— Me perguntava, a cada dia passado, sobre os mistérios que ainda residiam por debaixo da grotesca penumbra do Hueco Mundo. Desde o meu honrado duelo contra Uraume, nada mais me chamara a atenção. Cruzar lâminas com um Arrankar tão poderoso me fez repensar sobre meus objetivos para o futuro, e talvez, no fundo, eu tenha amolecido um pouco. Enquanto os incontáveis Numeros espalhados pela fortaleza gargantuana discutiam sobre seus feitos e gargalhavam entre suas conversas casuais, eu me mantinha nos extremos do castelo. Me encontrava sobre a muralha colossal do palácio, observando o infindável deserto com meus olhos profundos. A reflexão do luar em minhas pupilas contrastava com o imensurável vazio que vos circundava além dos portões de Las Noches.

Os Espadas se mantinham nas torres, confortáveis em seu luxo e poder incomparáveis. O rei, enclausurado nos salões reais, pouco dava importância aos que estavam abaixo de si próprio. Fraccións rondavam os corredores, e os Numeros não pareciam muito preocupados com seus arredores. Eram tempos de paz no interior da fortaleza; Ela era dita como impenetrável, invencível. A força combinada de centenas de hollows da elite não poderia ser superada...Ou talvez...

— "Ah...Acho que estou pensando demais em coisas fúteis." — Suspirei, balançando as pernas enquanto me mantinha sentado sobre a muralha. — "É incrível o quão ínfimo sou diante este mundo. Um mero grão de areia, perdido nas misteriosas correntes que interligam a vida e a morte. Não posso me permitir ser apenas mais uma página de um capítulo da história. Eu não pertenço a um destino tão baixo." — Monologava a mim mesmo, reafirmo meus ideais.

A maioria dos Arrankar pareciam satisfeitos com suas posições atuais. Eles agiam como adolescentes mimados; Não possuíam código de honra ou conduta - E pouco se importavam com seus verdadeiros deveres. Acreditavam ser poderosos o suficiente, e portanto, não faziam questão de treinar ou buscar maiores posições. Impressionei-me com a idade secular de muitos dos Numeros, que ali permaneceram, como os baixos na hierarquia - A ralé, ainda que, em suas mentes egocêntricas, estivessem a se projetar como os mais poderosos e importantes da legião do submundo.

Continuei, então, a observar o deserto em minha frente. Nada acontecia - E continuaria a não acontecer. Este era o triste destino que acometia a todos nós, hollows. E mesmo assim, por alguma razão, éramos capazes de encontrar algo para continuar seguindo em frente? Soava irônico...Em um mundo de pura desgraça, haver esperança.

Não me agarrei a ela, uma única vez.

Tudo o que conheci foi o ódio.

O sangue.
A morte.
A guerra.
A desgraça.

Eu não precisava de mais nada. Eu não tinha nada, e portanto, também não tinha nada a perder.

Eu não era mais do que uma...Coisa...Não era mais do que um aborto da escuridão.

O feto maldito do Hueco Mundo. Seu primogênito sombrio. A encarnação de todo o seu mal.

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— O Juramento fraudulento de servidão ao rei era parte quase obrigatória de qualquer arrankar que se prezasse. Via, no dia a dia, atos que poderiam comprometer a imagem do soberano absoluto - Mas pouco importavam. Não pela gravidade dos atos, mas sim porque era a natureza hollow. Traição, inveja, luxúria, ganância...Os sete pecados e muito mais permeavam através dos corredores obscuros da mente de cada espírito aqui amaldiçoado por estas infindáveis areias. Eles vinham e iam, com ou sem objetivos, observando um céu negro que jamais zelaria por eles - Rezando por uma estrela morta que vos tinha trago nada além de uma perpétua e repetente era das trevas. O que os olhos deles já viram, que os meus não viram? Todo indivíduo era único, mas nossas memórias eram compartilhadas.

Dor, perpétua.

Meus olhos opacos e profundos começaram a rejeitar a luz da lua que brilhava sobre o céu negro, se tornando completamente negros durante alguns instantes. Continuei a balançar as pernas livremente acima das muralhas, sentindo a doce brisa da morte que praguejava a região. Milhares de hollows tentavam alcançar os portões de Las Noches - Eles guerreavam entre si, como animais selvagens. Os brutamontes que se sobressaíam continuavam não sendo um pouco mais do que bestas sanguinárias, e era justamente essa matriz - Este instinto, que me fascinava. Sentia o coração palpitar mais rápido de repente, enquanto minha pressão espiritual se chocava com a área de outras duas que pareciam ousar se aproximar deste portão, que por mim estava sendo guardado. Os olhos negros retornaram ao normal por mais uma vez, buscando, por toda a área, pela localização dos intrusos. Eram dois - Um era relativamente poderoso, já o outro não parecia nem ao menos ter o nível de um Numero mediano. Suspirei, jogando os olhares para cima enquanto deixava o corpo escorregar para a borda da muralha.

Caí.

De pé e com cabelos jogados violentamente ao ar, caí de uma altura de quarenta metros, mantendo as mãos baixas e a postura completamente relaxada. Porém, a exatos vinte centímetros do solo, concentrei a minha reiatsu abaixo dos pés, fazendo com que meu corpo parasse em meio a queda, erguendo uma grande quantidade de areia pela parada repentina. Então, quando estivesse completamente imóvel no ar, tocaria os pés no solo, bloqueando a passagem dos dois transeuntes de forma imediata. Minha zanpakuto ainda se encontrava nas costas, indicando que eu não estava - Ao menos naquele momento, demonstrando sinais de hostilidade. Minha figura andrógena e infantil talvez pudesse fazê-los ter uma tola reação de me subestimarem, mas já seria esperado. Eu tinha menos de 1,60 de altura, era como uma criança portando uma arma quase tão grande quanto eu mesmo - Uma situação cômica, que se afloraria com o abrir de um leve sorriso no rosto. O rosto que já parecia feminino, transformou-se cada vez mais. Não era minha culpa; A beleza tinha suas próprias adversidades também.

— "Vós que aqui entrais, abandonai toda a esperança." — Ditei, indicando que além daqueles portões, não haveria nada além de pura desgraça. — "É ousado que vocês venham diretamente aos portões de Las Noches. Centenas de Hollows, todos os dias, perecem pelas mãos hábeis dos guardiões destes portões. Não há nada para os fracos, se não a morte. Vocês não passam de aperitivos para os horrores que se escondem além das muralhas desta fortaleza." — Continuei, fitando-os de forma analítica e cuidadosa. — "É a fome de poder que lhes traz até este lugar? A fortaleza é impassível. Dêem as costas, ou pereçam sob a minha espada!" — Exclamei esta última fala.

Então, viraria levemente a minha cabeça para cima, exibindo o número 11 tatuado no pescoço. Caberia a eles tomar a decisão sábia de darem as costas, ou enfrentarem o seu destino, aqui e agora. De qualquer forma, eu estava farto de guardar estes portões e lidar com hollows patéticos. Ao menos, Arrankars me dariam alguma emoção. O velho parecia ser experiente, já o de longos cabelos alvos...Emanava uma aura estranha. Não conseguia descrevê-la...Era simplesmente...Peculiar.

Quem eram, afinal?

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