Talvez eu realmente seja uma Shinigami digna de se ter pena, e que não merece toda a responsabilidade que Yuichi pensou que eu aguentaria. As palavras de Himari soavam como carícias em meu ego, como se ela tentasse arduamente evitar que eu cometesse uma atrocidade contra minha própria vida. A frustração de fato estava evidente em minha face, entretanto, não conseguia considerar aquela última tarefa completamente desastrosa, não após vivenciar as inúmeras ocasiões que me concederam tanta experiencia.

— Está tudo bem, Himari! Obrigada pelas palavras. Você consegue obter mais informações sobre nosso alvo e encaminhar para minha sala? Estarei esperando pelo seu contato. — Lancei enquanto dava as costas, rotacionando levemente o rosto para mostrar metade de um sorriso complacente. Tentei passar confiança a ela, assim como meu capitão me passara em inúmeras situações parecidas. Ao mesmo tempo, esperava que minha confiança conseguisse convencer a mim mesma, na ausência de Yuichi.

Quando a porta foi fechada em minhas costas, pude suspirar e deixar que meu nervosismo se manifestasse. A divisão já havia estado sob minha supervisão anteriormente, mas em nenhuma das vezes eu senti tanta pressão quanto agora. ”Droga.” — Resmunguei, lançando-me sobre a cadeira que repousava ante a mesa principal, refazendo mentalmente todo o caminho que fizera durante minha última saída, tentando buscar pelos erros cometidos.

Considerações:

Descrições:

Os serviços de Himari demoravam a dar frutos, porém isso não me incomodava completamente, agora que me via ocupada com a análise de inúmeros documentos que foram acumulados durante o período de ausência do Capitão. Enquanto averiguava certos manuscritos, o toque leve e característico de Himari se fez presente na porta de madeira, solicitando sua entrada, que foi prontamente permitida por uma ordem vocal que partira de minha posição.

A Shinigami mais nova trazia um papel enrolado entre seus braços, que logo após revelou tratar-se de um mapa. Segundo ela, a criatura que havia falhado em purificar estava há quilômetros de distância do local onde houve sua última aparição, o que soluciona o mistério relacionado a minha falha em encontra-lo, mas cria um novo mistério, sobre como diabos ele se moveu tão rapidamente. — Alguma hipótese, Himari? — Perguntei a Oficial, respeitando sua inteligência acima da curva, mas a mulher dava de ombros, tão perdida quanto eu.

Com semblante imbatível, levantei em um salto rudimentar, atravessando a sala enquanto dedilhava o pomo da espada embainhada na cintura. — Dessa vez não voltarei de mãos vazias. Obrigada por seu esforço, Himari-chan. — Lancei de maneira espontânea, dando as costas e traçando um caminhar desenfreado em direção ao meu ponto de conexão para o mundo humano.

Considerações:

Descrições:

Poucos minutos haviam se passado desde que Himari me trouxera as informações necessárias para prosseguir, e a Seireitei não mais se fazia presente no cenário ao meu redor. No lugar, o sol do mundo humano irradiava seu brilho sobre minha pele pálida, enquanto eu sentia a grama alta tocar meus tornozelos. O ar fresco e abundante trazia consigo um aroma floral característico de cerejeiras, que se mostravam numerosas em um vasto campo rosado.

Dessa vez, não deixei que a beleza dessa terra interrompesse meus movimentos, e em uma rápida investida, avancei em direção as coordenadas citadas por Himari, para alcançar a localização do inimigo que falhara em encontrar previamente. Em minha mente, era como se nada pudesse me impedir de alcançar meu objetivo, e pensamento algum mostrava-se presente, nem mesmo a contínua preocupação sobre o estado de Yuichi.

”Segundo Himari, o Hollow está sem se movimentar, o que é um comportamento contraditório, quando penso em todos meus encontros com essas criaturas...” — A linha de raciocínio era imediatamente interrompida, enquanto um salto era realizado para trás. Graças aos reflexos, conseguia desviar de um projétil rochoso, que passava a poucos centímetros do meu rosto. Ao focalizar a visão, meus olhos se encontravam com a silhueta de uma criatura reconhecível, há poucos metros de distância.

— Você não é meu alvo. — Pensei em voz alta, enquanto a destra alcançava a bainha da Zanpakutō e trazia a lâmina frente ao rosto. Em pose característica, um tímido sorriso foi emitido. ”Mesmo não sendo meu alvo, você precisa ser purificado.”

Considerações:

Descrições:

Diante de mim estava um ser cujo a existência trazia-me profundo desgosto, dotado de uma aparência distorcida e distante de qualquer traço de humanidade, não muito diferente de qualquer outro devorador de almas que já purifiquei anteriormente. Um detalhe em específico torna esse encontro único em minha perspectiva, detalhe este capaz de trazer grande mistério sobre a real natureza desse embate, fazendo-me até mesmo duvidar da hipótese de coincidência. Por algum motivo, a criatura estava sem uma máscara em sua face, o que limitava sua força, gerando em minha mente hipóteses de como aquilo acontecera.

A julgar pelo seu comportamento, ele parecia estar protegendo a área adiante, como um cão de guarda, mantendo-se estático perante minha presença, e retribuindo agressivamente somente meus avanços. Por mais que minha missão fosse outra, aquela criatura estava causando impacto negativo no equilíbrio dos mundos, e muito embora essa não seja a minha função preferida como uma Shinigami, cabia a mim purifica-lo.

Com a Zanpakutō desembainhada e em descanso diante da destra firme, os membros inferiores iniciaram um avanço, enquanto os longos fios morenos roseados alçavam voo perante o mínimo vórtice que despertava a partir dos movimentos. Neste instante, para aquela criatura, talvez eu não passasse de um mero borrão, que avançava de forma atroz contra seu corpo abominável, desferindo inúmeras estocadas contra pontos distintos de sua forma, reduzindo-a a uma existência que arduamente lutava para manter-se firme nesse mundo. — Saia do meu caminho. — Lancei contra o alvo de meu repúdio, enquanto recuava em um salto improvisado, fitando-a por um mísero instante.

Considerações:

Descrições:

Embora durante meus inúmeros golpes a criatura respondia com movimentos lentos e reclusos, tentando lutar minimamente de forma defensiva, mostrando-se como uma barreira para atrapalhar meu avanço, agora ela se mantinha estática, com seu olhar monstruoso fixado em minha presença, causando-me leve desconforto, enquanto alimentava ainda mais a ideia de que encontra-la não foi uma coincidência. Reconhecendo sua força e sabendo que não poderia mais perder tempo, a espada foi novamente levantada frente ao rosto, e com um único e tênue avanço, a Zanpakutō atravessou completamente sua face, desfazendo todo o restante de forma física que a criatura possuía.

— Você irá para um lugar melhor. — As palavras soavam de forma melancólica, ao passo que a destra brincava com a espada, cortando o ar antes de voltar ao seu merecido repouso na bainha sobre a cintura. Aquele combate havia me nutrido conhecimentos diversos, não só sobre minha própria forma de batalhar, como também sobre o comportamento dessas criaturas que devo purificar. Entretanto, não poderia me entregar ao descanso — deveria continuar minha caminhada e encontrar a criatura que falhara em exorcizar previamente, o possível pivô de todas aquelas anormais aparições nessa área do mundo humano.

Esse baile de máscaras está prestes a terminar.

Considerações:

Descrições: