O Octogésimo distrito de Rukongai, Zaraki, é uma terra sem leis, uma memória do inferno dentro de uma terra que deveria representar o paraíso. A menina surgiu como uma alma errante naquela terra; sem pais ou irmãos, apenas uma existência fraca com uma faca apontada para o seu peito. Seu espírito ainda não tinha propósito, mas não foi necessário mais do que um dia naquele terrível buraco para que o encontrasse: sobreviver. A alma errante cravou os dentes sobre a vida, debruçando-se sobre uma pilha de cadáveres na medida que se arrastava para fora do abismo. Emaranhando-se com os mais terríveis dos crimes, a criança matou, roubou e tomou para si aquilo que tinham de mais precioso, garantindo que a própria vida fosse preservada a todo custo. Era o seu objeto de adoração, o que tinha de mais precioso e o impulso que dava razão à sua existência. Por mais que sentisse vergonha e compaixão para com seus inimigos, sabia que ao fim da colina descansavam os mais vis dos algozes: a Fome, vagarosamente apodrecendo a carne e ceifando-lhe as forças; o Caos, enlouquecendo a mente ; e a morte, como o descanso final dos que falharam na jornada.

Quando finalmente foi encontrada — ou mesmo encontrou, haja vista a discrepância entre os fatos narrados e as suas memórias — pela Shinigami conhecida como Nomi, a menina era como um animal enraivecido. Não sabia falar ou organizar seus pensamentos, e entendia somente o bastante do mundo para que entendesse a diferença de poderes entre ela e a Deusa da Morte. Tinha um espírito forte, uma vontade inabalável e um potencial instintivamente poderoso, suficiente para que a criatura sem nome foi tomada sob a tutela da Shinigami e nomeada Hinata Kagura, para que andasse entre os de sua espécie e encontrasse na vida um propósito melhor do que o de viver às custas da perda dos outros. Entre os "cultos", como costumava dizer, a menina aprendeu a ceder, a aceitar que o próximo também carregava uma consciência de si e que sofria dos mesmos males que a afligiam. De repente, todos os crimes cometidos em vida com o único propósito de sobreviver pesaram em sua consciência.

Mas era forte e determinada. Não combinava com o seu espírito cruzar os braços e lamentar por toda a eternidade. A menina das madeixas prateadas encarou a vida de um Ceifeiro de Almas como uma penitência e uma dádiva; como uma protetora e um guia dos mortos, daria um fim digno às almas cansadas que perderam o seu coração e mostraria o caminho àqueles que ainda tinham forças para procurar salvação. Não era pura e nem tampouco santa, talvez tivesse mais pecados do que qualquer outro Shinigami no Seireitei, mas não faltavam-lhe forças para seguir em frente, para mudar o seu destino e de todos os outros ao seu redor.