—  Novamente, mudando de lar. Como se o céu acima de minha cabeça estivesse prestes a desabar sobre meu corpo, não me sentia seguro nem mesmo na presença de minha própria sombra. Acompanhado da Meio-Hollow, Ayla, e meu discípulo, Okita, vagamos sem rumo através dos países baixos até alcançarmos  uma ilha paradisíaca que se encontrava próxima da Oceania, nos confins dos oceanos deste mundo. Como um breve momento de alívio, pisar nas terras firmes e praianas fora como retomar um momento que jamais tive no passado. Levei uma das mãos aos cabelos, jogando-os para trás enquanto os ventos infernais do continente vos atingiam com imponência. Um ser humano convencional seria completamente subjugado pelas forças da natureza em questão de poucas horas, fosse por desidratação ou assassinados pelos vorazes animais selvagens da região. Olhei ao redor, e nada vi além de paisagens intocadas pela humanidade. Um raro semblante de que a natureza ainda resistia, e talvez um convite para que nos mantivéssemos ali, enquanto a hora ainda não fosse chegada. Durante estes dias, no entanto, acabei desenvolvendo um laço com Ayla. Talvez de maneira inconsciente, mas eu não a enxergava mais da mesma forma. Porém, tentei me livrar destes pensamentos. Eu não tinha olhos para o amor. Ele já havia sido consumido há muito tempo pelo ódio que guardo aqui dentro.

Nossa marcha iniciou-se no período do entardecer, rumando adentro da selva feroz da costa oceânica, onde fomos contemplados por ninhadas de Dragões de Komodo e topo tipo de animal maldito que lhe faria ficar de cabelos em pé. Caranguejos gigantescos, cobras peçonhentas sob as pedras. Era como um inferno natural, um campo minado da natureza. Mas, como almas, não seríamos tão facilmente pegos pelas artimanhas da Mãe-Natureza. Com as mãos no bolso de meu terno negro, vagava, procurando por algum sinal de civilização - Ou melhor, algum lugar para que pudéssemos ficar em paz.

— "Que bagunça do caralho." — Ditei, ligeiramente confuso com a natureza labiríntica da selva. — "Eu que não estou a fim de ficar construindo tendinhas de merda por aí. Okita, Ayla, sem corpo mole. Vamos seguir adiante, talvez haja algum tipo de Oásis ou algo parecido por aí." — Finalizei.

— "Desde quando você têm a cabeça tão esquentada, Noritoshi?!" — Ayla questionou, gargalhando.

Revirei os olhos, como se não me importasse.

— "Isso porque você não sabe das coisas que ele fala quando está dormindo..." — Okita murmurou.

— "Como é que é?" — Me virei ao rapaz, que logo se calou.

Era visível seu esforço para conter o riso, e o meu para não enfiar a mão na cara dele. De qualquer forma, preferi ignorar, e novamente traçava o caminho anteriormente planejado. A noite era a hora em que os animais retornavam, encolhidos, para seus lares medíocres. Acovardados do anoitecer, as presas adormeciam para dar lugar aos caçadores da madrugada. Todo tipo de criatura assassina que pode-se pensar a respeito, está aqui. Carnívoros ferozes, máquinas de combate, assim como. O uivo distante de animais noturnos já poderiam ser ouvidos,  a cada segundo que se passava, a sombra lunar punha-se mais forte sobre nós. Logo mais, estaria, todo o continente, sombrio.

Mesmo assim, estávamos acima. Por quê?
Assim como um leão, não precisamos ser informados de que somos fortes. De que estamos um andar acima.

Nascemos desta forma. Crias da noite.

Assassinos do amanhecer.

Informações:

—  Sem rumo definido a tomar, acabamos por nos satisfazer com uma mera clareira que dava de frente a uma pequena fonte termal natural em meio ao calor infernal da região. Com a noite gélida surgindo e o brilho das estrelas alvas caindo sobre nós, junto da majestosa lua crescente, nos víamos, juntos, na escuridão por mais uma vez. Ayla tomou o seu tempo para acender um de seus cigarros e levá-lo até a boca, para que pudesse ser tragado. Por outro lado, Okita permaneceu de seu modo comum: Afastado, em quase silêncio total. Poderíamos passar aquela noite em paz, mas talvez não fosse por isso que havíamos rumado até este lugar. Será mesmo que existia paz até mesmo para seres como nós? Éramos dignos de tê-la, ou somente mais vozes na multidão?

— "Isso me lembra da época em que vivia entre os shinigamis. Sabe, eu nasci uma nobre. Mesmo que de família secundária, mas ainda era uma nobre. Vivia entre o alto escalão do Sereitei, cercada por riquezas e soberba. Nunca quis lutar, ou ir além das covardes muralhas de minha mansão. Mas agora...Talvez eu prefira a solidão na natureza." — Ela dizia, com uma breve pausa para expirar a fumaça. — "E seus dias no Rokungai, Noritoshi? Como eram?" — Perguntou, se virando para mim.


Meus dias no Rokungai? Hesitei em responder.

— "Dolorosos. O Rokungai é uma terra sem lei." — Ditei, me aproximando. — "Não era raro ver um amigo ou conhecido ser assassinado de forma brutal e covarde na sua frente. Famílias destruídas, e o choro de crianças por mais que nunca voltarão. Lá tínhamos de tudo; Qualquer tipo de droga e mulher. Prostituição rolava a solta, de um lado ao outro, as mulheres decadentes ofereciam seus corpos, e eram escravizadas por gangues locais. Se há uma desgraça, pode ser encontrada no Rokungai. Trabalho escravo, infantil, torturas, mortes, tráfico...Tudo sem fiscalização. Crescemos com a morte. Nos tornamos parte dela." — Terminei.

— "Entendo. A minha família tornou-se parte de uma casta secundária porque minha avó se tornou uma meretriz. Depois de ter relações com um nobre da família rival, fomos lançados para a merda. No fundo do poço, sem prestígio algum. Lembro-me bem do dia em que arrancaram suas mãos e pés. Ela gritou, então lhe tomaram a língua. Chorou, portanto, lhe arrancaram os olhos. Eles riram, me lembro. Estava desesperada, mas congelada. Sabia que se gritasse, morreria da mesma forma que ela. O mal não existe somente no Rokungai...Ele está em toda parte, escondido. Minha mãe se tornou uma prostitua na esperança de conseguir pagar sua dívida com o clã, mas foi feita como brinquedo de um criminoso do Rokungai, até perecer. Eu teria tido o mesmo destino." — Ela comentou o seu lado da história.

— "São histórias que se repetem. Eu odiava tudo. Odiava todos. Era uma besta irracional que matava sem pensar, e tinha apreço pelo gosto do sangue. Admito com tristeza que também já me entreguei aos desejos carnais por muitas vezes. Sexo, drogas, e todo tipo de atividade criminosa. Eu era praticamente viciado nessas coisas. As drogas humanas não chegam aos pés das que existem por lá. Vi pessoas se decompondo vivas, caindo aos pedaços, como zumbis. Eu não me importava, agia como um delinquente miserável. Não via valor nas pessoas, fosse homem ou mulher. Homens eram presas, mulheres eram somente para diversão. Tantas coisas que fiz, e que não podem ser apagadas. Às vezes me pergunto se há alguma maneira de se reconciliar com seu passado. No meu caso, acho que não mereço perdão." — Joguei olhares para o céu, suspirando.

Ela observou, de maneira atenta. Também vislumbrou o céu estrelado, antes de se sentar sobre a borda da fonte termal. Colocou os braços ao redor de suas pernas, enquanto o fino rastro de fumaça continuava a se alastrar pelos céus. Okita, por sua vez, sacou a sua Zanpakuto, e a pôs sobre as coxas, observando sua lâmina. Todos nós estávamos em dilemas.

Eu, incapaz de esquecer o passado e seguir em frente.
Ayla, incapaz de se livrar de sua maldição.
Okita, incapaz de projetar seu próprio futuro.

O que vos causava tamanha dor?
Por quê tanto sofrimento?
Estávamos pagando por pecados que nunca havíamos cometido. Como naquele dia.

Minha família se foi. E eu lavei as mãos, de novo, e de novo, para me limpar dos pecados.
E chorava.
Sabendo que não fui o culpado.

Informações:

—  Vi, durante séculos, tudo acontecer. Do bom ao ruim - Do nascimento da pessoa mais bondosa até a mais maligna e perversa. Nós, shinigamis, existimos com o propósito de proteger o Mundo Humano e promover o equilíbrio. Porém, quanto mais tempo se passa, menos consigo me ver refletido nos rostos daqueles seres pífios. O que aconteceu? Vejo aqueles humanos se matando por nada, destruindo o mundo que os deuses lhes deram pela sua própria mesquinharia. Via-os se destruindo e entregando-se ao pecado, se drogando e transando até que seus corpos colapsassem e eles já não mais viessem a suportar o peso desta vida miserável. Transformavam-se em Hollows. Almas perdidas, abandonadas. De gritos abafados pela escuridão, talvez eu mesmo tenha rejeitado salvar muitas delas. A lógica da evolução é que os seres adaptem-se ao seu novo ambiente.

Nunca vi um sistema evolutivo em que eles o destroem.

O Mundo humano era desprezível, mas a Soul Society não estava muito acima disso. A corrupção, miséria e ganância consumiram a dimensão que um dia fora coroada como pilar que sustenta a paz entre mundos. Porra nenhuma! São um bando de assassinos filhos da puta disfarçados de bons moços para poderem ter suas bolas lambidas diariamente pelas almas miseráveis que existem naquele lugar. Narcisistas que só não tem um ego maior do que sua própria imbecilidade. Estão reconfortados em seus lugares como ceifadores, os capitães pensam serem invencíveis pelos seus poderes. Um bando de idiotas.

Lixos!
Lixos!
Lixos!

Não passam de farsas. Vermes desgraçados, que mancham suas mãos de sangue e põem a culpa naqueles que nada tem a ver com seus próprios fracassos. A Soul Society é um erro, a nova geração de ceifadores está perdida, e eu não vejo escolha se não me juntar àquilo que tanto odiei, durante estes séculos. No final, eu servi aos que assassinaram minha família, e me fizeram de escravo. Não mais. Eu abriria seus corpos e os enforcaria com seus próprios intestinos. Faria com que bebessem do próprio sangue até que se afogassem. Mereciam um destino pior que a morte. Eu faria o inferno parecer um paraíso perto disso.

— "Bastardos nojentos!" — Cerrei os punhos enquanto bradava, socando uma árvore próxima com tanta força que fez parte de seu tronco sair voando. — "Uh?!" — Voltei aos sentidos.

Okita e Ayla observaram-me, assustados. Eu estava em transe com meus próprios sentimentos.
A ficha ainda não havia caído. Eu não podia acreditar, queria não acreditar, mesmo que fosse a verdade dolorosa. Porém, era impossível escapar disso. Não podia esconder todo esse ressentimento dentro do meu peito por mais tempo. Eu tinha certeza do que deveria fazer, mas ainda hesitava. Eles foram tudo para mim. A Soul Society, capitães, tenentes e oficiais...Eu conheço todos os bairros do Rokungai, todas as ruas, cada casa, cada esquina. Era meu mundo. E agora, se partiu.

— "...Não é nada. Acho melhor descansarmos um pouco. A minha cabeça está cheia." — Ditei, suspirando enquanto baixava os olhares.

Seria uma longa noite. Se eu fosse uma criança, colocaria um travesseiro sobre minha cabeça e choraria.
Mas não mais. Eu era um homem, um velho, um guerreiro sanguinário, alguém que cumpriu ordens macabras sem hesitar. Não havia salvação para mim.

E eu faria não ter para eles também.

Informações:

— O Tempo passou. Do anoitecer, o sol raiara de maneira cordial aos céus. Porém, junto dele vinha acompanhado dos últimos resquícios de escuridão. Pouco antes das seis da manhã, fomos acordados pelo grunhir maldito de seres que ali espreitavam. De maneira instintiva, ainda com os olhos fechados, pus as mãos contra o solo e me impulsionei, girando no ar e caindo de pé a cerca de três metros após um corpo estranho vir até minha direção. Dormente, minha consciência fora restaurada no instante seguinte. Mesmo dormindo, a alma de um guerreiro jamais baixa a guarda. Era um hollow - Não um, mas três deles. Todos mascarados, de aparência humanoide, ainda que dois deles fossem completamente tapados e o outro apresentasse um nível de inteligência comparável ao de um Adjuchas. Minhas sobrancelhas foram cerradas, pois em meio à confusão mental do amanhecer, eu não via hollows. Eu via meus antigos companheiros, de 1000 anos atrás. Estavam sorrindo para mim, com as mãos encharcadas de sangue.

Em uma situação convencional, eu sequer expressaria qualquer emoção ao enfrentar um hollow comum, mas naquele momento, minha mente me enganou. Eu vi coisas que tentei esquecer há muito tempo, e a raiva já não mais poderia ser contida. Minha reiatsu emanou do corpo de maneira tão violenta que fez o ambiente ao redor estremecer. Ayla e Okita despertaram também, suando frio pela pressão monstruosa que caía sobre eles. Jogaram olhares para mim, confusos. Hollows eram seres comuns, mas...O que estava acontecendo comigo?

— "Noritoshi...? O que está acontecendo? HEY! NORITOSHI!" — Ayla exclamou, abanando a mão destra para mim. Naquele momento, olhei para ela. Meus olhos, cobertos de vasos sanguíneos que os deixavam quase tão escarlates quanto o sangue. Olhar assassino. Não conseguia mais diferenciar o certo do errado, aliado de inimigo. — "...O quê?" — Ela se questionou.

— "Ayla!" — Okita bradou, jogando-se contra ela.

Antes que a Meio-Hollow sequer pudesse ver, havia avançado contra ela. Com os punhos cerrados e expressão vazia, tentei perfurar o seu peito e arrancar seu coração. Porém, no último instante, o médico pôde salvá-la. Ambos estavam assustados, confusos. Se afastaram de imediato, e pareciam hesitantes. Eu cerrava os dentes de maneira bárbara, fazendo o esmalte dos mesmos ruir. Minha gengiva sangrava conforme  a pressão que era imposta pelos dentes, e a saliva começava a escorrer. Então, veio a primeira morte. Agarrando a máscara de um dos hollows fracos, a puxei de forma tão brutal que seu corpo chegou a ricochetear. O Sangue escorreu, mas não era o suficiente. Eu golpeei todos os seus membros, destruindo os ossos até que nada restasse além de um corpo imóvel, gritando de agonia. Eu via Ubayashiki naquele hollow, com os braços e pernas destruídos, e rosto desfigurado. Abri o seu corpo - Arranquei seus órgãos. O Sangue do hollow formou uma poça ao seu redor, enquanto toda a sua matéria interna era jogada ao ar, enquanto seus gritos abafavam o canto dos pássaros. Mesmo uma criatura daquelas chorava - As lágrimas de dor vinham à tona, enquanto o sofrimento inumano dava sequência. Arranquei seus dedos, um a um, após isso, a pele, e então, parti seus ossos em várias partes. Quando o silêncio veio, pisoteei seu crânio até que o cérebro estivesse despedaçado sob a sola de meus pés. E ainda assim, minha expressão era a mesma. Não havia nada. Eu morri por dentro.

Eu deixei a raiva dominar.
Sabendo que a escuridão quer o meu corpo.

Informações:

— A Poça de sangue negro escoou através das rachaduras deixadas pelo impacto de meus golpes. Estava ofegante - Não de cansaço, mas de raiva. O limite entre a sanidade e loucura havia sido destruído, as barreiras que me impediam de sucumbir aos meus próprios pecados foram derrubadas. Não restou nada além de dor. O segundo hollow teve o mesmo destino. Ele deu as costas, tentando escapar. Uivava de medo, mas seus movimentos previsíveis foram facilmente antecipados pelo meu olhar. Com um único movimento, estava em sua cola, e a mão, aberta como se fora uma lança, perfurou o abdome da criatura, tirando-lhe os intestinos e o enforcando com eles. O laço fora tão forte que o pescoço do hollow quebrou-se, o fazendo cair no chão, lentamente se desfazendo em poeira enquanto o sangue permanecia abaixo de sua carcaça mórbida. Nele, vi Rayleigh. Uma sombra do passado que deveria ser extinta. O membro restante do trio estava encapuzado - E logo, ao invés de mostrar as garras, sacou uma espada. Sua voz era como a de uma criança, entonada de maneira inocente.

— "Desvaneça no Horizonte, Presagio." — Ditou.

Então, sua reiatsu fora liberada de forma violenta como uma cachoeira de sangue, destruindo tudo ao seu redor antes de ser completamente selada de volta em seu corpo, que moldou-se novamente na forma de uma bela mulher japonesa, com pele pálida, trajando roupas negras e possuindo duas manchas rosadas na altura das bochechas, além de um par de chifres e uma espécie de adorno cima dos cabelos. Sacou a sua katana de maneira elegante, fazendo com que a luz do sol refletisse na lâmina alva. Ela carregava consigo um sorriso irônico, como se não estivesse preocupada com a cena que acabara de presenciar. Sua reiatsu era maligna. A mais maligna que eu já havia sentido.

— "Isto por acaso é jeito de receber uma velha amiga, Noritoshi? Você já se esqueceu do meu rosto? Daquelas noites...Daquele tempo...Você se lembra, Sunken?" — Ela questionou.



Naquele mesmo momento, eu me vi na mulher. E com isto, retornei à realidade. Com um susto e olhos arregalados, observava o par de mãos trêmulas, coberta por sangue. Dos lados, os corpos desfigurados dos hollows que havia acabado de assassinar. Detrás, Ayla e Okita, distantes. Ver aquela criatura fez-me ter uma breve memória do passado. Eu me via nela, sentia que éramos iguais.

E, ainda assim...Estávamos tão distantes.

Informações:

— Como eu, um shinigami que vivi cegamente como um leal protetor da Soul Society, estar aliado a um demônio do Hueco Mundo? À esta altura do campeonato, eu nem sequer os considerava como inimigos, mas ainda assim, era estranho pensar que no passado, eu poderia ter, de alguma forma, conhecido um Arrankar. A mulher disparou com ferocidade, desferindo um golpe vertical ascendente contra o meu queixo, o qual pude facilmente esquivar ao dar um salto para trás, girando no ar antes de pousar os braços no solo e assim me redirecionar e cair de pé. Com os olhares fixados no semblante irônico da hollow, permanecia confuso.

— "Do que você está falando? Quem é você?" — A Questionei, cerrando os punhos. — "ME RESPONDA." — Finalizei, sério.

— "Kukukukuku!" — Ela gargalhou. — "Você realmente não tem a mínima ideia sobre seu passado, não é, Noritoshi? O quanto de suas memórias foram apagadas? Sequer lembra-se de meu rosto...Ou de quem realmente foi. Não no milênio passado, mas depois. Muito depois...Quando você estava entre a linha do caos e felicidade. Quem foi que te auxiliou? Quem foi que ensinou a usar suas melhores técnicas? Quem foi o responsável por fazê-lo se retirar do Sereitei? Quem foi que arranjou uma vida pronta para você, no exílio?" — Ela questionava.

— "Chega dessa porra de conversinha de meia-tigela! Fale logo quem é, antes que eu faça você se afagar no seu próprio sangue, sua vadia nojenta!" — Estava furioso.

— "Setecentos anos atrás, você me deu um nome. E eu lhe retribuí. Nada te lembra do nome 'Junji'? É interessante, não é? Ser o mesmo nome do espírito de sua Zanpakuto." — Ela revelou, apontando para a espada selada. — "Mesmo sendo uma hollow, você me ajudou. Ajudou sabendo quem eu era, e o que eu fiz. Foi a primeira e última vez que vi um shinigami como você. Um que estava disposto a abandonar suas crenças antigas. Mas e agora, Noritoshi? Você pensa que foi um guerreiro da justiça? Você nunca foi um justiceiro. Você é o mesmo de sempre. Um arruaceiro vagabundo que gosta de brigar e matar...E que se redimiu para tornar-se alguém melhor no fim. Porém...Isso é passado. Você se tornou uma sombra do que um dia foi." — Finalizou.

Eu estava completamente sem palavras, paralisado. Aquela mulher...Eu me lembrava de seu rosto. Porém...Essas memórias me eram muito estranhas. Flashs breves de momentos que passei ao lado da Hollow, enquanto ainda era uma criança. Eu havia a acompanhado desde o seu surgimento. A vi crescer ao meu lado, como se fosse parte de mim. Eu não me lembrava do que pensava naquela época, mas por que? Por que eu estava tão próximo daquilo que jurei destruir? As cenas cortavam, eram confusas, aleatórias. Me via em momentos de lazer, treino, conflitos. Até que em determinado momento, cerca de cem anos depois, me vi com ela na cama. Neste momento, soquei o meu próprio rosto. Que porra era aquela? Não entendia. Depois que ela amadureceu e tornou-se uma Arrankar completa, eu havia me apaixonado? Impossível. Ela era uma hollow, uma criatura maldita.

— "Eu fodi um hollow?" — Me perguntei, embasbacado. Pensei estar falando com minha mente, mas fora vociferado como sussurro. — "...Essas memórias, que diabos...?" — Continuei.

— "É isso mesmo, Noritoshi. Você se apaixonou por aquilo que tanto odiava. Parece que enfim nós estamos conseguindo te trazer de volta, não é? Mas ainda assim, você é um shinigami. Sua família nada mais foi do que uma tentativa de se esquecer disso. Você falhou, e agora eles estão mortos. Não sobrou nada além de mim, Sunken. Eu te admirava, queria ser como você. Repudiava meu sangue hollow, porque eu te amava como shinigami. Mas agora eu vejo que...Talvez este seja o meu maior pecado. Vamos, Noritoshi. Sempre há uma chance para fazer as pazes. Abandone este mundo. Venha conosco para o deserto!" — Ela disse, baixando sua Katana.

Talvez ela possuísse razão, mas eu ainda não tinha certeza de quem era. Não mais queria ter laços com os shinigamis, mas estaria eu disposto a abandonar toda a minha vida e realizações para começar do zero? Baixei a cabeça e suspirei, retirando a curta Wakizashi debaixo do terno negro, revelando-a. A espada possuía pouco mais de sessenta centímetros, com uma guarda púrpura e um pombo negro com fios que voavam ao vento. A lâmina de dois gumes era pálida, refletindo a luz solar com extrema perfeição. A reiatsu então começara a ser concentrada.

— "Faça por merecer." — Ditei, abrindo um leve sorriso.

Estava grato, ainda que perdido.
Eu havia, enfim...Encontrado alguém como eu.

Alguém que foi perdido no tempo.

Informações:

— No ponto de vista de Okita, Ayla e Junji, minha aura começaria a se tornar completamente escarlate - Quase tão vibrante quanto o sangue que corria em suas veias. A alteração, no entanto, fora seguida pelo completo selamento de tal energia na extensão da espada curta, anulando todo vestígio de reiatsu deixado no ambiente. Viera, então, o silêncio. Pus a mão esquerda sobre o gume traseiro da lâmina e, de maneira gentil, a arrastei até a guarda. No momento em que minha pele tocara a guarda estrelada de minha Wakizashi selada, o chão ao meu redor se partiria. As folhas das árvores seriam violentamente jogadas para trás, a uma pressão espiritual imensurável caía sobre os ombros dos presentes. Naquele exato momento, Junji saltou para trás, com expressão de surpresa em sua face. Rangendo os dentes, a mulher hollow segurava agora o cabo de sua Katana com ambas as mãos, posicionando-se em um estilo de combate voltado totalmente para a defesa. Seu corpo tremulava, assim como o de Ayla. A outra, no entanto, por estar mais distante, pôde mover-se e verificar que o perigo era iminente. Okita estava aterrorizado. Aquela era a primeira vez que eles veriam, de perto, o que é poder de verdade. Abri um sorriso largo no rosto, enquanto minha respiração tornava-se visível como rastros de Reiatsu. As pedras ao solo começam a se agitar. Os pássaros fogem em temor - Mesmo não podendo nos ver, eles pressentiam o perigo. Todos ali se assustavam com a quantidade de poder que eu tinha para mostrar. Eu sabia que poderia vencer Junji com as mãos nuas, mas eu queria mostrá-la do que eu era feito. ELES CONHECERIAM A MAIS PODEROSA DAS ZANPAKUTOS!


A minha primeira liberação em mais de duzentos anos. Naquele estado, uma camada violenta de reiatsu cobrira não só o meu corpo - Como também a lâmina, a transformando pro completo. Sua silhueta mudou, e um breve, porém agudo som de estática poderia ser ouvido a várias dezenas de metros de distância. Ao fim da transformação de minha zanpakutou, a mesma havia assumido uma nova forma, única - Inimaginável. Se tratava de uma guitarra elétrica carmesim, com a base quebrada e design infernal. Ela era enorme, quase do tamanho de um ser humano médio, e possuía cordas que pareciam derramar sangue ao serem tocadas. Com a mão destra, segurava a palheta que ia até a base das cordas, enquanto a esquerda se punha sobre as linhas musicais do instrumento elétrico. Se há alguém neste mundo que pode ser chamado de pai do Metal, sou eu. Começava a tocá-la, Black estava bastante animada, ao que indicava. Uma aura de reiatsu vermelha se formava ao seu redor a medida em que era utilizada, demonstrando que estava mais do que satisfeita em ser chamada novamente. Seria a primeira e última vez que veriam tal poder liberado, pois eu não pretendia usar de métodos tão destrutivos para realizar meus deveres simplórios. Há quem diga que esta shikai seja tão poderosa quanto uma Bankai. Mas a verdade é que...Ela vai muito além!

— "Howling Voice...Este é meu solo preferido."  — Ditei, a tocando.


Minha habilidade com a guitarra era notável, os movimentos dos dedos sobre as cordas eram tão rápidos que olhos comuns eram incapazes de observar. O som propagava-se na forma de um solo de Speed Metal notável; Muito similar ao de bandas como Dragonforce. O som agudo, cadenciado e quase caótico vinha acompanhado da concentração da aura de reiatsu, que era liberada na forma de uma onda sonora massiva que tinha como objetivo cobrir uma área de trinta metros a minha frente, viajando em extrema velocidade a fim de finalizar a luta. Naquele instante, Junji comentou.

— "Qual foi a última vez que eu vi esta postura? Quando foi a última vez que senti todas as minhas células tremerem de medo? Meus instintos dizem para fugir...Este poder...Esta força avassaladora....NORITOSHI!!!" — Ela exclamou, esquivando-se do ataque.

A verdade é que seu Sonido por pouco a salvou da catástrofe. Em um piscar de olhos, toda aquela área havia sido completamente consumida pelo uivo ecoante da guitarra. As árvores eram derrubadas, o solo era deformado e vegetação alguma restava. Tudo era levado aos céus e caíam ao chão como pífias vítimas de meu poder. Antes ali havia uma clareira. Agora, não é nada além de uma zona destroçada que mais parecia ter sido afetada por uma calamidade natural. Uma única manipulação sonora fora capaz de dizimar algo equivalente a um quarteirão. Junji arregalava seus olhos e parecia hesitar em seus movimentos. Ayla e Okita ficavam completamente boquiabertos, incrédulos com o que haviam acabado de presenciar.

— "O-O QUE?! ESTÁ ME DIZENDO QUE AQUILO NÃO É UMA BANKAI???" — O médico bradava, assustado. — "Q-Q-que....? Que isso?! Isso não pode ser real...Um poder desses....Ele destruiu tudo!" — Continuou.

— "Não consigo acreditar que aquilo é uma Shikai. O Noritoshi sempre foi forte mas...Um poder como este não deveria existir neste mundo! Ele é uma anomalia mesmo entre os shinigamis! Eu já vi muitas shikais, e muitas bankais...E nunca presenciei um poder destrutivo deste nível!" — Ayla comentou, cruzando os braços.

Mesmo que ela estivesse com o coração acelerado, se sentia segura. Pois sabia que eu estava lá para protegê-la.
Joguei rápidos olhares para a dupla, com um leve sorriso. Enquanto eu estivesse lá, não cairiam. Quanto a Junji...

— "Perceba o abismo que existe entre nós, Junji. Não se envergonhe, você é forte. Mas não é chorando que vai ganhar a confiança dos outros. Quer me ter ao seu lado? Então faça por merecer. Não se entregue a sua arrogância." — Ditei, suspirando enquanto baixava a guitarra.

— "G-Ghr....Está me subestimando? Eu já vi a sua Shikai uma vez, Noritoshi. Sei da capacidade de seu poder. Mas acontece que força não define o homem! Ela não é nada além de uma ilusão para você tentar esconder a fragilidade de seu ego patético!" — Respondeu, avançando com sua Katana.

Oh.
Eu nunca havia parado para pensar nisso. Talvez ela estivesse correta. Eu sempre me apoiei na ideia de que poder se sobressaía em qualquer situação. Eu escolhi usar a violência para todo tipo de problema. Fosse pequeno ou grande, o diálogo era sumariamente descartado. Será que eu construí uma bolha ao redor de mim mesmo? Eu vivia em mundo em que jamais havia sido deixado para trás. Eu sempre estive acima, superior. Selava meu poder de propósito, e mesmo assim, não aceitava de forma alguma a existência de alguém mais forte do que eu.

Ah, espere. Agora eu entendo. Não é questão de Ego, não é?
É que ela está sentindo empatia por mim. Não quer me ver igual ela, não é? Não quer me ver como um hollow, ou uma marionete dos que estão acima.

Que pena, Junji. Pois eu sempre soube disso.

Que a empatia é o maior problema do ser humano.

Informações:

— Ela parecia uma criança chorona, gritava como se minhas poucas palavras houvessem a ferido em um nível espiritual. Nada pude fazer além de manter um leve sorriso, observando-a se mover em alta velocidade. Eu desconhecia seus novos poderes, e mesmos há séculos atrás, não tive a oportunidade de vê-la lutando. Com a katana em mãos, a Arrankar pairava ao ar como um pássaro, caindo e desferindo movimentos leves, quase sincronizado com a destra, mirando o fio de sua lâmina contra o meu corpo. Eu tinha o estranho sentimento de que caso aquela lâmina me tocasse, seria o fim. Portanto, esquivei-me de cada ataque, até que um deles alcançara o chão. Naquele mesmo momento, a terra simplesmente começou a morrer. Ou melhor - Retroceder. As árvores que ali existiam tornaram-se nada além de miúdas sementes, e o solo gramado tornara-se um amontoado de pedregulhos minerais. Este era o poder da liberação de Junji: Retroceder tudo aquilo que ela for capaz de cortar.

— "Consegue retroceder tudo aquilo que tocar, não é? Impressionante, mas já vi variações mais fortes do seu poder." — Mantive o tom calmo, começando a tocar a guitarra por mais uma vez. — "Por que com isso quer continuar, Junji? Já se fazem mais de setecentos anos. Não há mais nada pra você na Soul Society!" — A Questionei.

— "Ainda há, Noritoshi." — Ela respondeu.

A fala fora seguida por um amontado de energia espiritual que fora concentrado na ponta da lâmina da hollow, que a disparou na forma de um gigantesco Cero que cobriu uma distância colossal de trinta metros. Era mais forte do que um cero comum, e incinerou tudo aquilo que foi capaz de tocar. Contudo, minha velocidade fora capaz de fazer-me reagir a tempo de desviar sem sofrer quaisquer danos. Junji, no entanto, estava completamente focada na batalha. Com um salto que fora realizado logo após a conjuração do Cero, caía dos céus para tentar me cortar verticalmente com sua lâmina, estendendo o seu alcance ao criar uma camada de reiryoku ao redor da espada. O golpe viera, e para reagir, toquei as notas graves da guitarra, fazendo com que um pulso sonoro de potência extrema paralisasse todos os seus músculos.

Bastou um instante - Sua lâmina estava a poucos milímetros de minha pele, e mesmo assim, fui capaz de reagir.

Então, prossegui com um chute giratório que atingiu a mulher em cheio em sua barriga, enviando-a pra vários metros de distância. O corpo se colidiu com uma rocha distante, fazendo com que uma nuvem de poeira se erguesse por detrás das moitas. Ela se levantava com certa dificuldade, por ter seu corpo seriamente danificado pela colisão. Ela não era forte o suficiente para me enfrentar - Ou talvez estivesse me testando? Não parecia levar a batalha a sério. Até que viera: Sonido. Com um som de estática momentâneo, seu movimento relampejante cruzara toda a distância entre nós em um piscar de olhos, fazendo com que estivesse a pouco menos de vinte centímetros de mim. Sua lâmina viajou até o meu pescoço. Porém, antes do golpe conectar, ela o parou.

— "Me sobrou algo Noritoshi." — Deu uma breve pausa. — "Você." — Finalizou.

Então, a mulher baixou a sua espada, aproximando-se de minha face. Deu um único beijo - Seus lábios tocaram os meus após setecentos anos distanciados entre mundos alternativos. Nada pude fazer além de aceitar. Permaneci calado, como se não pudesse acreditar no que via e ouvia. Junji abri um leve sorriso, e tomou a minha mão esquerda.

— "Aquele não é seu lugar, Noritoshi. O seu verdadeiro lugar está além das barreiras deste mundo. Me prometa...Me prometa que voltará. Não só por mim...Mas por todos. Já chega de servir àqueles cachorros do Sereitei. Está na hora de você se libertar." — Disse, se afastando logo em seguida. — "Já chega desse sofrimento." — Concluiu.

Então, uma Garganta surgiu.
Ela fora levada para o Hueco Mundo, deixando que lágrimas percorressem o seu corpo. Estava paralisado, incrédulo. Mas já havia tomado a minha decisão. Assim como disse a Black: Eu não sou nada, e sirvo somente a mim mesmo. Eu viverei pelo que eu acredito. E o que eu acreditava no momento é que a carne shinigami era pútrida, blasfema. Eu gostaria de ir junto a Junji e esquecer todo o passado.

Mas com este corpo? Não.
Eu precisava superar os limites. Algo muito além da carne.

Informações:

— "Noritoshi-San!" — Okita correu até minha direção, ofegante. — "O Senhor está bem?!" — Ele questionava.

— "Foi apenas uma inconveniência, Okita. Não há necessidade para se alarmar por conta disso. A Hollow já se encolheu de volta para a toca de onde veio, está tudo bem. Porém, sei que não deveria ter utilizado uma liberação de tal calibre por aqui. Mas agora...Está feito. Não há mais motivos para permanecermos aqui." — Ditei, disfarçando o verdadeiro ocorrido.

Então, ele acenou com a cabeça em sinal de concordância. Sabia muito bem que não estava em posição de discordar de minha pessoa, porém ainda me impressionava o quão baixo um ser poderia ir para reconquistar o que já perde. Ah...Me lembrava de mim mesmo. Joguei os olhares para o alto e suspirei, desativando a Shikai, que voltara a ser uma Wakizashi, tão rapidamente guardada por debaixo do terno negro. Ayla continuava ao longe, observante. Era hora de nos reunirmos, e retornarmos para a Sociedade das Almas. Tínhamos mais do que consciência de que permanecer fora por tanto tempo poderia ocasionar graves problemas, e eu não pretendia deixá-los logo agora, enquanto o conhecimento transcendente não estiver em mãos. Quando todos estivessem reunidos, o Senkaimon seria aberto.


Atravessei o portal interdimensional para retornar até a Soul Society, mais especificamente nos arredores da Sexta Divisão. Não muitos capitães ou tenentes haviam permanecido no Sereitei, e esperava que menos ainda retornassem vivos. Com os passos dados em uma planície gramada, Ayla logo escondeu-se, suprimindo sua Reiatsu maléfica e afastando-se de nós o quanto antes, enquanto Okita permaneceu ao meu lado.

— "O que você está pensando, Noritoshi-Sensei?" — O jovem perguntava, notando a minha impaciência.

— "Eu vou me tornar um capitão. Será mais fácil fazê-lo desta forma, minha posição me trará influência e ainda mais poder. Quando isto acontecer, quero que você deixe sua divisão e aliste-se na minha. Se o patético Ohta desfalecer no Hueco Mundo, será muito mais simples. Caso não, irei matá-lo. Pouco importa." — Respondi, olhando os arredores com as mãos no bolso. — "Mas as coisas nunca ocorrem como queremos, não é?" — Finalizei.

— "...Entendo. Até mais, Sensei." — E deixou-me, com semblante melancólico.



O dia se passou, interminável. Pensava nas palavras da mulher, conflitando com meu próprio passado. Havia eu afundado de tal maneira que sequer posso me lembrar de quem fui há mil anos atrás? Era difícil de acreditar que um guerreiro sanguinário como eu  viesse a se tornar este pedaço de merda desalmado e quebrado. Eu não era ninguém, por mais de 700 anos assim permaneceu. Não havia poder, não havia influência ou renome. Era só mais um qualquer, a minha honra havia sido despedaçada. Todos eles estavam mortos, por minha causa. Os bons amigos do passado corromperam-se por culpa de minha arrogância. Deixei os sentimentos me levarem. Agora, retornava aos braços de quem mais me odiava, somente para continuar este inferno eterno. Mas, no fim, será que havia outra opção?

— "Eu já me decidi." — Ditei, deixando a minha residência, em meio a madrugada estrelada. Solitário em um vale de sombras, olhei para cima, erguendo o braço direito como se tentasse tocar as estrelas. — "Consegue me ouvir, Jean? Onde quer que você esteja...Saiba que eu não irei voltar atrás com a minha promessa! O que eu paguei com sangue para honrar sua memória será cumprido. Por você...e por eles também. Espero que esteja bem entre as estrelas...Mas acho que você terá que esperar um pouco mais por mim. Ainda há algo que preciso fazer neste inferno." — Ditava as palavras em nome da falecida e única mulher que verdadeiramente amei, aquela quem formou a minha família e sonhos. Dei as costas, para me envolver de sombras novamente.



Foram minhas últimas palavras.
Os shinigamis pagariam pelo preço da traição.


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