A batalha instaurada pelo Las Noches na reunião com os Espadas e Shinigamis estaria marcada para toda a história de ambos os mundos, um momento tão único capaz de manchar o tecido de ambas as facções e deixar marcas visíveis pelas suas hierarquias. Kana, particularmente, já havia se recuperado de sua luta com a capitã-comandante, e sentia que algo estava mudando dentro de si, como uma planta lentamente crescendo suas raízes. Ela, por sua vez, se moveu pelo castelo em direção a grande luz que se formava decorrente da fogueira ao longe, como um inseto atraído por uma lâmpada.

Ela particularmente nunca tinha participado de um funeral antes, no máximo quando ainda era Shinigami, pela morte de um amigo ou outro em suas épocas de pobreza. Contudo, essas memórias estariam profundamente afastadas de sua consciência, esses detalhes não lhe eram marcantes o suficiente. Por causa disso, ela também não sabia ao certo o que sentir sob esse tipo de situação, já que apesar do respeito imenso pelos seus companheiros, por dentro tinha a sensação de que eles morreram por não serem fortes o bastante.

- É… Pelo visto existem desafios tão altos que a capacidade para superá-los se torna muito além do que podemos alcançar. - disse a si mesma, vendo a chama brilhante de longe, enquanto alguns outros Arrancars sussurravam pelos corredores.

Sua presença era imponente a todos aqueles meros Fracciones e soldados do castelo, com seus passos foi-se exigido respeito sem ao menos dizer uma palavra. Em seu pescoço, exibia a nova numeração que a si havia sido atribuída, pois agora se tornou a terceira Espada do Rei. Em sua mente, restaram os fragmentos daqueles que haviam sido perdidos para a morte, e por eles devia prestar também as suas homenagens. Particularmente, ao saber dos rumores do antigo líder dos Exéquias, que sozinho foi capaz de manter inúmeros Deuses da Morte sob controle. Aquilo era sem dúvidas um feito que ela poderia apenas admirar, pois não conseguia imaginar como ela poderia fazer algo assim.

O ambiente estava quieto, com murmúrios e olhares de vários Espadas pela fogueira, nem ao menos os corpos dos mortos puderam ser prestigiados. Era algo simbólico, que Kana entendia minimamente, já que para ela era somente uma forma de gerar um último suspiro coletivo em prol das memórias destes indivíduos. Até mesmo o próprio Rei estava presente, e ele parecia mudar ainda mais o seu comportamento desde a sua última interação com Kana, prestigiando mais o bem estar do seu castelo do que com os seus pilares de poder, seus guerreiros.

Ela se aproximou sem se meter no caminho de nenhum deles, adentrando completamente exposta ao julgamento de qualquer um dos demais. Afinal, ela foi quem derrotou Kuina, mas ao mesmo tempo a deixou escapar, e talvez isso tenha sido um motivo para desgosto de alguns. Contudo, nada que a fizesse realmente se importar, já que ela havia cumprido o seu papel naquela guerra sem fim. Quem pudesse perceber, notaria que seu semblante havia mudado um pouco desde que se viram na batalha, talvez um pouco mais calma do que antes, ou um pouco mais fraca pelos olhares desavisados de outros. Porém, não com menos ódio dos Shinigamis.

- É… Tanto faz, eu já vou atrás deles de qualquer maneira. - diria depois da fala de Denki, instigando uma vingança. Pessoalmente, ela já tinha todos os motivos para invadir a Soul Society até mesmo sozinha. Dando de ombros, pareceria um pouco ingênua em sua fala, mas não estaria a rir em nenhum momento, falaria com sinceridade. Apesar de ser uma Espada, tinha uma liberdade até mesmo imbecil ao se dirigir com todos da hierarquia, talvez pela sua falta de inteligência abissal ou sua confiança em sua força descomunal.

- Eu, honestamente, não ligo pro Hueco Mundo. - diria abertamente a todos alí. - Mas tenho respeito pelos que morreram tentando defendê-lo e mataram esses cuzões da Soul Society. Jowgrimm será lembrado como uma verdadeira lenda desta guerra, e aos outros acompanharam seu legado. - Até que em sua mente passou o semblante de um dos Espadas mais alucinados que já havia encontrado, Magnus. Por algum motivo, este se perdera em seu conto de fadas, e se vangloriava por tempos perdidos, que provavelmente sequer existiram. Por ele, restou apenas dor de Kana, em pensar que carregava consigo o número 1.

- O reizinho eu não sei, mas vocês estão parecendo mais abalados do que deveriam, hein.. - diria na maior cara de pau, como se todos estivessem prestando cinzas e choramingando. Talvez ela mesmo não percebesse que estavam de luto em respeito aos companheiros perdidos, pode-se dizer que ela encarava esse tipo de prestígio de forma diferente da maioria dali. - Espero que um dia eu possa descansar também, como vocês, se um dia isso me for reservado de alguma maneira… - Abaixaria a sua cabeça em reverência aos que se foram, porque sabia que um dia a morte também viria a ela.

Considerações: