— Como poderia um mero Numero como eu arrancar sangue de um dos mais prestigiados Fraccións de Las Noches? Os boatos de nosso duelo espalhavam-se pelo castelo como fofocas cotidianas do mundo humano. Por onde quer que eu passasse, olhares eram jogados para mim. Todos eles continham algum grau de malícia, desconfiança ou desprezo. Eles simplesmente não podiam acreditar que um mero Numero de baixa estima como eu houvesse lutado de igual com um Fracción. Muitos dos arrankar ali presentes se encontravam em suas posições há anos; Se não décadas, e eu, que não estava no castelo há mais de cinco dias, já havia provado o quão patéticos eram aqueles desprovidos da bonança sagrada destas terras ermas. Como um natural do Hueco Mundo, era previsível que minha constituição e capacidades estivessem infinitamente além das dos hollows ordinários ali presentes.

— "Aquele pivete lutou com Uraume? Só pode ser uma piada." — Um hollow conversava com outro, gargalhando. — "Veja só a cara de boneca dele. Vai me falar que aquilo tem alguma chance contra o Fracción? Ele deve estar se achando demais e espalhando mentiras." — Disse outro, mais distante. — "Urgh...Mais um novato se achando o todo poderoso por se tornar um Numero? Deveríamos dar uma lição nele." — Ditou um terceiro arrankar.

Todos eles, através dos corredores, estavam contra mim, por mais que houvessem alguns que genuinamente acreditavam que a notícia poderia ser verdadeira. Eu pouco me importava. Não esboçava qualquer tipo de reação, e apenas seguia o meu caminho através dos gigantescos corredores do castelo do submundo. Estava ligeiramente incomodado por possivelmente ter criado tantos inimigos ao mesmo tempo, pois acreditava que talvez isto pudesse prejudicar a minha reputação em futuros eventos. Não estava disposto a arriscar possíveis promoções por isto, então, no momento, buscaria conter as minhas ambições. Eu não tinha motivos par ame preocupar com seres tão fracos, afinal de contas.

— "A diferença de um Numero para um Fracción é tão grande assim? Pensei que fossem parte de uma elite, mas pelo visto, os Numeros são a ralé de Las Noches. Adquirir grandes feitos com um cargo baixo parece gerar algum tipo de furdúncio...Me diz muito sobre as capacidades pífias destes seres." — Pensei, jogando olhares para cima, decepcionado com o fato de estar preso a um título tão patético. — "Preciso me livrar desta posição. Eu não pertenço a uma classe tão baixa." — Finalizei, desta vez, ditando a frase.

Mas aqueles homens não pareciam estar dispostos a me deixarem ir tão facilmente.
Não até que sugassem toda a verdade de mim.

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— E enquanto eu queria me livrar deste baixo cargo, outros queriam se livrar de mim. Adentrei um grande salão - Espaço entre as torres da 10ª e 9ª Espadas, respectivamente, onde alguns arrankar se encontravam. Haviam mesas e pequenos pontos de interesse ali presentes, carregando cerca de Quatorze Numeros no total. Quase 20% da força dos Arrankar de baixa classe haviam se conglomerado para mero entretenimento, mas o clima de festejo fora abruptamente mudado no instante em que meus pés pisaram naquele lugar. A atmosfera tornou-se mais densa, e eu cessei os passos ao perceber que alguns daqueles homens e mulheres começaram a se tornar hostis, liberando suas pressões espirituais, mesmo à distância, em uma tentativa pífia de intimidar-me. Apenas os observei, sem retirar as mãos dos bolsos de meu traje, e sequer cogitando sacar a zanpakutou. Com uma expressão que mesclava confusão com certa cautela, acabei por, inconscientemente, contrair os músculos de minhas pernas e braços, a fim de me preparar para um eventual conflito. As dobras nas roupas, causadas pela contração violenta dos músculos se tornavam visíveis, para o espanto de alguns dos arrankar.

— "Ora ora..." — Disse, olhando ao redor, com um leve sorriso. — "Parece que a festa não está muito animada hoje, não é? Por acaso estavam esperando pelo seu convidado de honra? Oh, mas que pena..." — Zombei da situação, claramente não me importando.

— "Você pensa que tem o direito de pisar nestes salões e se achar o maioral por nada? Espalhando mentiras e tomando nossos créditos...Não vamos deixar isso passar reto, seu desgraçado! Você vai morrer aqui, e agora. Este castelo não é uma casinha de bonecas, onde você pode fazer o que quiser. Vou te ensinar o que é ser um Numero!" — Um dos homens bradou, esmagando o copo que segurava na mão direita ao apertá-lo.

Seu ataque seguira quase que de maneira imediata. Eles realmente estavam se gabando de suas posições como Numeros, mas no fim, não passavam da mesma ralé de sempre. Eles, diferentemente de mim, eram incapazes de evoluir além de seus limites naturais patéticos. Me viam apenas como mais um na fila, por conta de minha recente entrada nas fileiras de Numeros, e por nunca terem ouvido falar de meu nome no passado. Quantos anos aqueles Arrankar tinham? Cem? Duzentos? - Pouco importava.

Nenhum deles tinha o necessário para me matar.

Esquivei-me de seu impulso voraz ao saltar para trás, destruindo as placas que compunham o chão do castelo ao me movimentar. Ainda com as mãos no bolso, me esquivei de todos os golpes adjacentes, quase enxergando seus ataques em câmera lenta, devido a diferença entre nossas forças e habilidades técnicas. Ele não era um lutador competente, talvez se encaixasse como um guerreiro de 9ª Categoria...Era risível que um ser tão fraco estivesse presente. Porém, ele não era o único: Um a um, os arrankars se levantaram, até formarem um grupo de sete Numeros.

Eles estavam prontos para aplicarem a sua vingança.

E pagariam caro por isto.

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— No momento em que se juntaram, pude ver seus sorrisos. Um a um, eles emanavam suas auras perturbadas, confiantes de uma vitória garantida. Nenhum deles tinha conhecimento de sua verdadeira forma, não tinham a mesma idade que eu e muito menos a experiência de combate ou genética avançada natural...E mesmo assim, gabavam-se de seus cargos pífios. Ao contrário de mim, eles não tinham ambições, não olhavam para o futuro. Estavam estagnados como subalternos de um servo de seu respectivo Espada. Não eram nada além de peões descartáveis de um gigantesco tabuleiro. Se uma ou duas peças caíssem, será mesmo que fariam falta ao rei? Numeros são facilmente substituíveis e sempre estão disponíveis a perderem suas cabeças. Existem hollows com poder acima da média de monte nos desertos, mas poucos têm valor o suficiente para se tornarem, ao menos, Fraccións. Essa é a diferença entre mim e eles: Minhas ambições me tornaram poderoso. Já eles, confortaram-se com sua situação.

— "Você estava errado, Uraume. Estes aqui não têm esperança e nem lutam por si mesmos. São bonecos...Assim como você." — Pensei, levemente flexionando as pernas para poder esquivar de novos ataques por mais uma vez. — "Vou lhe mostrar o que a minha ambição concedeu. Você pode ter um coração puro, mas eu fiquei mais forte com o mal!" — E então, abri um grande sorriso.

As veias de minhas panturrilhas saltaram, e todos aqueles Numeros avançaram de forma quase simultânea, todos golpeando com suas zanpakutos como uma interminável barragem de ataques que vinham de todas as direções. De frente, trás, lados e do céu: Não havia escapatória ou forma de contra atacar tal formação sem arriscar levar danos consideráveis, então tentei encontrar um ponto fraco. Esquivei-me de quantos ataques pude, ainda levando alguns cortes no processo, antes de ver que uma das arrankar, que era notoriamente mais lenta que seus companheiros, saiu da posição de ataque, criando uma leve abertura. Neste instante, utilizei o sonido para me deslocar para fora do epicentro dos ataques, e me virar rapidamente, utilizando as Balas com o dado indicador esquerdo para aflingir meus adversários.

A técnica caiu como chuva dos céus, assassinando, de forma imediata, dois dos arrankar mais fracos que ali se encontravam. Porém, logo na sequência, interceptei o movimento de escape de um outro hollow, pousando meu palmo destro sobre seu peito, e utilizando o Cero, criando um feixe de energia dourado que engoliu todo o corredor a sua frente, reduzindo mais dois arrankar a nada além de uma pilha de cinzas espirituais. Metade de suas forças haviam sido eliminados em menos de dois segundos.

01:38:22 segundos.

Seus cérebros mal podiam compreender tal velocidade. Porém, como instinto, os sobreviventes se afastaram, disparando, cada um, para posições diferentes, e virando seus rostos com total espanto.

— "Vocês não eram os Numeros fodões? Oras, eu sou só mais um merda de baixo cargo, assim como vocês. Por quê tanto medo? Qual a razão? Batam suas asinhas contra mim, eu estou ansiosamente esperando por isso..." — Ironizei o ataque.

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— Eles olharam uns aos outros, enquanto os demais Numeros que não haviam se envolvido no combate simplesmente permaneciam em seus lugares, com os olhos arregalados, não acreditando que aquele moleque minúsculo estava dando cabo de um grupo de Sete dos seus, relativamente experientes, companheiros. Sem ao menos sacar a espada, eu havia dominado o combate, e instaurado o medo em suas mentes. Os via suando frio, ainda mais quando decidiram se aproximar, ao centro do salão, um do outro. Ele tocaram suas espadas, aplicando força o suficiente para que faíscas começassem a saltar das pequenas aberturas entre as lâminas que se encontravam para carregar a força da pressão espiritual de todos aqueles homens, simultaneamente.

— "Você foi bem até aqui. Mas não importa mais o quanto é forte...Nós vamos matá-lo em um único segundo. O cérebro convencional possui um tempo reação médio de 0,5 segundos para enviar os sinais nervosos até as terminações mais extremas. Você não tem chance contra isso, Soma Cruz. Deu um golpe de sorte, e está se gabando de uma força que não existe. Quero vê-lo resistir a isso!" — Bradou a única mulher do grupo.

Então, eles vieram, juntos, acompanhados de uma grande aura espiritual.

[ 0,2 Segundos ]

Neste instante, meu corpo já estava preparado para agir. Mesmo que fossem velozes, ainda não se equiparavam a minha velocidade. Minhas pupilas se dilataram ao vê-los se mover, e meu campo de visão expandiu-se. Quase que de maneira imediata, suspirei levemente, concentrando minha energia espiritual para evitar aquela técnica com uma esquiva perfeita.

[ 0,5 segundos ]

E então, utilizei o Sonido antes mesmo que eles alcançassem a metade do caminho, mas ao invés de me afastar, eu avancei, sacando a espada de sua bainha e desferindo um corte horizontal em movimento que lhes rasgou na altura da cintura. Eles ainda continuaram correndo, sem esboçar qualquer tipo de expressão facial ou ao menos apresentarem um único ferimento, sequer. Meu ataque havia sido certeiro, limpo, e direto. Com aquele único movimento, atravessei-lhes.

Seus corpos partidos caíram ao chão, antes mesmo que a técnica pudesse ser concluída. Os outros Numeros olharam em completo choque, pois jamais esperariam um nível de técnica tão apurado vindo de um mero novato. Pensavam que eu era somente mais um abençoado por uma sorte desconhecida, ou talvez mais um peão a ser utilizado a favor dos Espada, mas estavam errados. Simplesmente guardei a espada em seu lugar, e retornei as mãos ao bolso, seguindo meu caminho através dos salões, sem jogar olhares aos Numeros.

— "Abracadabra, seus merdas." — Ditei, enquanto me retirava do local.

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