A reunião dos capitães acabava com a abrupta manifestação de uma poderosa pressão espiritual na Soul Society. A comandante saia às pressas, ordenando que os presentes comandassem suas divisões a patrulharem e verificar se, além da maior fonte de reiatsu que exalava de uma posição específica, havia mais alguma ocorrência na Soul Society. Não se passavam mais do que alguns minutos quando encontrava meus oficiais se organizando no salão principal; ordens de Aika: em casos de alerta, todos oficiais presentes devem se organizar na área comum. O oficial de maior posto deve manter o controle até que as ordens do tenente ou da capitã fossem emitidas.

Ao passar pela porta Mariko e Ken se aprontavam em me recepcionar com uma saudação respeitosa; meu coração se aperta. Quarta e Quinto oficiais; com a saída de Komei para assumir a nona divisão e minha subida para o posto de Capitão ambos poderiam subir de posto, mas nenhum deles sequer tocaram no assunto. Sei que todos sentiram a perda da capitã, mas assumo que eles entendem que ela sempre fora mais do que apenas uma líder para mim. Suspirei aliviado antes de abrir um breve sorriso e agradecer em voz baixa. – Como todos sabem estamos em estado de alerta. A fonte de maior emissão de reiatsu já está sob investigação das divisões que estavam mais próximas, então apenas peço que dois esquadrões façam uma busca em nosso território e garantam que não existe mais nada infiltrado. Caso encontrem qualquer atipicidade reportem a mim imediatamente. Mariko e Ken serão os responsáveis por dar andamento com a varredura. – Finalizava mirando os dois oficiais, assentindo com a cabeça e dando as costas, me direcionando aos meus aposentos.

Quanta coisa ao mesmo tempo; agora, em completa solidão e em meio ao silêncio conseguia processar tudo. Minha postura foi péssima; os capitães presentes provavelmente perceberam meu nervosismo pela ocasião, principalmente os mais experientes. Além de que eu não esperava o desenrolar da situação e toda a história envolvendo Aika. A escolha de Kuina era realmente a melhor? Não sei se deveria questionar isso agora; meu único objetivo deveria ser não ser um peso à Satoru na missão, além de claro, trazer algum resultado. Dois capitães a menos dentro da Seireitei não poderia ser em vão. E... O silencio. Lissandra nunca se mantinha quieta; seus sussurros estavam sempre presentes, fossem me criticando, aconselhando ou se opondo as ideias que passavam pela minha mente, ela sempre estava ali. Desde que Aika fora citada... Isso era um incômodo que eu deveria resolver logo.

Spoiler:

Sentado de costas para a entrada de minha sala, voltado para a grande janela aberta observava o céu enquanto a leve brisa levava as nuvens brancas que pintavam a tela azul no horizonte; era curioso pensar que meio ao pandemônio que abarcava o mundo nesse momento uma cena tão calmante era tão facilmente encontrada. Sinceramente era mais fácil observar o passar do tempo admirando o ambiente do que de fato voltar meus pensamentos a tudo que nos sucedia; até olhar a minha mesa com alguns dos relatórios não finalizados de Aika chegava a ser difícil.

Meus pensamentos eram interrompidos ao perceber que alguém adentrava minha sala. Ainda de costas inclinava levemente meu rosto e voltava meu olhar por cima do ombro direito, mesmo sabendo que isso não me permitiria enxergar quem entrava pelo encosto alto da cadeira. Quando ouvi sua voz ressoando pelo ambiente finalmente pude identificar quem se apresentava: Jigoro Matsumi.

Quando me virei para recebe-lo foi como se, por um segundo, um filme fosse reproduzido na frente de meus olhos. Pelo decorrer de todo o tempo que estive na sétima divisão sua aparência nunca mudou: os cabelos alvos bem penteados para trás junto do bigode e barba igualmente brancos e aquele olhar sempre severo. Era de se esperar que dentro de um esquadrão nem todos os integrantes se aproximariam de mim, mas sua distância desde minha pouca idade era evidente quando se comparado a grande maioria dos oficiais. Sua voz soava tão áspera quanto sempre e sua expressão de seriedade não me parecia novidade. – Matsumi-San, claro, entre, acomode-se. Sua visita é no mínimo curiosa e no momento em que nos encontramos devo admitir que me traz certo nível de apreensão. Sobre o que gostaria de falar? – Finalizava enquanto mantinha meu tom firme, porém de forma moderada, tentando demonstrar uma genuína preocupação com o que quer que o homem tivesse a dizer.  

Spoiler:

O oficial aceitava o convite adentrando a sala e por alguns segundos pareceu contemplar o ambiente. Dado ao seu tempo dentro da divisão acredito que ele já estivera ali com pelo menos três capitães; além de mim, Aika é claro e o finado marido de Komei. Pensando assim me parece que o tempo não foi tão gentil com a sétima divisão. Como se respondesse exatamente meus pensamentos Jigoro expressava com suas palavras o fato de anteriormente ter tido reuniões exatamente como aquelas naquele mesmo local.

O homem prosseguiu com seu raciocínio. Apesar de sua distância acredito que qualquer integrante da sétima divisão teria ciência dos laços entre a antiga capitã e eu. Nossa relação nunca fora apenas de capitão e subordinado e, apesar de sua maneira gentil de tratar todos dentro do divisão, qualquer um poderia perceber a maneira como ela investia em meu crescimento. Apesar disso o final de sua frase conseguiu me chocar em certo grau. Nunca imaginaria que Aika teria aberto a outros oficiais assuntos como o selo que adornara minha nuca por tanto tempo.

– Bom... Sinceramente me surpreende você ter conhecimento de um assunto tão... Intimo. – Respondia de maneira pensativa. – Mas... O que quer dizer com liberar “completamente”? Não sei quando conversaram ou qual seria o contexto, mas Aika removeu o selo quando fui eleito seu tenente. – Finalizei demonstrando sincera curiosidade sobre as intenções do oficial.

Spoiler:

Quando me posicionei o homem demonstrou certo desconforto e logo indicou que talvez uma caminhada fosse mais apropriada para a situação; não recusei, me colocando sob meus pés e acompanhando o oficial.

No inicio a situação chegava a ser um pouco incômoda. Desde que Aika decidiu que eu deveria ser seu tenente tenho trabalhado minhas habilidades sociais; nunca tive muito conforto ao jogar conversa fora, mas sempre fui de fácil convívio e pessoas que se comunicavam bem sempre tiveram muita facilidade em desenvolver relações comigo. Por outro lado, personalidades tão travadas quando a minha própria talvez encontrassem certas barreiras para tal, visto que, se nenhum dos lados tomar uma iniciativa, não existe papo. Para meu alívio Jigoro logo deu andamento com o raciocínio que havia iniciado anteriormente. Uma frase dava inicio a um tópico completamente desconhecido por minha parte; apesar do suspiro que o homem emitia, um breve sorriso passava por minha face. No final das contas Aika realmente tomava a divisão como uma família; talvez não tivesse um único oficial que conseguira fugir dela. Apesar dos pensamentos que rodeavam minha cabeça era difícil não notar a expressão do homem ao observar pelo canto dos olhos. No final das contas me parecia que eu não era o único a sentir sua ausência. Era interessante sentir que aos poucos o homem se abria comigo; entretanto, nada disse. Apesar de distante, nas poucas oportunidades de troca que tive, ele sempre pareceu uma pessoa pensativa; talvez aquelas frases fossem uma oportunidade para sentir o que se passava dentro de seu ser mais do que comunicar a mim.  

Em meio a reflexão o silêncio se prolongou até que chegamos a uma clareira existente no ambiente verde que se estendia próximo ao território da sétima divisão. Olhando em volta era possível ver alguns animais que se distanciavam conforme adentrávamos o local aberto. O clima era agradável e a luz que passava por entre as árvores altas dava conta de tornar o ambiente receptivo. O silêncio era quebrado quando Jigoro se pronunciava mais uma vez. Pela frase que emitia ele citava Aika. Indicava que a única maneira de quebrar o selo há muito marcado em minha nuca seria através de minha própria vontade e que ele sabia do método a ser utilizado para tal. Respirei fundo; era bastante coisa ao mesmo tempo. Ao que tudo indicava então... Antes da própria carta de indicação ela já havia orientado o oficial Matsumi de como o selo poderia ser quebrado? Mais um indício de que ela tinha alguma noção do que aconteceria. Mas... Por que não me avisar? Balancei a cabeça afastando tantos questionamentos com a última frase do velho. Minha zanpakutou... Nesse momento sentia falta de seus questionamentos. – Bom... Não sei se ela está tão disposta a me ajudar no momento, mas... Claro. – Finalizava tomando a espada pela empunhadura e me colocando em posição de combate.

Spoiler:

Dando início ao que quer que fosse acontecer, o oficial liberava sua zanpakutou. Sua forma era única e não se moldava em uma nova lâmina, mas em uma luva que envolvia sua mão, adornada por anéis que subiam por seu braço direito. A forma incomum em que a espada se revelava me trazia certa curiosidade; um dos assuntos que sempre me interessou era a forma revelada das espadas dos shinigami. Um ser que supostamente nascia da própria existência de cada um que manipulava a arma e carregava consigo um poder completamente único e moldado especialmente para aquela alma. Quando colocamos isso em palavras chega a ser poético; a revelação da zanpakutou a um terceiro é algo que soa quase intimista. No campo de batalha então abríamos uma parte de nós mesmos para nossos inimigos antes que eles fossem ceifados por aquela demonstração de intimidade.

Explicando superficialmente a habilidade de sua zanpakutou Jigoro avançava em uma fração de segundo; pressionei a empunhadura de minha espada com mais força com a aproximação inesperada, mas o homem não buscou um combate direto. Tocando minha têmpora o velho se despedia e o ambiente começava a sofrer alterações severas. Tudo mudava; o chão antes verde era coberto de um gelo tão límpido que refletia o céu acima, que agora emitia clarões que iluminavam tudo em volta. Jigoro agora se encontrava a alguns metros de distância, a minha frente, como quem aguardava alguma reação. Muita coisa passava em minha cabeça ao mesmo tempo. O lugar era... Surreal. Apesar disso sentia as palavras duras que seriam sopradas em meu ouvido em ocasiões normais; deixar que qualquer um se aproxime de tal maneira e ainda consiga tocar meu rosto seria inaceitável para ela. – O que... Onde estamos exatamente? Sua zanpakutou... Esse lugar é minimamente real? – Apesar da confusão agora começava a entender um pouco do porquê de Aika ter confiado tais informações ao oficial. Talvez ele não fosse a pessoa mais aberta da divisão, mas essa habilidade... Ele realmente podia ver através dos outros.  

Spoiler:

Sem nem uma palavra sequer o homem iniciava seu caminho até mim. Abaixo do gelo liso sob nossos pés uma luz avermelhada irradiava sobre nós: magma. Jigoro antes citara algo sobre sua zanpakutou revelar o interior de um indivíduo, então sinceramente se aquele gelo fosse um reflexo de meu ser não se quebraria tão facilmente, por isso não temia, apesar do material parecer intensificar-se conforme o velho se aproximava.

Quando uma sombra cobriu seu corpo por completo algo mudou. Como se um vulto tomasse seu lugar lá estava ela. Visivelmente mais alta, a rainha gélida tomava o lugar do oficial. Apesar de ainda ter dúvidas sobre a veracidade do que acontecia ouvia as palavras serem ecoadas pelo ambiente, dessa vez não usando o usual tom de crítica, indo muito além disso. – Ora, por favor. Se perdeu em algum canto de minha... – Iniciava minha contraposição a suas palavras duras, porém minha habilidade verbal se esgotava quando Lissandra dava lugar a um fantasma ainda presente. – Capitã... – Sussurrava enquanto ela vociferava palavras ainda mais ásperas.

Qual era o propósito disso tudo? Isso era o que estava guardado dentro de mim? Qual seria o ponto em evocar sentimentos que deveriam estar enterrados nas mais profundas camadas de meu ser? – Acredite, eu já me autodeprecio o suficiente para que caia em provocações desse tipo. O que quer que seja, se tem algo a me dizer, seja direto. – Anunciava claramente com um tom frio e irônico, enfatizando a última frase. A mudança de postura era clara; apesar de não ceder a fúteis provocações como as anteriores, a sensação de que estava sendo desafiado gritava dentro de mim. O sentimento era como se eu estivesse no campo de batalha agora encarando quem que eu nunca imaginaria como um inimigo.

Spoiler:

O que quer que fosse aquela sombra que me encarava era algo a mais. Lissandra jamais ficaria quieta frente a palavras como aquelas e sinceramente eu não tenho certeza que um dia poderia usar aquele tom com Aika. Como se fosse um borrão sendo apagado e refeito pela existência, em segundos o vulto tomava mais uma forma – minha própria. Apesar de me reconhecer, seu olhar era diferente. Quando reflito penso em todos meus defeitos, antes mesmo que qualquer qualidade se passe por minha cabeça, mas acredito que meus olhos nunca foram tão vazios quanto os daquele reflexo que me encarava.

Mais uma frase, mais um ataque. Quando em combate meu temperamento sempre foi um tanto flexível, mas dificilmente conseguiam me tirar do sério; já fazia um século que o que eu sentia ali não me ocorria. Fosse todas as provocações vindas de vozes tão familiares ou a união de os últimos acontecimentos eu conseguia sentir dentro do deserto gélido que geralmente abrange minha alma uma nevasca se formando; raiva. Com uma aproximação imprevista a cópia quase sussurrava em meu ouvido que deveria finalizar minha vida ali, logo em seguida me atingindo e fazendo com que eu recuasse alguns metros com o impacto.

Me agarrei com o braço direito no gelo enquanto ainda era arrastado pelo impacto, logo me levantando. Um suspiro escapava de minhas narinas enquanto há poucos metros uma voz feminina bradava por socorro. Meus olhos retomavam o foco para ouvir mais uma provocação enquanto observava uma oficial do sétimo esquadrão sendo içada por minhas próprias mãos. – Já chega... – Sussurrei mais para mim do que para qualquer outro. Não emiti mais uma palavra. O magma inquieto abaixo de meus pés começava a se refletir em meus olhos conforme eu sentia minhas emoções quase explodindo ao exterior. O ambiente gélido começava a se tornar ainda mais inóspito enquanto meu corpo era tomado por uma aura azul escurecida e minha reiatsu fazia com que uma leve neblina começasse a tomar o ambiente. – Vamos encerrar essa zombaria! – Bradava em alto e bom som enquanto me movia em direção a imitação. Não haveria mais conversa; independente do que fosse, sem piedade. Tão rápido quando ele eu me aproximava; já em meio ao ar e com a zanpakutou pronta em minha mão direita, preparava um chute com a perna direita, enquanto girava o corpo e bracejava a espada para cima a fim de amputar-lhe o braço sem piedade alguma, me preparando para tomar a oficial em meus braços logo em seguida, caso o ataque fosse um sucesso.

Considerações:

A cópia que se colocava frente a mim não reagia e sangue manchava o ambiente enquanto a oficial caia sobre meus braços. Me afastava poucos metros para ver uma nova sombra tomando o lugar que anteriormente mimetizava a mim. – Aika-Sensei... – Sussurrei tomando consciência do que acontecia. Minha expressão somava-se em um misto de nervosismo e tristeza; aquela postura... Eu não me lembrava de em mais de dois séculos ter visto ela daquele jeito.

A vida de um capitão não é fácil e como Jigoro havia levantado há poucos minutos Aika também sentia isso, mas olhando agora parecia fazer questão de ocultar suas dificuldades de mim. Entendo sua vontade de demonstrar-se forte, mas... Talvez o maior resquício de humanidade em um shinigami seja a maneira como nos sentimos para com os outros. Encarar seu semblante me fazia amaldiçoar o velho por ter me colocado em uma situação como essa.

O corpo da garota que estava em meus braços tornava-se frio enquanto dava lugar a um montante de neve e o que anteriormente era uma série de insultos dava espaço a frases que me atingiam múltiplas vezes mais forte do que as provocações. A frase de Aika somada a todas as vozes de meu passado. Senti meus olhos marejarem, mas me segurei e... Novamente, depois de uma vida, senti algo que não sentia desde a primeira vez que vi minha capitã: frio. A sensação fria de meus braços ou da ponta de meus dedos era comum a mim, mas o que eu sentia agora era diferente. Por um segundo me vi novamente deitado em meu antigo quarto, com um pano quente sobre minha testa e sentindo aos poucos a vida sendo emanada de mim, junto do calor que envolvia meu corpo em meus últimos suspiros. Cai em meus joelhos me sentindo tão indefeso quanto naquela época. Sentindo um aperto no peito, como se meus sangue fosse lentamente substituído pelo próprio gelo, encarei o que seria Aika. – É... Não sei se eu vou conseguir continuar sem você... – Até mesmo falar era doloroso. – Talvez meu destino seja... Te acompanhar mesmo na morte. Eu não me lembrava de como é estar tão... sozinho. – Finalizei a frase que saia quase como um sussurro.  

Considerações:

Um sussurro gélido ecoou do fundo da minha mente e preencheu o ambiente. – Você faz falta... – Sussurrei em resposta, ainda com um tom doloroso na voz. A alguns metros era possível ver uma mudança na cópia de Aika – um sorriso. O ar escapava de forma abrupta por minhas narinas enquanto uma mistura de tristeza e felicidade passavam por meu rosto. Minha capacidade de segurar as lágrimas ia ao seu limite e um único filete de água escorria de meu olho esquerdo. Então, por um segundo, pude ouvir sua voz próxima de meus ouvidos. “Liberte”.

Com um sobressalto me virei para então ter uma visão completamente diferente da mulher que eu tanto respeitava; sua versão que eu realmente conhecia. Sua postura por si só emitia uma aura de poder. Suas palavras eram expressas da mesma maneira como eu me lembrava: firmes, porém inundadas com sua bondade. E dessa vez pareciam carregar ainda mais poder; era como se me envolvessem com minha própria história. Era como se desde aquele primeiro encontro ela estivesse me preparando para esse momento.

Me levantei e me coloquei frente a ela, olhando diretamente em seus olhos, tão cinzentos e profundos quanto sempre foram. Era impossível ignorar tudo que acontecia e eu conseguia sentir em meu rosto um semblante de tristeza, porém ao mesmo tempo, enquanto andava em sua direção era como se um filme passasse frente a meus olhos. Duzentos e sessenta anos acompanhado por ela e o sentimento de que eu poderia nunca mais vê-la pesava profundamente em meu peito. Mas... Ainda assim foram duzentos e sessenta anos. De aprendizado, risadas, tristezas, perdas e ganhos. Independentemente do futuro, ela estaria comigo. Me aproximando dela a abracei com toda minha força; o perfume de flores continuava tão vívido quanto sempre. – Obrigado. – Sussurrei uma última vez e então senti como se algo dentro de mim mudasse. No local onde o selo antes repousava pude sentir uma pequena ardência e a dor que antes envolvia meu corpo parecia ser expelida, subitamente emitindo uma onda de energia a contra o ambiente, levantando a neve por onde quer que passasse.  

Algo em mim mudou naquele instante. Era difícil explicar, ia além do que é possível colocar em palavras, mas eu sentia. Algo crescente que parecia sair do âmago de minha existência e envolvia todo meu ser. Estranhamente eu me sentia renovado; era como se até mesmo a enorme carga de sentimentos que eu carregava há pouco tivesse sido carregada com o vento e mais do que nunca eu sentia que não estava sozinho. Elas estavam ali, tão presentes como eu mesmo.

Considerações:

Uma última brisa soprava por meu rosto e eu podia jurar que sentia uma mão tocando minha pele até que então em um piscar de olhos já não me encontrava naquele lugar. Em algum momento eu havia caído pela clareira que o velho oficial havia me trazido anteriormente e ali estava desde então. Jigoro por sua vez estava em pé, no mesmo local de antes, como se nada tivesse acontecido.  

Piscava algumas vezes conforme o sol que penetrava a copa das árvores invadia o ambiente e irritava meus olhos, como se eu tivesse acabado de acordar de uma longa noite de sono. A visão do velho parecia diferente. Difícil explicar, mas algo parecia ter mudado. O pensamento de que ele pudesse ter uma mínima noção do que acontecera agora há pouco em meu inconsciente me envergonhava de certa forma, porém aquela era uma postura que talvez eu devesse deixar para trás. Independentemente do que qualquer um pensasse, tudo aquilo é quem eu sou. Me segurei na mão do homem e levantei rapidamente, ouvindo suas palavras, que reforçavam meu pensamento anterior. Refleti por um momento. – Acho que agora entendo o porquê de Aika sempre ter confiado tanto em você. É bom saber que tenho pessoas como você para me auxiliar na divisão. Obrigado por isso. São tantas coisas acontecendo que eu realmente precisava me relembrar de quem eu sou. – Finalizei com um breve e honesto sorriso. Algo em mim realmente havia mudado. É difícil colocar em palavras, mas mesmo minha postura já não era a mesma. A Soul Society precisava de mim e a partir daquele momento eu me sentia realmente pronto para atender ao seu chamado.

Considerações: