Rose
— Nenhum relatório foi informado a cerca de três dias, Nobara-sama. Além disso, não foi possível localizar sua atual posição ou rastrear seu reiatsu, acredito que o oficial possa estar em perigo e devemos enviar reforços imediatamente. — informava Hikari, uma oficial recém admita no esquadrão. Ela se referia ao paradeiro de um outro oficial, Keito, ele tinha sido enviado para uma missão de reconhecimento em Tokyo, era seu dever encontrar e localizar um estranho pico de pressão espiritual que estava acontecendo na cidade já algum tempo, no entanto já se passaram três dias sem que nenhum novo relatório fosse entregue, uma obrigação que Keito jamais desprezaria.

Por mais que fosse uma responsabilidade comum de uma tenente designar certas missões aos oficiais, eu não conseguia ignorar o peso da minha escolha, se algo houvesse acontecido a Keito, eu seria a culpada. O enviar sozinho a Tokyo, uma cidade tão grande, com tantos humanos, um verdadeiro chamariz para o que estivesse por lá, talvez se eu tivesse me atentado melhor aos detalhes, nada teria acontecido. — Tudo bem, prepare o senkaimon imediatamente. Eu irei pessoalmente em busca de Keito. — Hikari não conteve a surpresa, ela esperava seu próprio envio ou de outro oficial, mas era impossível ignorar que aquilo talvez já fosse algo maior do que o previsto, pessoas estariam em risco e agora um membro do meu esquadrão.

— Mas senhora... o capitão está ausente... quem ficará a mando do esquadrão? — questionou a oficial. Era de fato uma dúvida válida, com a constante ausência de um superior, qualquer que fosse a missão que eu me designasse significava a ausência de uma liderança, mas não havia o que se preocupar. — Está tudo bem. Partirei imediatamente, o esquadrão está sobre completo controle e funcionamento. Me limitarei a um prazo de quarenta e oito horas, caso não o encontre, retornarei e mobilizarei um grupo em uma missão de maior risco. Qualquer problema que surgir me informe diretamente, certo Hikari? Confio em você. — conclui, levantando de meus aposentos e tomando a bainha de minha zanpakutou, a fixando em minha cintura.

Alguns poucos minutos se passaram, o senkaimon foi aberto por outros oficiais, poupando minhas energias para o que me aguardasse em Tokyo. — Keito... eu estou a caminho. — sussurrei atravessando ao portal.

Rose
Foram poucas as vezes em que estive no mundo humano, mesmo assim eu encontrava um certo fascino em sua existência. Os humanos estão constantemente preocupados, vivendo o dia a dia como verdadeiros fantoches, trabalhando para um proposito superior que nem mesmos eles conseguiam entrar em um consenso coletivo sobre quem ou o que é de fato esse propósito, no entanto ainda encontravam determinação mesmo em meio a situações impossíveis ou miseráveis.

Eu passeava entre eles, notando suas particularidades e interesses, era possível diferenciar que poucos de fato pareciam demonstrar alguma capacidade espiritual, mas alguns poucos ainda pareciam exalar uma fagulha de energia ao redor. Foi em meio a essa primeira caminhada que senti o primeiro sinal daquela energia, ao atravessar o que era conhecido como criança, encarei seus olhos e por um milésimo de segundo fui invadido com uma pressão espiritual estrondosa, abalando-me rapidamente.

Virei-me em sua direção, mas não a encontrei mais, perdendo-se em meio a multidão. A procurei, agindo de maneira até mesmo ríspida com os demais humanos, mas de nada adiantou, ela havia sumido. Quando me virei novamente a frente, todos haviam desaparecido, o céu tinha escurecido e longe eu normalmente vi a criança, com um olhar vermelho e um sorriso perturbador.

— Você será minha janta, shinigami. Nos encontraremos essa noite, você saberá onde e quando. — ao fim de suas palavras, encontrei-me novamente na multidão, com uma respiração ofegante. Não tinha se passados pouco mais de algumas horas e eu já havia o encontrado, não importava quem fosse aquela criança, tudo seria resolvido ainda nessa noite.

Rose
Quando o sol deixou o horizonte, a lua iluminou a noite. Estava na ponta de um arranha-céu, encarando Tokyo em vigília. Era praticamente impossível vasculhar toda a cidade em busca de Keito, mesmo assim o buscava, uma tentativa que era inútil, sua presença era indetectável, não havia sinal de que sequer teria acontecido um combate espiritual naquela cidade, era um verdadeiro mistério. De repente, uma misteriosa névoa havia começado a se formar pelo sul, mas logo surgiu também nas demais direções, avançando e engolindo a cidade por inteira.

Segurei a empunhadura da minha espada, pronto para se jogar em meio a névoa, até sentir aquela presença, aquela pressão. Ela vinha do céu, uma força que parecia crescer mais e mais a cada momento. Busquei por algo naquela direção, mas não encontrava a nada, até sentir aquela gélida névoa alcançar meus pés, o que em segundos já havia coberto até mesmo meu rosto.

Quando me atentei novamente, a presença já havia trocado sua direção, agora ela estava próxima e por mais que tivesse sacado a arma para aparar o seu golpe, não havia sido suficiente. Fui arremessada longe, atravessando um prédio ao lado, pousando em um escritório que parecia vazio.

— Shinigami... essa cidade pertence ao meu mestre, deixe-a imediatamente. Senão levarei você de oferenda a ele que nem fiz com o outro... — a criatura surgiu pelo buraco que havia se formado na parede, era uma aberração de corpo azulado, pernas de galinha e asas de morcego,o hollow não parecia demonstrar dificuldade em sua fala, ele não agia em um simples impulso, assim como suas palavras diziam, ele seguia ordens.

— Então você foi o responsável pelo desaparecimento de Keito? Não será necessário mais nenhuma palavra. Matarei a você essa noite e aguardarei ansiosa pelo paradeiro de seu mestre, para então matar a ele também. — respondi, posicionando a zanpakutou em minha frente.

Rose
Nem mesmo um hollow sobre ordens de um superior resiste a provocações tão diretas, ofensas que feriram não somente a ele, mas também aquele que o ordenou aquela cidade. A criatura avançou freneticamente, bradando em seu ataque. Minha espada estava posta ao ataque e defesa, arranhando suas garras que tentava de forma falha me atingir, a criatura atravessava ao meu flanco e em um giro eu a surpreendia, atingindo-o em cheio em suas asas, arrancando um grito de dor que alarmaria qualquer um que o pudesse escutar.

— Criatura patética. — minha raiva não era expressada somente através das palavras, Keito havia sido ceifada por aquele monstro e agora ele receberia a mesma penitência. Meus ataques eram ritmicamente frenéticos, um seguido do outro, sem permitir abertura para que a criatura revidasse, seus gritos de dor, raiva e ofensa apenas intensificavam a cada novo ataque, mas eu não me importava, eram completamente ignorados por minha determinação.

A criatura caiu ferida, ofegante, sequer podia imaginar que algo como aquilo havia de se cansar. Mas, naquele estado, um pensamento veio a cabeça. — Como? Como Keito foi derrotado por essa criatura? — não havia justificativa, Keito era um excelente oficial, tinha conhecimento de sua shikai e facilmente lidaria com uma criatura tão inferior.

— Você não seria capaz de derrotar a Keito... diga-me, onde ele está? — por alguns segundos uma fagulha de esperança surgiu em meu peito, ele não tinha derrotado Keito, o que quer que ele tivesse feito, definitivamente Keito ainda estava por aí, se o tivesse feito tinha o absolvido e estaria muito mais poderoso do que demonstrava e mesmo assim, em seu estado atual não seria capaz de muito, imagina no momento de seu confronto com ele.

A criatura alçou um curto voou com suas asas machucadas, erguendo-se e me encarando com aqueles olhos demoníacos que escapavam de sua máscara. — Keito? Você diz aquele shinigami?! Ele foi atraído ao meu mestre, assim como você, a neblina consumirá a tudo. — suas palavras foram como uma flecha. A neblina não tinha invadido muito daquele escritório, mas toda a cidade ainda estava coberta e enquanto poupava a vida daquela criatura inferior, não poderia lidar com o que fosse aquilo.

Em um ataque de misericórdia, a espada rompeu dos céus a terra, dividindo a criatura em duas. Aos poucos os lados de seu corpo foram desintegrando em partículas de reiatsu, sua alma perversa finalmente estava livre e pronta para descanso. Caminhei ao buraco na parede, encarando Tokyo, a neblina não demonstrava sinal algum de fraqueza, ele não era o feitor dela, ainda havia algum inimigo... mas onde?

Thorn
Até quando você vai descartar sua própria vida dessa maneira, Rose? Você conhecia um pouco de Keito, suas habilidades e sua capacidade, por mais que seja a tenente dele, ele ainda estava próximo do seu nível de poder, ele era tão esforçado quanto, treinava todo dia, cumpria suas obrigações no melhor tempo possível e mesmo assim você acredita que por conta de sua posição deve simplesmente se arremessar a essa neblina? Não permitirei que vá de encontro com a morte hoje, entendo os seus desejos e encontraremos, juntas, uma forma de realiza-los, certo?

Ela não vai me responder. Assim como eu nunca responderei a ela.

Afastei-me do buraco, notando que a névoa aos poucos invadia mais ao local. Anteriormente ela tinha tocada a minha pele, era fria, não parecia queimar e nenhum sintoma havia surgido desde então, coloquei a mão novamente sobre ela, reconfirmando o fato de que não era algo tóxico ou agressivo, pelo menos não de forma imediata. No entanto, senti uma leve fraqueza sobre a minha mão naquele instante, ela não parecia danificada e não parecia ser um cansaço físico, mas o que seria?

Subitamente uma quantidade exorbitante invadiu ao pequeno escritório, me colocando contra a parede enquanto tentava evitar o contato constante da neblina sobre a pele, mas era inútil. Direcionei um murro contra a parede do local, abrindo um novo buraco e me afastando, mas logo a névoa atravessou os dutos e encanações do local, invadindo ao prédio inteiro. No entanto, quando tocou aos meus pés novamente, recuou, agrupando-se a minha frente e revelando uma aparência quanto incomum, a de um hollow evoluído, um arrankar.

— Você o matou? Que pena, dessa vez ele não conseguiu sobreviver até a minha chegada. Eu gostava dele, era obediente e não tinha ganancia ou sede por almas, sempre me entregava as melhores que encontrava e ficava com as mais humildes. Você é a tal Nobara? O outro shinigami me avisou de sua vinda. — a criatura em minha frente não carregava nenhuma máscara em seu rosto, relevando seu sorriso perverso desde o momento de sua chegada. Não havia intensidade espiritual no ambiente, mesmo assim sua postura era ameaçadora o suficiente, enquanto o escutava, apenas um restante de névoa parava sobre meus pés.

— O que você fez com Keito? Onde ele está? — não me restava esperança de sua vida, naquele ponto, de frente a um arrankar, eu já tinha certeza de sua morte, no entanto eu precisava de tempo, aquele momento era crucial e uma falha minha podia significar a minha própria morte.

— Keito? Era esse o nome dele? Eu o devorei, é claro. Mas admito, ele foi um oponente digno, se não tivesse esperado tanto tempo... — o homem continuava, revelando um sorriso cínico.

— Esperado? O que ele estava esperando? — retruquei.

— Bom... ele acreditou que não precisava usar suas habilidades máximas, então batalhamos um contra o outro usando apenas nossas espadas. Quando ele finalmente revelou suas habilidades... já era tarde, eu já havia ganho. — a sua pequena revelação veio acompanhada de uma risada alta, que aos poucos inundou novamente a sala, sua névoa parecia tomar a todos os espaços restante, mas ainda era possível enxerga-lo sem muito esforço. — Senhorita Nobara, você será minha refeição essa noite? — questionou, sacando sua arma.

— Keito... você será vingado. — respondi com minha zanpakutou em mãos. Avancei contra meu malfeitor, chocando nossas espadas em um golpe afiado, as lâminas se encontravam e o som do choque espalhava repetidamente, como se nenhum fosse capaz de atingir um ao outro, mas havia algo estranho, pois o arrankar parecia confortável com aquele momento. Keito tinha perdido pelo mesmo motivo, eu não podia cometer o mesmo erro, mas o que não estava enxergando?

Afastei-me, ofegante, sentindo minha pressão espiritual enfraquecida. Aquele instante, uma revelação surgiu, era claro, esse era o efeito da névoa, ele drenava minhas energia, mesmo que lentamente, era o suficiente para que aos poucos, em um combate lento, ela se esgotasse. Keito também deve ter notado, mas para ele já era tarde e não parecia que as coisas seriam muito diferentes para mim.

Um estrondo foi escutado, e uma corrente de ar invadiu a sala recuando toda a névoa. Era Hikari, segurando sua zanpakutou em mãos e acompanhada de outros dois oficiais da oitava divisão. — Senhora, você está bem? Fomos informadas de uma névoa perigosa tomando a Tokyo, as pessoas aos poucos foram desmaiando e uma energia perigosa foi detectada. — naquele instante, mesmo que descumprindo suas ordens, Hikari talvez tivesse salvado minha vida.

— Quatro shinigami? Até mesmo eu sei o momento de me retirar. — confessou o arrankar, afastando-se para dentro de uma garganta. Hikari colocou-se à frente, apontando sua espada pronta para um golpe, mas com um simples gesto permiti sua partida. — Eu cuidarei disso... outra hora. — ordenei.

Naquela mesma noite retornei a Soul Society, com o auxílio dos oficiais. Hikari retornou comigo, mas os outros dois ficaram para vigília da cidade, por mais que algo me dissesse que aquele arrankar não apareceria muito em breve. Muitas das pessoas desacordadas não foram mortas, por mais que demorassem para se recuperar daquela noite, Tokyo ainda estava bem e por um curto período segura.