—  Via-me no espelho como uma mera reflexão enganosa. Imóvel frente à mobília refletora, me perguntava a cada dia passado se eu realmente estava tentando voltar a ser o mesmo de antes, e se isso valia a pena. Por tantos baixos que já passei, era difícil dizer que retomar as memórias antigas poderia ser a melhor decisão. Porém, já era tarde demais para voltar atrás. Havia novamente me tornado um ceifador pela justiça, e a covardia já não mais poderia ser permitida. Fora com este pensamento que me apresentei frente aos superiores do departamento de inteligência da Soul Society, o qual eu já tinha alguma familiaridade. Estavam em cinco, todos uniformizados como cientistas, e com dispositivos similares a computadores em mãos.

— "Noritoshi-San, os registros não se enganam: A pesquisa que o senhor coordenou realmente apontou para uma anomalia gravíssima no 72º Distrito do Rokungai. Parece que uma tentativa de invasão dimensional fora feita pelos Hollows. Há vestígios de uma pressão espiritual maligna e de uma minúscula ruptura no terreno. Era uma Garganta." — Um dos pesquisadores ditou, notoriamente nervoso.

— "Garganta? Na Soul Society? Isso não pode ser possível." — Levei dois dedos ao queixo, pensativo. — "Como vocês têm tanta certeza disso? Há alguma pista?" — Os questionei.

— "Não restam dúvidas, haviam registros de Reiatsu hollow no local, mais especificamente de Menos Grande da classe Gillian. Por algum acaso, eles quase tiveram acesso ao nosso mundo, e tememos que não estejam sozinhos. Deve haver algo ou alguém tentando facilitar o progresso de invasão dos Hollows, já que um distúrbio na Islândia foi detectado. Nós precisamos que você vá até lá e descubra o que está havendo. Iremos tentar reparar os dados daqui." — O Cientista finalizou.

E então, deveria ser feito. Dei as costas sem ao menos questionar o que o mesmo havia dito, seguindo para os quartéis da Sexta Divisão, com o intuito de acessar o Senkaimon local e me transportar ao mundo humano. Nestes mil anos de vida, é a primeira vez que vejo um caso do tipo. E com toda certeza, eu faria questão de que fosse o último.

Uma invasão hollow de tais proporções poderia trazer uma catástrofe inimaginável.

Informações:

— O Transporte para o mundo humano fora efetuado com sucesso, e havia chegado no local destinado com a tempestade já posta à prova. Antes mesmo que pudesse ter chance de raciocinar, via uma Garganta se abrindo em minha frente. Dela, uma enorme mão escapava - Um Gillian tentava me agarrar, mas fui capaz de me esquivar de maneira instintiva. No instante seguinte, o braço fora retraído e a Garganta se rompeu, sendo forçadamente fechada por uma força desconhecida.

— "O que diabos foi isso?" — Me perguntava, confuso. — "Aquela não era uma Garganta comum, não consegui sentir a sua Reiatsu...Então...O que diabos era?" — Continuei, olhando meus arredores.

Meus olhos se fitaram nas dezenas de fendas que se abriam por cima do país banhado pelo oceano, sendo que todas falhavam. Ainda assim, dezenas de corpos de Gillians saltavam para fora das rupturas malformadas, como se ambos os mundos estivessem se colidindo, um ao outro. A Pressão espiritual maligna exercida pela imensa quantidade de espíritos vagantes era suficiente para fazer até mesmo um alguém como eu a sentir, mas não a ponto de me sentir enfraquecido de alguma forma. Ao ver aquilo, tive certeza absoluta de que se tratava de um artifício exterior, era impossível que Hollows de
baixíssimo nível pudessem sequer ter a capacidade de se organizarem em bandos. Estavam sendo atraídos por algo. E este algo é o que os está forçando a romper a barreira do mundo humano com o espiritual.

— "Deve haver uma isca em algum lugar. Estes Hollows estão aqui atrás de algo, então é melhor que eu encontre antes que eles acabem por atravessar aquelas Gargantas de vez! Isso deve dar uma trégua até que eu encontre o responsável por trás desta anomalia." — Pensei, imediatamente me deslocando de tal posição a fim de encontrar o que quer que estivesse atraindo os espíritos.

Informações:

— Para a minha sorte, a isca principal não era um objeto - E sim uma criatura viva, sendo mais preciso, um shinigami de baixa classe com cabos inseridos em seu corpo que o forçavam a liberar toda a sua Reiatsu. Aparentemente, a reação da pressão espiritual do ceifador com a Garganta fez com que os hollows fossem atraídos para este ponto, onde há a maior concentração de Reiryoku possível. E não apenas isso: Havia um fator adicional: Havia alguém do outro lado que estava a facilitar o trabalho dos Hollows, tentando forçá-los a atravessar as fronteiras interdimensionais. Tomei o corpo inconsciente do shinigami em minhas mãos, arrancando os cabos de sua carne com minha própria força, enquanto percebia que sua pele estava pálida, e seu pulso, quase totalmente inexistente. Era frio — Estava à beira da morte, mas ainda havia uma pequena chance de salvá-lo.

— "Estes cabos são feitos de partículas espirituais...Isso é da Soul Society!" — Arregalei os olhos, percebendo que o culpado estava exatamente entre os nossos. — "Isto não é uma criação normal, é advindo do departamento de inteligência. Merda...Aquele cientista filho da puta me enganou. Ele vai fechar a porra do Senkaimon, não é? Merda!" — Afiei os olhares.

O Meu inimigo não estava no mundo humano, e muito menos no Hueco Mundo - Estava em nosso lar, oculto entre as fileiras científicas da 12ª Divisão: Um traidor sem escrúpulos, que buscava inferir na paz de nossa já fragilizada sociedade. Ao perceber o erro que havia cometido ao confiar minha palavra àquele homem, não pude resistir senão tomar o corpo do shinigami desacordado em mãos e saltar rumo ao Senkaimon. Eu precisava retornar à Soul Society e dar um fim nele, antes que ele conseguisse, de alguma forma, completar o seu plano.

O Problema é que carregar um corpo humano era complicado. O homem era quase de meu tamanho - Seu peso diminuía a minha velocidade, e portanto, talvez não desse tempo de cruzar o Senkaimon junto dele. Caso fosse necessário, eu o descartaria se isso significasse ter uma maior chance de cruzar o portal dimensional para o retorno ao mundo das almas. Perder uma vida em troca de salvar milhões...Isso não me parecia uma má troca, afinal. Com os cabelos dourados jogados ao vento de maneira violenta e a feição de fúria em minha face, saltei através do ar, me aproximando cada vez mais do portal, que parecia estar fechando suas portas.

— "Será que vai dar tempo?" — Me perguntei, apreensivo.

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