Tremia incontrolavelmente. Respire fundo, Flan, pensei, tentando impor por força bruta a calmaria à meus braços e pernas, tentando disfarçar os tremores para que o pesquisador chefe do experimento não suspendesse o teste. Tinha aceitado servir de cobaia no experimento tanto pela importância de suas descobertas potenciais, como pelo fato de que me sentia inútil desde que os últimos projetos tinham sido encerrados. Além do mais, oficiais costumavam participar dos experimentos da própria divisão, visto que era difícil atrair candidatos de outras divisões.

Meu medo passou despercebido, então observei ele caminhar até um computador a um canto da sala. Apertou algumas teclas, pressionando com mais ênfase nos momentos finais, o que supus ser uma confirmação do que digitou antes. Um zumbido, a luz piscou. Pronto, estava começando. Respirei fundo novamente, tentando relaxar os ombros, tentando deixar os braços confortáveis sob as amarras de couro que me prendiam na maca. Aquilo era realmente necessário?

Mesmo antes de minha Reiatsu ser selada com o Gentei Reīn, senti sua influência se aproximando de mim. Conseguia lidar normalmente com a presença dos outros capitães devido a distância e forma com que as divisões se organizavam, mas assim que recebesse o selo estaria completamente vulnerável. Foi nesse momento que percebi o descontrole sobre minha própria Reiatsu — mesmo na academia Shin’so, eu fazia tudo instintivamente, deixava que a frustração e o medo da reprovação tomassem conta. Agora, era necessário controlar minha força e tentar fazê-la vencer a barreira invisível que me separava de meu potencial. Afinal, mesmo sem acreditar em destino, deveria existir um propósito para uma criança pobre sair de um distrito esquecido na Rukongai e se tornar Shinigami, não?

Senti o aperto do selo anular minha Reiatsu. Era como ser afogado, mas a sensação inicial era que um oceano me engolia, sem fornecer quaisquer chances de luta. A respiração entrou em desalinho, me desesperei. Até mesmo a presença do pesquisador, longe de possuir qualquer poder de batalha, começou a causar incômodo. No segundo seguinte, senti a pesquisadora que o ajudava. Pouco depois, toda a sala adjacente, os pesquisadores caminhando através do corredor, as presenças do lado de fora, a energia espiritual contida até mesmo nos equipamentos da sala de experimentação. Agora compreendia o propósito das amarras. A racionalidade foi rapidamente sobreposta pela ânsia de se levantar e sair correndo. Respirar — Respirar fundo não parecia ser uma escolha. O selo era forte o suficiente para deixar um ceifador com o mínimo de Reiatsu necessário para sobreviver.

Compreendo.

Depois dos primeiros minutos de agonia, minha mente superou a insanidade para a qual eu deslizava lentamente. Recobrei os sentidos, respirando, inspirando, ajeitando meu corpo na maca, como se isso de alguma forma fosse importante. Abri os olhos, tentando encontrar os pesquisadores na sala. Ele, à minha esquerda, ela, diagonalmente à minha direita, bem próxima da porta. Afastá-los só poderia ser alcançado através de minha própria Reiatsu, o que significava romper mesmo que um pouco a influência do selo. Desviei minha atenção pro selo, posicionado sobre meu peito, exercendo a mesma pressão que uma pedra posta contra o diafragma.

Os sacrifícios que o progresso exige…

Por instinto, imagino, liberei tudo que estava contido num único golpe de pressão espiritual, expelindo a Reiatsu num jorro de fúria e frustração. Meu golpe inicial só fez balançar a contenção do selo, mas pareceu a mim que o incômodo das outras presenças amainava.

Bom, pensei. Um começo. Era como se uma porta tivesse sido aberta, mas apenas o suficiente para ver a próxima. Tentei atravessar, mas novamente o selo me interrompeu. Parecia uma barreira intransponível.

Meu esforço devia ser nítido também fisicamente, pois escutei o pesquisador e sua assistente conversando sobre diminuir a influência do artefato.

NÃO!, gritei. Não tirariam isso de mim. Precisava ser mais forte, precisava me fazer útil. Precisava ser capaz de, quando necessário, agir por conta própria e proteger minha divisão, os demais oficiais, meu tenente, o capitão, a Soul Society inteira. Em meio a turbulência, escutei um coaxar. Ele parecia me dizer o caminho. Continue tentando, como um aríete arrematando contra os portões de uma fortaleza.

Então senti. Todas as presenças com as quais lutava simultaneamente desapareceram abruptamente, devolvendo meus sentidos ao que eram. Sem a pressão espiritual até mesmo da alma mais insignificante, senti que apenas corria com pedras em meus sapatos. Dessa vez era apenas como lutar para não se afogar, ao invés de debater-se impotente no fundo do oceano. Respirei fundo, focando minha Reiatsu naquele ponto no centro do peito, o selo. Tentei atravessar a barreira. Novamente o pesquisador conversou com sua assistente, temendo não pela minha vida, mas pela integridade do selo, que por vezes se debatia acima de mim.

Uma última vez, pensei. Permiti relaxar por um instante, tendo de lutar novamente com todas as presenças ao redor, apenas por tempo o suficiente para retomar o fôlego e preparar uma nova investida. Consegui controlar a Reiatsu dentro de mim, manuseando-a como uma espada, mirando no selo. O suor que brotava da testa escorria sobre os olhos e, com as mãos ainda presas, deixei o sal arder e ofuscar a visão.

Agora ou nunca.

Você consegue Flan?

Eu consigo.

Não. Não. NÃO!

Depois de um zumbido, o selo foi desfeito. Desfeito antes que eu pudesse dirigir meu golpe final contra ele nesse embate. Teria de aceitar minha derrota, embora poderia também considerar uma vitória moral. Observei o pesquisador fazer algumas anotações em sua prancheta, me fitar, depois fazer algumas medições apontando para mim uma máquina que cabia na palma da mão.

Não é fácil ser fraco.

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