A silhueta caída de Kuramoto era algo raro, os aspirantes à cientista o carregavam para um quarto apropriado pra oferecer um tratamento provisório para sua condição, até o mesmo puder ir com seus próprios pés para a divisão médica, o que era uma coisa incomum também. Alguns minutos se passaram e o mal-humorado acordava com olheiras e um semblante cansado, mas astuto.

- Mas que porra é essa? Não preciso que vocês me tratem, vão cuidar daquela Capitã anã. Tsc. - Se debatia e expulsava os gentis compatriotas de Nimura da função de curar as feridas expostas, aos trapos, e com o corpo enfaixado parecendo uma múmia humana, se levantou e lembrou vagamente do que Aoi havia dito à respeito de Kishö, parece que o louco tinha assuntos pendentes e mais importante que isso, Kuramoto estava sentindo uma energia pulsar de sua zanpakutö, como se ela quisesse se manifestar e o consumir, inquieto e irritado com toda essa situação, socou a parede e por um ínfimo momento, relembrou de seu combate contra o Segunda Espada, ele como um todo foi bem humilhante, o ligeiro e esgueiro assassino subjugou a calamidade com tranquilidade e a maior ferida que aquele monstro deixou para trás foi um corte profundo no ombro, nada interno.

- Vou embora. -

Procurou uma janela e abriu se apoiando na parede e prestes a saltar.

O chamado de Nimura surpreendia o selvagem, não havia mais paciência ou vontade de permanecer num lugar tão esquisito e com barulho de máquinas, no entanto, havia pendências à serem resolvidas de um contrato outrora, virou-se pra trás e analisou o respeito... ou melhor o medo dos funcionários do cientista louco para com o próprio, um sorriso de canto era suficiente, no fundo, aquele sujeito o intrigava.

- É mesmo, hein. Me lembrei de uma coisa, eu não sabia que um Arrankar evaporava quando morto por zanpakutous achei que eles eram diferentes dos Hollows, não consegui trazer nenhuma amostra de DNA, só se o sangue dele estiver escorrendo pela minha lâmina ainda. - Estava confiante diante o momento, era algo para se gabar e ainda imaturo o fez por pouco tempo, assentia com a cabeça e observava todo o pavilhão com as mãos apoiadas na parte de trás da cabeça e os olhos sempre em frente, ignorando qualquer outra presença e focando apenas em Kishö. - Desde o momento que eu soube desse invasor o destino me disse o resultado, era como uma sensação de certeza do que iria acontecer, eu não sentia isso desde o sumiço de Awashi, talvez, por ele eu superei meus limites mais cedo do que deveria. - Não havia muita inteligência, mas assuntos de oponentes já derrotados não o fariam perder a paciência, embora era notável o tédio junto do mau humor em suas expressões. - Me diga os nomes daqueles que foram superados em combate, preciso de uma lista à respeito desses. - As portas se abriam e revelavam uma sala com um intenso calor, o clima do local aos poucos foi aliviando os ferimentos de Kuramoto em nível quase imperceptível, mas qualquer alívio naquela situação era impossível não detectar.

- Hm? Que escroto essa porra, não? - Se admirava com o consumo que o incinerador teria, tentando deduzir se aquilo era um corpo de um shinigami ou algo semelhante, no final, não importava, mas o macabro chamava atenção. Por fim, os olhos se afiaram quando o nome de Akado veio na conversa, a expressão de tédio se transformava em um semblante sinistro de desaprovação, as memórias da invasão de Las Noches eram vivenciadas por instantes, quando Aizawa desceu do teto do grande palácio, entreolhou Kuina e seu rosto apresentava insegurança, medo e fraqueza, voltava para a dimensão real, contorcendo os punhos segurando a raiva repentina. - Akado Kuina, não me surpreenderia se estivesse morta, inexperiente e provavelmente encarou a morte pela primeira vez naquele recinto hostil. - As falas da serpente aos poucos se mostravam sensatas e ratificava com a linha de pensamento que Aizawa teve ao ver os CINCO capitães aos trapos contra um único ser, esse que ceifou a vida de um e quase a de outro. - Concordo que os atuais comandantes de suas divisões são incoerentes, no entanto, eles foram definidos na Era Ayato, não? - Se questionou genuinamente, caminhando um pouco para o lado e entreolhando o abastecimento do incinerador, voltando a atenção para Nimura. - Não que eu me importe, mas, eu não confio no regimento que Akado Kuina está trazendo, eu enxergo uma Shinigami imatura, fraca e desentendida do porque está nesse posto, eu enxergo um pouco de coragem e astúcia, mas não vejo esses sentimentos fazendo-a uma boa líder. - Após o final de sua resposta, achou estranho, era como se por um momento estava mais maduro e sensato, não compreendia o porque se focou tanto nesse tema, desde Tsujikaze, o selvagem não conversava com ninguém e muito menos dava oportunidade para quaisquer chances de afeto ou vínculo patriota.

- Eu conheço a malícia de uma conversa, o que sua língua afiada e bizarra de cobra quer com aquela mulher? - Genuíno, indagou encostando-se em uma parede enquanto se aquecia com a temperatura exacerbada do local.

Não expressou reações faciais e ainda inexpressivo e indiferente, entreolhou Nimura e o corpo que lhe foi apresentado. - É, eu matei este homem. - A conversa aos poucos se tornava irritante, pouco se importava com política e sim com competência, infelizmente para Akado a atual Gotei 13 estava um lixo e isso refletia nas decisões de Kuramoto à seguir.

- HAHAHAHAHAHAH! - Riu como um louco, era uma felicidade genuína, o pouco que se encontrou com Kuina não conseguiu decifrá-la por completo, apenas viu uma cachorrinha perdida com um pingo de astúcia. - Sabe, eu estou guardando um ressentimento à respeito de Kuina desde que ela me escondeu que uma das pessoas desaparecidas deu sinais de vida em outra dimensão, o que mais ela poderia saber sobre os outros? - Apertava os dedos entre a palma, rindo mais. - HAHAHAHAHAH! Caralho, essa vadia teria essa capacidade ou melhor... CORAGEM? - Era inadmissível, Kuramoto foi manipulado por Akado ou está sendo por Nimura? Awashi desde cedo o deixava fora de assuntos dessa estirpe, agora ele entendeu a razão. - Na real, seu cientista de bosta, eu estou pouco me fodendo pra isso, eu faço o que acho certo e ninguém me dirá se eu posso ou não, eu mesmo vou confrontar essa mulher se ela estiver com vida, no entanto, se houver um golpe para abdicá-la do poder, eu farei parte, como um membro exclusivo da divisão de assassinatos e espionagem, eu também fui um cãozinho da Central, mas tudo porque eu gostava da sensação de matar, era divertido, mas aos poucos se tornou entediante, armadilha ou não, o prazer que essa missão me deu é o que eu procuro para essa patética vida. Me diz, Nimura Kishö, diga exatamente a razão dessa conversa, eu sou um burro e egocêntrico shinigami, mas as experiências que eu tive no submundo me deram a malícia necessária para entender essa situação, se é um lado que você quer saber, eu estarei no que me dará mais oportunidades de ver minha espada tirando o sangue dos mais arrogantes e falsas imagens de heróis carregando o brasão de Capitão, esse é meu único desejo por hora, uma revolução ou melhor... UMA LIMPEZA DOS INÚTEIS QUE PASSARAM VERGONHA NAQUELA MERDA DE DESERTO. - O humor mudava repentinamente, mas, as revelações sobre Kuina fizeram o jovem questionar se ela realmente é a santa e inexperiente imagem de Comandante que apresentou, afinal, antes de tudo ela era uma importante aliada para encontrar Tsujikaze Awashi.

- Outra coisa, e claro, não estou exigindo isso, mas... o ex-capitão da segunda divisão está morto? -

Era como se uma lâmpada tivesse acendido aos arredores como em um desenho animado, após um entendimento repentino, ignorante e enganado a respeito do que realmente se tratava, caiu na real. - Hm, não é surpresa para você, mas desde quando percebeu que eu entendi essa merda errado? - Descontraiu, acompanhando Nimura para fora do recinto. - Não me resta mais nada além de acreditar em suas palavras por hora, no entanto, se eu serei preso para esperar um julgamento, preciso de algum tempo. - Dedilhou no cabo da zanpakutö, ansioso.

- No entanto, quando isso acontecer eu não irei dizer uma palavra contra Akado Kuina, até com meus próprios olhos e ouvidos analisar e escutar de sua boca suas reais intenções, não irei delatá-la, até seu pronunciamento oficial, peço que apresente a carta apenas se ela não assumir a responsabilidade por ter me enviado para lá. - A expressão volvia para aquele tédio, como se não esperasse mais nada daquele lugar ou daquelas pessoas, o divertimento havia acabado quando sua espada transpassou e partiu em dois o corpo do Segunda Espada, por um longo tempo, sabia que não sentiria mais um prazer fenomenal, apenas um pingo de esperança. - Será divertido, Nimura Kishö, sabe... Se os olhos dela me provarem o que você me disse, eu não conseguirei me conter, se o objetivo é tirar ela do poder, talvez eu farei isso tomando sua vida. - Era natural, era assim que teria de ser, era difícil nutrir empatia com qualquer coisa, uma vez classificado como alvo, morto teria de ser.

Por uma última vez analisou os apetrechos exacerbados daquele recinto, tentando entender a utilidade de cada um, não que importava muito, mas chegou em um interesse momentâneo. Os olhos entreolhavam Nimura e sua equipe, e volviam para frente, para a saída.

- Que seja, no momento tenho assuntos mais importantes do que investigar Akado Kuina, desde minha luta, há algo que preciso fazer por mim mesmo. -

Avançou para a saída sem olhar pra trás, era o segundo encontro com o cientista louco, no final, a Central 46 só conseguiu arrumar mais inimigos em comum, era reconfortante ter alguém corajoso para enfrentá-los da sombra e diretamente, talvez, ainda houvesse esperança para o jovem assassino trilhar seu caminho na espreita.