Dentre as variadas artes de combate utilizadas pelos Ceifadores, aquela que sempre tive maior interesse e aptidão foram os Kidou, também conhecidos como Artes Demoníacas. Consistindo em magias de efeitos diversos que são conjuradas com encantamentos, elas são divididas em três classes: Hadou, o Caminho da Destruição, com grande poder ofensivo, e Bakudou, as Magias de Vinculação, de valor defensivo e de suporte, e por fim o Kaidou, o Caminho do Retorno, repleto de magias curativas. Dentre essas, foi o Bakudou que sempre atraiu a minha atenção. Por conta do meu estilo de combate mais defensivo, a capacidade de criar imensas barreiras e selos de proteção para resguardar não apenas a mim, mas também os meus aliados.

Por conta do Capitão Harley ter um grande interesse nas Artes Demoníacas, sua biblioteca pessoal possuía alguns livros com estudos e pesquisas mais raros sobre Kidou e, com sua permissão, eu tive acesso a uma parte do seu material sobre Bakudou. Tão logo o recebi, meus estudos logo se focaram em assimilar a maior quantidade de conhecimento teórico — e posteriormente prático — sobre o assunto.

Dividido entre Barreiras e Selos, as Magias de Vinculação raramente são capazes de ferir alguém diretamente. As Barreiras, meu maior interesse, podem ser usadas para diversos propósitos. O mais óbvio deles é se defender de ataques alheios. Outro é impedir que indivíduos indesejados entrem em um determinado espaço, normalmente para proteger algo ou alguém. Alternativamente, essa mesma barreira de limitação especial pode impedir que inimigos fujam de um espaço e se tornem alvos mais fáceis. Existem aquelas mais específicas, capazes de esconder Reiatsu e camuflar a presença de terceiros. Independente do objetivo, esse ramo do Kidou certamente é o mais flexível dentre os três.

É óbvio que eu não poderia deixar esse aspecto tão incrível de lado.

considerações:

O primeiro ramo de utilização das Artes de Vinculação são as Barreiras. Barreiras, segundo o material do Capitão Harley, consistem em energia espiritual focalizada em formas sólidas de energia. Essa energia canalizada pode não apenas ter várias formas diferentes, como círculos, cubos e até cones, mas também várias cores a depender da técnica utilizada ou da vontade do seu utilizado. Elas são defensivas em sua essência e podem proteger apenas em uma direção, no caso de barreiras bidimensionais, ou em várias ao mesmo tempo, no caso de barreiras tridimensionais.

O livro mencionou sobre isso, mesmo que eu já tivesse percebido àquela altura, mas aqueles adeptos do caminho do Bakudou costumam ter uma boa noção geométrica e consequentemente espacial. Geométrica por causa da forma que as barreiras são criadas e por acabarem pedindo por formas perfeitas. É de se imaginar que uma barreira deformada possa encontrar naquela deformação a sua fraqueza. Noção especial também se mostrava de incrível importância, sobretudo para barreiras tridimensionais: durante um combate, não se existe tempo para calcular exatamente o tamanho das barreiras a serem criadas afim de proteger quem precisa ser protegido. Assim, instinto nascido sobretudo da experiência se torna indispensável.

Por fim, o livro citava um bom domínio sobre a própria reiatsu do conjurador como imprescindível: a força de uma barreira depende sobretudo do poder de quem a conjura. Barreiras fracas são facilmente destruídas, enquanto barreiras fortes podem durar por anos — até séculos e talvez milênios — sem sucumbir. Um post-it amarelo ao lado desse trecho, provavelmente anotado pelo Capitão Harley, mencionava que barreiras criadas por sangue nobre são ditas como incapazes de serem destruídas por aqueles de menor status. De minha própria percepção, eu assumi que aquilo era mais um rumor que uma verdade de fato. Para mim, não fazia sentido status social ser relevante no poder das Artes Demoníacas.

Por fim, barreiras podem ser preparadas com antecedência para serem ativadas posteriormente. Ideal para pegar invasores de um território desprevenidos, essas barreiras também encontram o seu valor na guarda e proteção de objetos importantes, por exemplo; e a Soul Society deve ser repleta destes, por isso a importância da Corporação Kidou e sua especialidade nesse tipo de coisa.

considerações:

Então, para explicar isto, como funciona o reiatsu, é meio como tentar descrever para cego ver azul ou surdo ouvir uma música. Tem o conceito, mas a prática e percepção dele é mais importante. Energia espiritual é cultivada diferente de energia física. Meditação, estudo, experiência e introspecção são as primeiras etapas que a maioria dos Ceifadores utiliza para começar a se conectar mais profundamente com seu espírito e, por tabela, seu reiatsu.

Naquele dia, eu comecei os treinamentos de solidificação do reiatsu como preparação para criar barreiras de grande qualidade. Com as mãos estendidas com as palmas apontadas para frente sobre uma mesa, uma energia alaranjada começou a fluir pelos meus dedos e então a vazar para frente, se acumulando num corpo ligeiramente esférico, mas repleto de protuberâncias piramidais surgindo e sumindo por todo lado. Ainda que eu não fosse um iniciante nas Artes Demoníacas e até conhecesse um Bakudou específico àquela altura, eu não queria mais me restringir a apenas entender uma técnica; eu queria ir além e compreender todo aquele ramo de encantamento. Sendo assim, eu deletei da minha mente qualquer ideia sem fundamento que eu tinha sobre como fazer aquilo e me esforcei para aprender tudo ali naquele momento.

Manipulando a energia à minha frente, eu passei as mãos pelos seus lados e fui, devagar, podando as protuberâncias para que sua forma se estabilizasse numa forma esférica coesa. Respiração, logo percebi, era muito importante. É comum que seguremos a respiração para fazer coisas que requerem muita atenção. Ouvi falar uma vez que arqueiros costumam fazer isso para dar mais estabilidade para seus disparos. No entanto, o livro ao meu lado citava que respirar bem ajuda a manter a calma e como firmeza das mãos não está necessariamente ligada à firmeza da barreira, não tem problema mover o corpo enquanto se fazia aquilo.

Eu levei dias, admito, talvez semanas para conseguir criar um cubo do tamanho de uma bola de futebol que não se dispersava quando eu a atacava com minha zanpakutou. Com a ajuda do Capitão Harley, eu entendi que manter a reiatsu fluindo pelo corpo aumentava a qualidade das Artes Demoníacas e, consequentemente, das Artes de Vinculação, sendo estas tão refinadas.

No dia seguinte, no entanto, meu treinamento foi interrompido por uma emergência.

considerações:

Missões de Ceifadores no Mundo Humano são comuns. Mesmo que a maioria dos humanos não possua poder espiritual expressivo o suficiente para atrair uma grande quantidade de Menos, vira e mexe um Hollow acaba surgindo e, como parte de sua natureza, ele causa problemas. Assim, o Gotei 13 não tem outra alternativa a não ser interferir e purificá-lo. Naquela manhã, um trio de Oficiais da Terceira Divisão foi enviado para lidar com um grupo de Menos de baixo escalão localizado no Mundo Humano. Sendo de baixo poder, o trio era mais do suficiente para cuidar de tudo. Também por ser uma missão tão rotineira eu acabei encarregado de supervisionar e receber o relatório ao final do dia, deixando que o Capitão Harley cuidasse de assuntos mais urgentes. Minha surpresa foi ver que quando o trio retornou um dos Oficiais estava sem um braço.

— Os Menos fizeram isso com você? — perguntei preocupado tão logo meus olhos se cruzaram com o do Oficial agora debilitado. Se julgamos errado o poder do inimigo, então aquele ferimento se tornava minha responsabilidade. Eu me aproximei para ver o ferimento com cuidado e, para minha surpresa, aquilo não parecia ter sido um ferimento de Hollow. "Fui descuidado, senhor", ele respondeu, "localizamos um artefato suspeito e íamos trazê-lo, mas assim que o toquei o meu braço simplesmente sumiu".

Aquilo era incomum. Depois de enviar o Oficial para a Quarta Divisão na esperança de que eles pudessem fazer algo a respeito do braço ausente, eu retornei para meus afazeres e esperei impacientemente que o devido relatório chegasse em minhas mãos. Algo daquele tipo não podia ficar solto no Mundo Humano, isso eu sabia.

considerações:

Com o relatório dos Oficiais em mãos, eu percebi que a missão tinha acontecido normalmente, exceto por essa parte do artefato estranho. Não que eu esperasse detalhes excepcionais sobre o que aconteceu, mas admito que "seu braço sumiu ao menor contato" era algo que eu já sabia e não me ajudava em nada na parte de traçar um plano de ação. A novidade, no entanto, foi o fato do tal artefato parecer ser a borda quebrada de alguma mesa muito antiga.

Com essa informação em mãos, eu segui para a biblioteca da divisão em busca de algum rastro que eu pudesse seguir. Para minha frustração, acabei por não encontrar qualquer menção a algo do tipo ser recorrente pela Soul Society. O fato de estar no Mundo Humano também era suspeito. Àquela altura eu apenas suspeitava que alguém tinha deixado o objeto ali de propósito, mas se esse fosse o caso, o que alguém ganharia deixando para trás algo que parece ser tão perigoso? "Talvez seja obra de um Arrancar", pensei, mas mesmo os Arrancar não desperdiçariam algo do tipo de forma tão leviana.

Tive a ideia de pedir auxílio da Décima Segunda Divisão dado o seu foco em ciência e experimentos; fazia sentido, ao menos para mim, eles terem alguma ideia do que estava acontecendo. No entanto, provavelmente por orgulho, eu me convenci de que a Terceira Divisão era mais do que suficiente para resolver aquele problema. Também foi nesse momento que eu decidi organizar uma missão de resgate do artefato, mas para isso eu precisava me certificar de que novos desmembramentos não aconteceriam.

Batucando os dedos sobre um dos livros que peguei emprestado do Capitão Harley, eu tive um estalo e lembrei sobre o fato das barreiras de Bakudou terem como um dos seus usos isolar objetos perigosos do mundo externo. Talvez isso fosse a chave para o sucesso da missão que estava por vir.

considerações:

Meu objetivo àquela altura era compreender como as barreiras de contenção de reiatsu funcionavam. Eu teorizei, e imaginava estar certo, que se a energia emanada pelo artefato fosse contida em um pequeno espaço ao seu redor, outras pessoas poderiam se aproximar e, através da barreira, movê-lo para um local seguro. Mais fácil na teoria do que na prática, eu fiz o estudo se iniciar ao pesquisar sobre a técnica Hachigyou Sougai, um Bakudou famoso e de alto nível.

Eu sabia que como ainda estudante sobre Artes de Vinculação eu não conseguiria usar uma técnica daquelas. Tentei, contudo, apenas como forma de confirmação, mas a minha falta de experiência naquilo logo se mostrou e eu não tive outra opção a não ser deixar para lá; eu não queria perder tempo, afinal, porque não sabia o estrago que o artefato perdido poderia causar ou estar causando ao Mundo Humano enquanto não fosse removido.

Hachigyou Sougai era um ótimo alvo de estudo por causa de um detalhe sobre essa barreira: reiatsu do lado de dentro não emana pro lado de fora. Embora isso possa ter vários significados, o livro explicou bem o que essa característica implicava. A primeira delas era o fato de dobrar de camuflagem, dificultando que aqueles do lado de dentro pudessem ser detectados por sensores comuns. O segundo deles, e o que realmente me importava, era o fato de servir para conter ameaças que fossem pegas no perímetro da barreira; que era justamente o que eu queria alcançar.

Mas como isso era alcançado?

Pois bem. As paredes dessa barreira, segundo o explicado, atuavam como um tipo de espelho espiritual: quando energia se chocava em suas paredes, essa mesma energia era jogada de volta na mesma direção, porém sentido inverso. Como forças iguais em sentidos opostos se anulam, isso criava uma condição única e ideal para manter aquilo ou aqueles do lado de dentro resguardados.

Meu desafio durante os dias que se seguiram foi, dentro dos meus limites, conjurar uma esfera mesmo que pequena que tivesse essas propriedades de espelhamento. Honestamente? Não foi fácil. Existia um motivo para o Hachigyou Sougai ser de alto nível e certamente era este. Eu não esperava atingir o mesmo nível, mas eu PRECISAVA chegar o mais próximo possível para mim naquele momento. Com esforço e muito foco, dia após dia, eu fui me aproximando do resultado mínimo desejado, mas ainda não era o bastante; ainda era um método demais improvisado e pouco estável.

Infelizmente, eu não tive tempo para me permitir estar seguro do método, porque um outro relatório fez com que a missão de recuperação do artefato iniciasse imediatamente: Menos estavam surgindo pela área em que o objeto foi encontrado e, por algum motivo, pareciam procurá-lo.

— Não posso deixar isso cair nas mãos erradas.

considerações:

Chegar no Mundo Humano não era um problema. Com o auxílio do Senkaimon da Soul Society, logo estávamos na cidade em que o incidente do artefato aconteceu. Flutuando sobre os prédios, outros dois Oficiais me acompanhavam; os mesmos da última missão, exceto aquele que se machucou e ainda estava se recuperando. Uma borboleta infernal estava repousada sobre o meu ombro, mas logo voou para mais alto quando um estrondo ecoou ao longe.

Meu trio então avançou com tudo, comigo mais à frente. "Foi ali que aconteceu", disse um deles, indicando o caminho. Era um prédio em construção abandonado. Não tinham chegado a levantar as paredes, então era feito apenas pelas doze lajes visíveis e várias colunas de concreto com a armadura já exposta pela degradação do tempo. No terceiro andar, uma nuvem de poeira pelo choque de alguma coisa estava se dissipando e então pudemos avistar: um grupo de pelo menos dez Gillians pareciam brigar entre si.

O nono andar parecia ser o mais destruído e, segundo o relatório, era onde o artefato estava. Antes de qualquer coisa, eu me certifiquei de confirmar a localização do objetivo daquela missão. Tão logo me aproximei, um calafrio percorreu a minha coluna; era uma energia ruim e estranha de que algo estava errado. Virando o olhar um pouco mais para a esquerda então eu avistei: um pedaço quebrado de madeira com alguma coisa entalhada e coberta por tinta preta. Embora parecesse um objeto comum, a forma que a luz e o próprio ar se retorcia ao seu redor indicava a sua natureza.

— Vamos. E não se preocupem, não vou deixar que aquilo machuque vocês. — afirmei antes de partir correndo no próprio ar em direção ao terceiro andar.  Ainda que fossem inimigos deles próprios e estivessem brigando entre si, o trabalho de um Ceifador é claro; eles precisavam ser purificados. Com uma mão sobre o cabo da minha zanpakutou, eu estava me sentindo confiante. Aquilo estava prestes a ficar feio... para os Hollows, é claro.

considerações:

A luta não foi díficil. Apesar da desvantagem numérica, tudo o que precisamos foi de uma boa coordenação de nossos ataques e em um piscar de olhos todos os Hollow tinham sido mortos; ou melhor, purificados. Soco voando para o lado, cortes para o outro e uma explosão com Kidou que fez lascas de concreto do prédio saírem voando para os lados antecederam uma grande surpresa: uma garganta se abrindo bem diante de nós.

Aquilo definitivamente não estava nos planos. Minha primeira reação foi me virar em direção ao rasgo do céu e me preparar para atacar o que quer que saísse dali de dentro. Torcendo para não se tratar de um Arrancar tentando atacar de surpresa, a máscara que se formou da escuridão da passagem foi uma familiar: era um Menos, como os outros, exceto que este era muito maior. Sim, um Menos Grande.

— Okay, isso é inesperado. — falei me colocando à frente dos Oficiais. Eles seguraram firme em suas zanpakutou e eu percebi sua apreensão. Eu não os conhecia muito bem, mas talvez fosse o caso de nunca terem enfrentado aquele tipo de Hollow. Independente do motivo de estarem se sentindo acuados, eu não os julguei. Ao invés disso, estendi minha espada para frente e encarando bem nos olhos do Menos Grande eu chamei por ela. Os Oficiais observaram deslumbrados a minha Shikai se ativar. "Eu só tinha ouvido rumores sobre sua espada, senhor", disse um deles. Eu o encarei por cima do ombro com um sorriso — Então você deve saber que sairemos daqui sem um único arranhão.

Foi quando um brilho vermelho cortou o céu em nossa direção. Da boca do Menos Grande, um característico Cero foi disparado e sem sequer recitar um encantamento eu estendi minhas mãos para frente. Um círculo de luz rodopiante se formou entre mim e o Cero antes do choque dos dois liberar uma grande explosão. Atrás de mim, os Oficiais tomaram coragem e juntos avançaram contra o Hollow. Eu os acompanhei e, confiando em suas habilidades, comecei a entoar um encantamento.

— Oh, senhor! Máscara de carne e sangue, toda a criação, esvoaçar de asas, aquele chamado de Homem. Inferno e pandemônio, ergam as ondas do mar e marchem para o sul!

Os Oficiais se mostraram resistentes e astutos o suficiente para manter o Hollow ocupado enquanto meu Kidou se formava. Uma esfera vermelha surgiu em minhas mãos e então, sem mais enrolar, eu a disparei direto no rosto do Menos Grande. Lento, o Hollow não conseguiu desviar a tempo e teve seu equilíbrio perdido ao ter sua cabeça bruscamente jogada para trás pelo impacto. "Agora!", gritei, incitando os Oficiais para que me acompanhassem. Juntos, desferimos o golpe final naquele Hollow quando nossas espadas — a minha agora já em sua forma selada — perfuraram a máscara do Menos, enviando-o de uma vez por todas para a Soul Society.

Sem mais interrupções, o momento mais importante da missão acabou por finalmente chegar. Observando do alto, mirei o olhar no artefato que devíamos levar conosco naquele dia.

técnicas utilizadas:

considerações:

Eu já tinha estudado a teoria sobre Bakudou. Eu já tinha experimentado em um ambiente controlado manifestações de barreiras e tido algum sucesso naquilo. No entanto, aquele seria o momento da verdade. Pairando com os Oficiais na altura do terceiro andar do prédio abandonado, eu repassei várias vezes tudo que eu tinha aprendido nos últimos meses. Estabilidade, concentração, respiração, solidez, formato. Como um livro imaginário se abrindo diante de mim, todo tipo de conceito que eu anotei mentalmente como de extrema importância para aquilo foram surgindo. Eu não tinha nenhum tipo de memória fotográfica ou algo do tipo, mas sendo um estudioso eu acabava tendo esses processos para me lembrar mais facilmente daquilo que estudei.

O Oficial que tinha se machucado tinha chegado a tocar no artefato antes de ter seu braço desfeito. Sendo assim, minha única ordem para os Oficiais era que eles não encostassem na madeira diretamente. Ainda que fosse apenas uma óbvia medida de precaução — afinal eu sabia que eles não arriscariam após terem presenciado o que aconteceu com o seu parceiro da última vez —, eu o fiz mesmo assim; estava sendo cauteloso.

De pé sobre a laje de concreto há apenas dois metros de distância do artefato, eu fechei os olhos por breves segundos, respirei fundo e então estendi as mãos para frente. De olhos abertos novamente, comecei a enviar minha reiatsu na forma de um brilho azulado em direção ao objeto diante de mim. Tão logo as partículas espirituais começaram a se unir na forma de paredes pequenas ao redor do artefato, eu percebi ela se desestabilizar. Parte foi pela minha falta de experiência e parte pela ação da energia desestabilizadora do objeto. Com uma expressão séria no rosto e sentindo meu coração bater mais rápido, eu dei dois passos para frente conforme continuava tentando dobrar as bordas das paredes de reiatsu formando uma bola.

Com cuidado, comecei a aplicar o método de espelhamento do lado de dentro conforme a esfera foi se fechando. Do lado de dentro, o artefato pareceu tremer em resposta e eu vi pedaços da minha barreira começarem a se soltar e sumir no ar. Aquilo se tornou um cabo de guerra... e eu precisava vencer pelo bem da missão.

considerações:

A barreira se formou como planejado. No entanto, algo em meus instintos parecia indicar que algo não estava certo. Como combinado, um dos Oficiais começou a se aproximar e levou uma das mãos até a barreira agora solidificada para carregá-la de volta à Soul Society. Um calafrio percorreu minha espinha e ao olhar atentamente, eu percebi o que está errado.

— Se afastem agora! — exclamei já saltando para trás. O Oficial mais próximo do artefato se assustou e tropeçou, no que por pouco conseguiu se recuperar e pular para longe. O outro Oficial, sempre atento e já distante, apenas se certificou de estar longe do que quer que eu estivesse anunciando. O motivo do meu alarme se mostrou rapidamente quando a barreira se partiu em dezenas de cacos e uma onda de energia — provavelmente potencializada pelo método de espelhamento que utilizei — sumiu com metade dos pilares próximos. Vendo que a missão tinha fracassado, eu não tive outra alternativa a não ser observar o prédio todo desabar por conta do meu erro. Soterrando o artefato perigoso em meio aos entulhos, eu considerei que talvez ele estivesse seguro... por enquanto.

Sem mais alternativas, abri o Senkaimon de volta para o Gotei 13 e acompanhados pela borboleta infernal de outrora retornamos para a Terceira Divisão. Eu teria um relatório amargo para escrever naquela noite.

considerações: