião, mal pôde alcançar as partes mais profundas de sua musculatura. Ele, inicialmente, sorriu, pensou em zombar de meu ataque surpresa. Porém, notou que alguma coisa se mexia lentamente entre a sua carne perfurada. Foi naquele momento que ele percebeu a gravidade do erro que havia cometido ao me subestimar.

— "As tarraxas servem para afrouxar ou retrair as cordas, assim alcançando a afinação ideal." — Ditei, erguendo meu olhar, agora fixo no rosto do gigante. — "Se pergunte: O que será que vai acontecer se as minhas vibrações sonoras saírem do controle? Já parou para pensar?" — Finalizei.

— "Seu rato desgraçado!" — Exclamou, tentando um último ataque.

As tarraxas giraram, e as cordas tornaram-se frouxas a ponto de poderem ser confundidas com linhas soltas. Então, fora tocada uma única vez. Uma única vibração sonora foi o suficiente. Desconcertante a ponto de soar como um cântico do inferno, fez com que o corpo do homem implodisse. De dentro para fora, colapsou. Seus músculos foram dilacerados, e rasgos imensos surgiram por todo o seu corpo. Sangue jorrou de cada ponto, e de joelhos, ele ficou. Os músculos logo retraíram, retornando a sua forma magricela, enquanto ofegava em seus últimos instantes. Eu não fiz nada além de observar a sua agonia, enquanto sua vida lentamente o deixava.

— "Eles ainda têm força...Não os subestime. Acho que vamos precisar de mais um pouco....Hayhel..." — Silenciou.

Então, um breve barulho de "click" ecoou por um único instante. Antes de morrer, ele enviou uma última mensagem para o qual eu poderia teorizar ser o líder da trupe. Ao menos, havia impedido o ataque. Não demorou para o corpo do vanguardeiro cair ao chão, sucumbindo para sempre. Retornei até os portões, mas os guardas de antes não mais estavam lá. Sabiam do ocorrido, e deixaram a cena. Só me restava aguardar pelo próximo passo. Querendo ou não, era responsabilidade minha cuidar do Sereitei enquanto estes malditos estivessem vivos.

E poderia garantir:
Até o último homem.
Cada um deles.
Morreria.

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