Um certo tempo já tinha passado desde a reunião com Kuina, e talvez agora fosse a hora fortuna para ir atrás do capitão Noboru, de fato nossa missão para o Hueco Mundo não seria fácil. Os Espadas estariam em pólvora pela recente ascenção assim como a recente invasão também não nos colocava em uma posição confortável. Talvez essa aparição surpresa tivera sido um prelúdio do que iria acontecer? Não dava para saber. Pensava em um instante em como Genro se portaria frente a tudo aquilo, lembrando um pouco dos doces dias junto dele, não havia um tempo ruim para aquele homem, enfrentava tudo com um sorriso e sem olhar para trás mesmo que custasse séculos esforço, esse era o homem com quem tinha casado.

Olhava no meu aposento para o kimono guardado dele por um momento passando a mão suavemente por ele tentando de alguma forma sentir o calor dele, era quase que instintivo lembrar do cheiro dele, dava lembranças, e era por essas memórias que eu deveria lutar. Então, já aprontada e dessa vez usando os trajes tradicionais dos shinigamis além da capa de capitã da nona divisão, deixava a guarda da divisão com o tenente e saia dali em direção da sexta divisão.

Ao chegar na mesma, reparava que alguns oficiais estranhavam minha presença e outros ficavam surpresos, sendo assim apenas caminhava até um deles e entregava um papel.


Assim esperava que o shinigami retornasse com a resposta e quando fosse anunciada minha chegada adentrava no recinto com uma leve reverência ao par. Sendo assim, me aproximava e entregava a ele outro bilhete que havia preparado no caminho.



Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

Os aposentos do capitão da sexta divisão eram bem diferentes do que eu imaginava, Noboru pelo que eu conhecera e vira parecia ser alguém bem mais fechado e pelo que ouvira parecia ser bem rigoroso com seus subordinados, o que levava a pensar que seus aposentos talvez fossem extremamente voltados ao pragmatismo. Todavia, algumas coisas daquele espaço chamavam minha atenção, a primeira coisa que entrava era reparar no fundo do lugar no jardim extremamente bem cuidado, o que fazia-me pensar se era Ohta que cuidava daquele pequeno Éden. O capitão da sexta então recepcionava-me e após sua primeira fala adentrava ao recinto e ao vê-lo oferecer o chá sorria em retribuição lembrando de sua provocação aos demais capitães na reunião “mesmo após as minhas palavras árduas, poderia tomar um chá normalmente com todos vocês” ou algo assim, de fato ele honrara sua palavra, e deveria ser por isso que Kuina depositara sua confiança nele.

Aceitava a bebida levantando um pouco o pires como sinal de agradecimento, aproximavam o líquido a minha boca e tomava um gole sentindo os aromas e o gosto. Jasmim? Não imaginava que alguém como Noboru poderia ser um apreciador desse tipo de sabor delicado, não parecia ser o estilo dele. Todavia, é nessas horas que aprendíamos a não julgar um livro pela capa. Sendo assim, caminhava até a escrivaninha do capitão me sentando na cadeira a frente e esperando pelo anfitrião. Repousava a xícara na mesa e logo voltava a escrever no bloco de notas.


Tomava mais um gole do chá e esperava pelo capitão, também gostaria de saber a impressão dele sobre o recente evento, afinal as águas pareciam ter começado a ficarem mais turbulentas.


Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

As palavras do capitão serviam de algum conforto, esperava que ele estivesse certo, se fosse apenas a ação isolada e boba de um Espada então não precisávamos ficar tão tensos e provavelmente nossa guerra contra o desconhecido seria mais fácil. Mas ainda parecia inocente pensar nisso, o tempo, os eventos recentes, tudo parecia corroborar para uma conjectura maior. Fechava os olhos por um momento, Noboru era um dos representantes do Gotei  13 mais velho dentre os capitães atuais, sua sabedoria era de fato algo a ser notado, talvez por hoje compensasse esquecer as segundas dúvidas e focar no objetivo que tinha me levado até ali: ficar mais forte.
Observava o capitão retirar a xícara da mesa e agradecia com um breve aceno de cabeça, ele tinha um gosto refinado apesar de tudo. Sorria em resposta ao ato. Assim, só nos restava o objetivo principal, ou talvez fosse a sobremesa daquele chá? Me levantava e deixava um último papel para o capitão.


Assim, ajeitava o meu Haori sobre os ombros desembainhava a zanpakutou colocando-a a frente e girando em noventa graus como uma chave, então o ar se distorcia e dava origem a uma versão diminuta do Senkaimon da qual todos os shinigamis já estavam bem acostumados. Logo, adentrava no mesmo sem me delongar mais.
O portal abria no Mundo Humano, já era de noite. Era a primeira a sair e então pisava na areia fofa ouvindo o quebrar das ondas nas rochas. A paisagem era de uma praia deserta, pelo que descobrira uma vez, aquele lugar se chamava Grécia, um dos lugares que Genro adorava fugir comigo de vez em quando. Era um lugar perdido, uma ilha distante da principal onde a população dali morava, era um lugar ideal para treinar, apenas não poderíamos exagerar.

Diziam os antigos shinigamis que a zanpakutou era mais que apenas uma espada, no passado era uma espécie de lâmina de energia, capaz de cortar tudo. Hoje eu não me via capaz de cortar qualquer coisa com ela, e isso me fazia pensar se não era o próximo nível. Se eu fosse capaz de cortar até mesmo um capitão, até mesmo a reiatsu de um capitão da Gotei 13 eu seria capaz de cortar qualquer coisa? Talvez.

Então, retirava meu Haori pousando-o delicadamente em uma rocha ao lado e continuava com o uniforme padrão dos ceifadores de almas.  “Devemos começar?” Pensava enquanto olhava para o capitão com um tenro sorriso. Deixava o vento passar por nós dois naquele momento tenso anterior a luta, ah conhecíamos bem aquele momento, éramos dois shinigamis, mas duas almas voltadas para o combate. Levantava a zanpakutou em guarda enquanto esperava o movimento de Noboru ou a primeira brecha dele.



Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

As ondas continuavam a atingir as rochas, a areia afofava conforme o peso do corpo ia contra ela e o mar parecia entrar em ritmo com a batalha. “Rápido!” Era o que pensava ao ver o capitão partindo contra mim e começar a desferir um corte vertical simples o que me fazia instintivamente levar a zanpakutou para cima bloqueando o golpe, mantinha ele naquela disputa de força por cerca de um segundo, encarando o capitão diretamente nos olhos, de fato ele não era fraco, essa força e essa velocidade pareciam fazer parte do estilo de luta dele. Deveria eu já liberar minha shikai e tentar atacar com mais força? Contra o estilo dele eu provavelmente teria alguma desvantagem a longo prazo, todavia o objetivo desse treino desde o começo fora cortar, não é? Ainda não era hora, eu deveria conseguir cortar sem a shikai agora, mais um pouco e seria a hora, porém eu tinha que me desafiar, tinha que conseguir.

Sendo assim, recuava com um curto salto e pousava sobre a areia fofa, sentindo meus pés afundarem um pouco nela. O terreno não ajudaria se eu ficasse defendendo para sempre, então me restava o ataque. Partia usando o shunpo para avançar com um salto em direção do adversário, pretendia usar minha técnica Suikawari, tentando atingir diretamente sua cabeça


Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

Noboru era muito mais resistente do que eu imaginava, veloz, resistente, onde estava a fraqueza dele? Meu ataque, como consequência dessa sua força, acabava por não ter efeito total, obrigando a me contentar com apenas um corte superficial no peito, o suficiente para uma cicatriz, mas ainda estava longe do ideal. Então, aproveitava essa pequena brecha me afastando e ganhando uma distância mínima e levando a zanpakutou em guarda na altura do rosto, com a ponta em direção do adversário. Observava a feição e ouvia as falas de Noboru, por um lado eu ficava satisfeita em saber que ele reconhecia o esforço, de outro, parecia que ele ainda não estava dando 100% de si, o que de certa forma me deixava frustrada, será que até agora isso era apenas uma brincadeira para ele?

Jogava o pé de trás para mais longe, mantendo uma base mais forte, e então notava que o treino iria subir de nível, o ar ficava mais denso e o mar mais agitado e uma pressão enorme invadia aquele lugar, de fato de longe a característica mais marcante de Noboru Ohta não era sua velocidade ou forte, era sua reaitsu. A pressão de certa forma me deixava desconfortável, mas conseguia lidar com ela e sentia que podia me mover, mas um tenente por exemplo com certeza estaria estarrecido com essa onda de energia. O nome dela era invocado, Kushisake. Esse era o nome de sua Zanpakutou. E reparava que em resposta a espada tornava-se escura, como uma lâmina feita de um minério preto e raro. O que ela deveria fazer?

Essa pequena cena me lembrava do passado, da primeira vez que enfrentara Genro, no mesmo local, o capitão relevou sua shikai chamada de Tensa Tensei, uma espada brilhante como o sol, que tinha propriedade defletoras interessantes, mas naquela vez sentira medo, não conseguia cortar a habilidade da Tensa Tensei, era como um escudo impenetrável, e lembro dele falando algo como “você se tornará boa com a espada quando conseguir cortar isso, até lá é mediana”. Ele era severo quanto a habilidade de seus subordinados, eu não era exceção. Será que eu conseguiria me provar?

“Se eu cortar essa escuridão, será que serei boa no caminho da espada, Genro?” Questionava meu interior então voltava minha concentração ao duelo. O capitão da sexta fazia um ato curioso, encostava a espada em seu peito sangrando e no instante seguinte era quase um flash, sua velocidade aumentara substancialmente e meu instinto acabava acompanhando o golpe que vira pelo flanco. Minha espada inconscientemente ia para a direita e batia contra a dele defletindo o golpe, me obrigando a girar o corpo e afastar com um salto. “O que é isso?..Ele ficou mais rápido?”

Me recuperando do salto, levantava e não via outra opção, conforme tinha dito ele não estava brincando, agora era sério. “Ruja, Shishi Zangyo” Dizia mentalmente enquanto dava um corte no ar. A espada tomava a forma de energia e seu cabo ia se alongando formando um longo bastão e a ponta se materializava como uma lâmina, formando uma lâmina e caracterizava uma Naginata. A minha shikai se relevava e com isso uma onda batia mais forte no mar,  o ar ao redor de mim  se afastava como se um leão rugisse, a maré parecia aumentar com nossas liberações e esperava que isso não denunciasse que estávamos ali. Assim, segurança a lança com a mão direita, puxava a esquerda para perto da boca e como se assoprasse, uma forma se incendiava em um fogo roxo e depois ia se moldando formando uma magatama, o objeto de energia então apenas saia das minhas mãos e ia para trás de minha cabeça, começando a circular as minhas costas em um círculo invisível.

Assim, eu segurava a arma com as duas mãos e estendia minha base, dando um longo salto em direção de Ohta e tentando ataca-lo com um golpe vertical usando a nova forma.


Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

Noboru tinha uma alta velocidade, isso era inegável, não só sua velocidade física como para pensar, percebendo a iminência do ataque seu movimento pendular o tirava da frente da lâmina da Naginata fazendo-a atingir o chão com força e provocando uma pequena cratera. Aproveitando esse movimento, o homem parecia fazer algo diferente de antes, pega uma das pedras e eu duvidava naquele instante se ele realmente a arremessaria. Porém ele fazia, o que eu não imaginava era que aquela pedra não se comportaria conforme o esperado. Sua velocidade aumentava como a de uma bala em direção da minha cabeça, obrigando-me a em um movimento súbito levantar a lâmina buscando atingir com a ponta dela a rocha. O ataque era lento demais e com isso atingia apenas uma parte da rocha o que a fragmentava em pequenos estilhaços, os quais vinham em fúria em minha direção acertando meu supercílio em uma pequena porção e causava um pequeno filete de sangue.

Antes mesmo de poder tirar esse sangue, Ohta não reduzia a guarda e avança novamente dessa vez com um corte horizontal. Meu corpo se movia por instinto, a Naginata ficava mais vertical deixando o cabo dela bater contra a espada do adversário, o som do impacto ecoava como o de uma onda batendo contra as rochas. “Ainda não...preciso cortar mais forte, mais rápido!” E assim recuava para trás girando a arma e ficando em posição de ataque.

Primeiro, ativava mais duas magatamas, somando-as com o círculo agora com três esferas roxas. Em seguida, avançava sobre ele com uma estocada rápida tentando desestabilizá-lo, ganhando terreno para logo na sequência segurar na arma com as duas mãos e ataca-lo horizontalmente com a técnica Agitowari.


Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

Noboru parecia estar à vontade com suas habilidades, sua atenção agora era redobrada devido ao uso da minha shikai, porém ele ainda parecia estar achando aquilo fácil de certa forma. Após o meu primeiro golpe via que ele conseguia desviar novamente jogando seu peso para o outro lado, a sua habilidade de aumentar a velocidade era particularmente irritante. Entretanto, percebia que sua resposta vinha em seguida. Ele levava a espada de lado e dela uma projeção de reiatsu começava a crescer. No mesmo instante, recuava minha lança abandonando-a e me concentrava para executar a técnica [i]Onibiri[i], a ideia era simplesmente cortar aquela projeção e então conseguiria passar ilesa. Todavia, era tarde mais. Quando notava ele já estava perto demais, sentia uma dor aguda percorrer todo meu corpo, imediatamente meu joelho cedia e ficava no chão de joelhos, cuspia um jato de sangue para frente e sentia o ardor na faixa do abdome abaixo dos peitos, sentia o líquido quente manchar o kimono preto e agora entendia por que o capitão da sexta divisão era temido.

Sem tempo de pensar, o adversário atacava novamente e o primeiro eu conseguia defender de forma tosca, sentindo meus braços sendo levantados enquanto sua espada vinha a cortar agora meu ombro esquerdo. Novamente um pouco de sangue saia e manchava a roupa, mas ainda assim o corte no tórax era o verdadeiro agressor. Sentia dor, uma dor mais profunda do que queria assumir. Será que eu deveria encerrar ali? Mas se o fizesse o que teria aprendido? Eu teria sido capaz de me superar? Não, ainda não era o suficiente, queria mais, queria mais cortes, queria ser capaz de cortar até a reiatsu daquele homem. Era hora de pôr tudo em jogo.
Lembrava-me de Genro em algum episódio, lembrava de estar treinando com ele, exausta, com machucados e não entendi naquele dia por que ele sendo meu marido me levara ao extremo sem ter dó. Agora eu entendia, ele estava me treinando para isso.

Cabisbaixa, reunia forças e fincava a naginata no chão, usando-a como apoio para me levantar. “Ban..” O ar subitamente tornava-se ainda mais denso e ia se aglutinando em volta do meu corpo como se estivesse me um mini redemoinho, conforme me levantava, as partículas se agitavam e começavam a produzir pequenos estalidos estáticos, o ar tornava-se mais quente ao redor de mim e então olhava diretamente nos olhos de Noboru com os orbes já brilhantes em um tom roxo. “Kai!” A naginata imediatamente respondia, encolhendo de tamanho e tornando-se feita de um material energético, não era um metal, mas era como pura energia, apenas com formato de uma zanpakutou tradicional. O ar tornava-se ainda mais rebelde e o mar batia mais forte contra as rochas, eu empunhava a espada e agitava-a contra o vento fazendo com que diversos choques percorressem o mar e as pedras atrás do capitão. “Shishi Zangyou -  Ô !”

Sim, eu estava disposta em ir até onde podia. Sendo assim, rapidamente erguia minha lâmina, sentindo a dor no peito, mas me concentrava e dava um primeiro corte vertical em direção do tórax do inimigo e em seguida um lateral buscando seu abdome. O corte imediatamente nada acontecia, mas na sequência Noboru podia sentir como se fosse algo vindo, como se algo projetado estivesse indo em sua direção ainda se não pudesse ver, e defendendo ou não o corte produzia um rastro elétrico, produzindo um intenso brilho no contato com o adversário.



Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

Minha bankai tinha um efeito melhor que o esperado, o capitão era pego de surpresa, não só pela dificuldade em defender os cortes como também pelo efeito secreto da técnica, os cortes estrelares tinham esse nome pois eram feitos de energia pura e no momento que o acertavam causavam um efeito de paralisia no reishi pelo excesso de energia dali esse efeito durava pouco, mas era o decisivo no duelo. Bom, isso seria verdade se talvez estivesse lutando contra um Espada, mas contra Noboru Ohta não parecia ser verdade.

Agora eu conseguia entender o capitão da sexta divisão, suas dúvidas não eram somente pela inexperiência de Kuina, eram por saber o quanto ela seria capaz de proteger a Seireitei, Noboru não era fraco e para seguir um capitão cegamente com certeza ele tinha que pensar que ela seria mais forte do que ele. Ohta duvidava da força de Kuina e por isso não conseguia a seguir cegamente. Esse meu pensamento era formulado enquanto observava o último ato do homem, sua feição agora era séria, mortal. Eu sentia aquela pressão absurda de reiatsu sendo liberada e compreendia: ele colocaria tudo em risco.

O ar se tornava quase suspenso e a noite ganhava mais um véu, um domo tomava a área em que estávamos e uma sensação enorme de pressão tomavam meus ombros, aquela sensação não era a reiatsu, era quase como algo a própria gravidade? Sentia meus pés sendo forçados para baixo, como se vidreiras me puxassem com uma força absurda, era difícil andar e meu estado também não ajudava. Conseguia sentir uma reiatsu monstruosa vindo de Noboru, então essa era a sua verdadeira forma? Essa era a sua verdadeira liberação?

Iatsu-Tekina no Sonzai, esse era um bom nome para aquela forma, de fato a presença ali era formidável e por outro lado confortava saber que a Seireitei tinha essa força ao seu lado. Do lado, eu ainda tinha que acabar com essa luta.

O capitão então mostrava sua primeira técnica, conseguia observar ele levantar árvores e rochas apenas com o movimento de sua mão, então meu palpite estava certo, sua bankai tratava-se de manipulação. Então quando ele lançava em minha direção me obrigava a firmar os pés no chão e erguer a espada, porém o golpe era interrompido. Talvez por dó ou por precaução? Não importava, os dois me deixavam irritada.

Notava então que ele mudava a estratégia, ao redor dele uma aura roxa tomava forma e o som fazia um som abafado como se estivesse sendo sugado, de fato, parecia que tudo ao seu redor, naquele pequeno comprimento ao longo de seu corpo, parecia bruxulear de uma forma estranha como se estivesse sendo sugado para dentro do corpo. Ainda não tinha certeza se o truque de Noboru era esse, mas agora não importava. O que importava era que se eu desejasse chegar até ele, tinha que cortar aquilo, cortar até mesmo o que pudesse ser absorvido, cortar o nada.

Lembrava das vezes que vira Genro fazer aquilo, antes pensava como impossível, todavia agora poderia fazer, sentia isso. Afastava um pouco meus pés, paralelos, respirava fundo tentando ignorar a dor e levantava a espada para o alto segurando-a com as duas mãos, o olhar focava apenas no capitão. Aproveitava aquele instante para respirar e me concentrar, me acalmava, sentia minha reiatsu, sentia minha respiração, conseguia ouvir os pequenos estalidos providos a partir da minha bankai e principalmente conseguia ouvir o rosnado do leão dentro da espada, ele desejava fazer aquilo, nós desejávamos.

A lâmina erguia por um momento liberava ainda mais energia, causando uma perturbação estática maior e então eu dava um passo para frente, liberando o corte e toda a energia contida nele.


Após esse corte tentava acompanhar o que acontecia, mas sentia a dor me invadir mais uma vez, toda a tensão gerada pela habilidade me pegava e acabava com que eu cedia a ela, acabava por cair de joelhos mais uma veze a bankai se desfazia, me obrigando a apoiar no cabo da espada ficando-o no chão antes de cair. Cuspia sangue mais uma vez. A visão se fechava e embaçava, obrigando-me a olhar apenas um ponto fixo na frente. “Não..”

Era só o que eu podia falar, mas sentia o corpo chegar no máximo e logo caia desmaiada.




Legenda:
- Fala em sinais –
”Pensamentos”

Não lembrava exatamente de onde estava, só lembrava que estava em duelo com o capitão da sexta divisão, e no instante seguinte a visão fechava, tornava-se penumbra até que o corpo cedia eu caia na areia. Não estava mais naquela praia, o cheiro era diferente, era o cheiro de maças? Lentamente abria os olhos e o cenário era outro, não estava mais de joelhos, mas sim deitada e ao invés do chão duro parecia estar no colo de alguém, a brisa parecia muito de um lugar refrescante e aos poucos conforme abria meus olhos conseguia observar o rosto daquela pessoa querida. – É você, Genro? Perguntava por um momento não percebendo a capacidade de falar novamente.

Levava minha mão e alcançava o rosto dele, tocava suavemente sua bochecha, sentia o calor daquela memória, ah como eu o desejava novamente, se eu pudesse realizar esse desejo. – Você está orgulhoso de mim agora? Perguntava enquanto via o homem sorrir. Será que eu tinha morrido? Será que esse seria o paraíso final? E será que eu havia cumprido meu objetivo e então essa era minha recompensa?

Ao pensar essas dúvidas o homem dava uma das suas clássicas risadas debochadas e sem falar mais nada levantava-se, me deixando apoiado em uma macieira, ele olhava para trás com um sorriso reconfortante e começava a caminhar. “Não!” eu pensava e estendia a mão tentando alcançar seu haori, chegava a tocar, mas me faltavam forças e então quando eu piscava não estava mais no paraíso.

Meu tronco violentamente se contraia e minha mão tentava alcançar o nada, a coberta antes cobrindo meu corpo caia no chão e uma lágrima também escorria do lado direito. A visão agora recobrada denunciava um local diferente do paraíso e imediatamente uma dor gritante me invadia, me obrigado a contorcer o abdome e imediatamente voltar para trás praticamente caindo com a cabeça no travesseiro. Levava as mãos para a região abaixo do peito e sentia o ardor, a dor era menos do que quando o corte fora feito e isso me fazia lembrar o instante, tinha sido um corte em tanto e talvez se não estivéssemos em uma luta amistosa aquele poderia ser meu fim, entretanto com certeza levaria uma cicatriz daquela experiência.

“Aqui..” era o que eu pensava quando notava que não estava em um sofá, parecia uma cama, o teto não era inusitado, mas tinha visto ele em algum lugar. Então, com certa dificuldade levantava meu tronco enquanto resmungava da dor sentida. Os olhos varriam o ambiente da direita para a esquerda, primeiro observavam um Haori destacado em uma moldura, e quando via o símbolo da divisão na vestimenta o coração acelerava um pouco e o rosto ficava mais corado. “O que o capitão vai pensar agora?” Não só tinha desmaiado e dado trabalho para ele, mas provavelmente roubara algumas horas de descanso em sua cama enquanto ele estivesse onde quer fosse.

Assim, vencia minha displicência sendo punida pela dor sentida quando me ousava a levantar, segurava na zanpakutou primeiro usando-a de apoio até que consegui me erguer e passo a passo ia até a porta fosca de vidro abrindo-a para o lado e dando de cara com o capitão da sexta. Não sabia o que falar direito, me desculpe? Obrigado? De todo modo, só conseguia reagir com um leve aceno de cabeça e ao fazer isso notava também o estado desajeitado em que estava, as roupas brancas de quem estava sendo recuperada, o cabelo todo desarrumado e sem nenhuma maquiagem, com certeza era o fim da reputação como beldade.



Legenda:
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”Pensamentos”

O capitão Noboru felizmente parecia bem melhor da luta, de fato tínhamos ido talvez um pouco demais, mas era notório que se fosse para escolher um vencedor era ele. Isso talvez deixasse claro para mim o porquê que Kuina considerasse a diferença entre nós dois e deixasse claro que Ohta era um veterano, de fato, muitos capitães teriam extrema dificuldade em combater ele e seu poder era totalmente condizente com seu cargo.

Aceitava o convite do homem e com cautela se sentava na cadeira oferecida, em seguida pegava a xícara e tomava um gole do chá e maravilhosamente minha garanta era umedecida pela bebida, sentia um alívio imediato e de fato um chá quente era um dos melhores caminhos para apaziguar lutadores.

Pousava a xícara na mesa e então observava Noboru e depois o ambiente, e por fim não aguentava a curiosidade. “Aquele Haori, é de seu antigo mestre?“ Perguntava escrevendo em um dos papeis aguardando a resposta e por fim apenas sorria para o outro terminando de escrever: “Então, desejo ouvir o que tem a dizer capitão, suas habilidades estratégias devem ser tão boas quanto suas habilidades de combate”.

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Bashiki Ahara, eu já tinha ouvido esse nome antes. A muito atrás diziam que o capitão da sexta divisão era um homem de habilidade excepcional, enviado diretamente em Ayatto nas piores missões e nos casos mais críticos, suas habilidades de combate eram lendárias e seu nome ficou conhecido como um grande capitão. Lembrava-me de quando criança ter ouvido esse nome entre as famílias nobres. Outro ponto alto da tarde era saber do passado do capitão, nunca sequer imaginara que ele vinha de algum distrito do Rukongai, seu trejeito não denunciava que não tivera educação formal desde o começo, ou melhor, Ahara deveria tê-lo treinado à exaustão após decidir adotá-lo como discípulo. Nossas histórias eram muitas distintas, e isso deixava curioso de pensar se Kuina pensara nesses detalhes desde o começo, ter diversas visões de uma mesma realidade e diversos poderes poderiam dar a ela o melhor do esquadrão, ainda mais no momento que estávamos vivendo. A última frase do capitão me deixava reflexiva também, nesse ponto estávamos de acordo, Genro tinha decidido abandonar seus status para viver a eternidade comigo, mas esse amor lhe custou a vida, ele era totalmente capaz de deter o inimigo, mas escolheu a morte para me proteger.

Então, começava a ouvir o capitão em seus planos e estratagemas. Do que tinha pensado anteriormente uma parte era verdade, sua shikai e bankai tinham a ver com habilidades de manipulação e em especial com a gravidade, mas a novidade era a capacidade dela, tanto sua Shikai quanto Bankai pareciam bem além do que eu pensava. Em primeiro, sua shikai focava-se em alvos individuais enquanto sua bankai era mais focada em área. O custo disso tudo eu podia imaginar que era sobre reiatsu, tanto ele quanto eu tínhamos a duração de nossas bankais agravada pelo quanto conseguíamos gastar de reiatsu. De fato, Noboru tinha uma pressão e uma reserva muito grande, todavia não era infinita. Em outras palavras, quanto mais rápido conseguíssemos derrotar os inimigos ou fugir, melhor.

Minhas habilidades giram em torno do zanjutsu, não sou extremamente habilidosa em uso da reiatsu. Mas você está certo nos dois pontos, minha shikai, Shishi Zangyo, é capaz de aumentar minha força física além de tomar a forma de uma Naginata, posso invocar até cinco magatama e cada uma delas me concede mais força física. A bankai é capaz de paralisar os inimigos e consigo cortar a matéria algumas vezes, pelo fato de ser uma espada de pura energia, estranhamente é como se eu cortasse a matéria a frente, não é uma projeção ou um rastro, é apenas um grande corte. Fora isso, consigo somar minhas habilidades na espada. Sendo sincera, nunca tinha conseguido fazer aquele corte antes, então pode considerar que cortar sua barreira foi uma sorte capitão.

Escrevia com um leve sorriso e então pegava o chá tomando mais um pouco dele e na sequência voltando a escrever.

Desconheço as habilidades de Kuina, mas creio que não podemos contar com ela, na verdade acho que quanto menos combatermos lá será melhor, estaremos no território inimigo e eles terão a vantagem. Em todo caso, nossas habilidades têm grande potencial, porém grande custo. Não consigo manter a minha bankai por muito tempo, então se tivermos de lutar teremos de ser rápidos. Podemos manter essa estratégia de você conseguir desacelerar o inimigo e eu tentar atacá-lo com mais força, acho que esse plano vai abordar a maioria dos Espadas, mas se tivermos algum inimigo muito rápido ou capaz de simular os Kaidous, teremos de usar nossas bankais e tentar acabar com aquilo o mais rápido possível.

Parava por um instante e pensava um pouco.

Como última cartada podemos usar o cenário a nosso favor, podemos tentar derrubar algumas paredes de Las Noches e usar a bagunça para fugirmos mais fácil.

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Baixas. Essa era uma palavra que evitávamos pensar de vez em quando, ainda mais nos últimos tempos. A Gotei 13 tinha perdido muito com os recentes sumiços e com os ataques causados pelos inimigos em outros tempos, diversos nomes e lendas haviam sumido. Acontecimentos internos recentes também levaram diversas almas do Rukongai a voltarem para o ciclo de renascimento. Por onde olhávamos havia baixas, e esse sangramento não parecia estancar tão cedo. Desse modo, perder Kuina em uma reunião com o Rei Hollow seria impensável, inconcebível, o fim da Gotei 13 como instituição e possivelmente colocaríamos em xeque a estabilidade da Soul Society.

O plano deveria ser rápido, deveríamos ir lá, falar com o novo Rei Hollow sobre os desaparecimentos e saímos, sem batalhas, sem gastar tempo demais. E falando de tempo, de fato, ambos eu e Noboru merecíamos algum tempo de descanso. “Deixo as notícias para Kuina a seu cargo capitão. Muito obrigada pelo treino ” Escrevia por fim no papel e deixava-o para o capitão, terminando o chá restante na xícara.

Então, me levantava pegando a zanpakutou e a colocando na cintura, ainda havia bastante a treinar, bastante a melhorar. Agora eu sabia que chegara em um novo nível, mas longe da maestria que conhecera com Genro, eu deveria me tornar mestra. Todavia, o corte que fizera contra a Totatsu Funo denunciara algo claro: minhas habilidades haviam evoluído, eu era capaz de cortar tudo, todavia precisava de costume e refino em alguns pontos.

Olhava por um momento para minha mão, apertando-a como se estivesse querendo agarrar algo e pensava nos acontecimentos recentes, o sumiço de Wing, a situação de Kuina, o equilíbrio das almas. Havia muito a perder. Assim, fazia uma leve reverência ao capitão Ohta e me retirava dali, indo para meus aposentos e ao devido descanso.


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