Durante minha estadia na Soul Society, eu conheci diversas pessoas com potencial muito acima do meu. Dentre os corredores da Seireitei, é normal eu encontrar Shinigamis cujos poderes são capazes de me causar desconforto e até mesmo calafrios. A reserva de energia espiritual que temos dentro de nós é responsável pelo alcance de nossas façanhas, e eu sempre invejei aqueles que se especializaram diretamente em todo o poder que continham dentro de si. Eu tentei ser uma dessas pessoas, moldei toda minha forma de lutar para uma abordagem mais especial. Me distanciei de espadas, lanças e outras ferramentas, tentei me entregar completamente a tudo o que molda o meu ser, mas eu ainda sinto que há muito o que aprender; muito o que melhorar.

Há muitos anos eu percebi que o ar pesava nos corredores da sétima divisão, e essa pressão que pairava sobre o local se intensificava de acordo com a distância que estava da sala do Capitão. Com o passar dos dias eu fui notando essa pressão, que atordoava meu físico e aturdia minha movimentação, tornando-me moderadamente mais lenta conforme atravessava os corredores. Eu me perguntava o que exatamente estava acontecendo, e cheguei a investigar se alguma armadilha havia sido colocada no local, mas nada encontrei. Quando conversei com Himari sobre o ocorrido, ela me disse que também sentia aquilo, e que outros Oficiais haviam reclamado da mesma sensação, e que acreditava ser algo dentro da sala do Capitão.

Certo dia, imersa na curiosidade, eu resolvi me aproximar mais e mais da fonte daquela pressão, e sanar minhas dúvidas de uma vez por toda. Ao entrar na sala de Yuichi, o encontrei deitado sobre os próprios braços, em um sono profundo. Eu não quis atrapalha-lo em seu momento de descanso, mas bastou que eu o visse para perceber que ele era o ponto principal de toda aquela pressão. Possivelmente, a sua Reiatsu era tão poderosa que criava uma redoma ao redor de sua posição, afetando todos os presentes nos seus arredores. Isso provavelmente é algo que ele consegue controlar quando consciente, porém por conta de todo trabalho de um Capitão, ele simplesmente desmaia de cansaço, e com isso seus poderes saem de controle.

A partir desse dia, eu comecei a tentar resistir àquela pressão. Enquanto não tinha nenhuma tarefa de Shinigami para cumprir, eu desfilava pelos corredores da sétima divisão, dando voltas simples ao redor da sala do Capitão. Era comum que os Oficiais começassem a me chamar de louca ou desocupada, porém minha má fama precedia tais insultos, e há muito já havia aprendido a lidar com o ódio alheio, então simplesmente os ignorava e tentava resistir à fonte de toda aquela pressão.

Durante os passos, eu tentava me desligar completamente do mundo externo, focar-me naquilo que pulsava em meu interior, clamando para que resistisse àquilo que vinha do exterior. Eu tentava imaginar meu corpo como um receptáculo, e aquela energia como um fluxo constante dentro de mim, como uma chama, como uma força... Eu tentava fazer com que crescesse, que criasse garras e que resistisse à força de Yuichi, mas por longos dias, nada parecia adiantar.

Por muito tempo pensei em desistir; quase me entreguei a crer que simplesmente estar em contato com a pressão espiritual de Yuichi não fosse o suficiente para tornar a minha mais forte, mas eu não tinha nada melhor para fazer, e ainda viria o tempo que travaria inúmeras batalhas ao lado do meu Capitão, então precisava, pelo menos, aumentar nossa afinidade e reduzir a estranheza que sentiria no momento em que entrasse em contato com a liberação de seus poderes. Eu precisava me tornar mais forte, para proteger aqueles que me são queridos e para conseguir conquistar uma posição de influencia nesse mundo, e com essa mentalidade eu não consegui parar.

Fazia mais de uma semana desde que comecei a tentar resistir à pressão espiritual de Yuichi, e seus horários de sono estavam cada vez mais bagunçados, o que dificultava minha rotina de treinamentos. Eu comecei a cronometrar o tempo que gastava para dar voltas completas em sua sala, considerando até mesmo os milésimos de segundos para notar alguma melhoria. Eu apenas caminhava, não corria e não me cansava, então estava confiante de que se tratava de um esforço pequeno para um treinamento duradouro, mas que no fim seria compensado.

As semanas se tornaram um mês, e meus esforços tinham recompensas aparentes, pelo menos para mim. Ao caminhar lado-a-lado com outros membros da divisão, eu sempre os deixava ligeiramente para trás cada vez mais próximo que estivéssemos da sala de Yuichi. O cronometro mostrava que eu realmente estava conseguindo me mover mais rápido quando influenciada pela aura de sua Reiatsu, mas ainda estava longe de ser minha velocidade normal, eu ainda tinha muito o que melhorar.

A imagem interna que tinha sobre minha própria reiatsu começava a se moldar, eu a via inicialmente como uma figura abstrata, com a silhueta de um pássaro, e agora moldava-se mais e mais em uma Águia, com suas garras lutando contra a influência da Reiatsu de Yuichi, porém suas asas ainda eram pequenas demais, e somente a continuação de meu treinamento poderia aperfeiçoar a forma como via minha própria energia.

Árduos dois meses se passaram, em que eu minuciosamente investigava os momentos de sono de Yuichi e aproveitava de sua pestana para acostumar-me à presença da pressão de sua Reiatsu. Durante a primeira semana do segundo mês eu finalmente consegui me mover em minha velocidade normal dentro dos corredores da sétima divisão, mesmo quando estava frente à sala de Yuichi. Eu conseguia sentir minha Reiatsu crescer durante todo aquele período, conseguia alterar a forma como via a mim mesma e minha energia, e até mesmo atribuir uma forma imaginária a ela.

Estar diante de uma pressão espiritual tão poderosa diariamente era um treinamento capaz de influenciar minha própria energia a rebelar-se, sendo instigada ao crescimento para não ser inferiorizada por uma influência maior. Eu gostava de pensar que foi isso que me fizera melhorar, por ser exatamente a forma como me sentia até então. Agora, eu ansiava pelo dia em que entraria no campo de batalha ao lado do meu capitão, onde eu poderia finalmente mostrar a ele que havia treinado o suficiente para não ser afetada pela magnitude de sua presença.

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