O ambiente enegrecido de seu cômodo não o impedia de visualizar com perfeição os dois invasores que havia pego horas atrás. Estavam à sua frente, um deles, o de rosto espichado e pontiagudo, encontrava-se desacordado, com o corpo grudado ao assoalho. Seu parceiro, rechonchudo e de face achatada e retangular, se debatia como um peixe fora d'água, atemorizado. Quem em sã consciência enviaria um Hollow medroso desse para uma missão? Não parecia fazer sentido, no entanto, lá estava ele, tremulando como uma folha ao vento, temendo pela vida.

A pupila maligna de La Sombra mais uma vez era a única emanação de luz presente, e, de certa forma, o cenário que criava era propenso a intimidação. Qualquer um exposto àquela situação tremeria frente ao Espada e sua foice demoníaca.

– Neretto. – Pronunciou o nome do Hollow como se o conhecesse há séculos, a voz, sempre rígida. – Por que ainda não arrancou sua máscara? – Mesmo com luminosidade lânguida, pôde vislumbrar a confusão que sua pergunta aparentemente despretensiosa causara a criatura. Ora, ele sabia a resposta; para que Hollows retirassem suas máscaras, primeiro era preciso que obtivessem consciência suficiente de suas existências enquanto seres pensantes, já que a condição bestial e irracional era imposta indiscriminadamente a todos os aportados no Hueco Mundo. Entretanto, o preço a ser pago pela sapiência era o canibalismo, a ingestão de outros de sua própria espécie, para a ascensão a uma existência superior, e então, finalmente, a máscara poderia ser retirada, mascara essa símbolo do animalesco, do ser impensante e abominável, que outrora habitara todas as criaturas daquele mundo.

Se houvesse dignidade em Neretto, envergonharia-se e se manteria em silêncio, era o que Kayn teria feito em seu lugar. No entanto, desprezando seu brio, a coisa flácida e trêmula o respondeu:

– E-e-eu nunca comi outro Hollow... – Era humilhante admitir aquilo, era humilhante ouvir aquilo, e mais humilhante ainda se fosse verdade. E, é verdade.
– Isso está impresso em você. Foi uma pergunta retórica. – Testificou. A fraqueza alheia sempre lhe incomodou, mas passara tanto tempo encastelado por detrás das muralhas de Las Noches que se esquecera o quão patéticos e insignificantes os seres externos a ela podiam ser. – Então, por que Jurial teria enviado-lhe até aqui, Neretto? Não me parece razoável que alguém fraco como você tenha sido escolhido de forma lógica para entregar um presente tão importante ao Rei do Hueco Mundo. Algo mais aconteceu? – Viu-o se remexer inquieto. As mentiras já estavam se tornando escassas graças à sua capacidade de raciocínio limitada.

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Após notar que o ressábio de Kayn não feneceria, Neretto pôs-se a falar.

– E-e-eu t-t-tenho uma habilidade especial... – A escuridão não permitia que o Hollow visse as cintilações na face do Espada, mas se visse, de certo defuntaria.
– E pretendia me contar quando sobre ela? – Esturrou, e o olho maligno de La Sombra ardeu carmesim, refletindo nas pupilas douradas e dilatadas de Neretto. A criatura era tão miserável, que até o Shieda sentiu-se incomodado ao pressiona-la psicologicamente daquela maneira. É como torturar um inseto. – Que habilidade é essa? Anda, desembucha. – Estava perdendo a paciência, se é que já não a tinha perdido.
– Eu p-p-posso sentir a reiatsu de outros Hollows... – Contou-lhe.
– E porque é que essa habilidade seria assim tão útil para você? – Assim que terminou a indagação percebeu a resposta. Óbvio... para sentir quando nós, os Espadas, nos aproximássemos. Mas parece não ter funcionado, apesar de tudo. – Você é deficitário até no uso de sua própria habilidade especial, Neretto. – Ofendeu-o gratuitamente. Agarrou a arandela da foice e arrastou-a até a porta. Abriu-a, e o brilho do lado externo fez o flácido Hollow cobrir a vista, enquanto o Espada esquadrinhava o corredor.
– Levanta-se, já é noite. – Bradou. Era um mistério como categoricamente tinha cravado àquela informação, uma vez que não existia janelas próximas que dessem a ele aquele conhecimento. – Pegue o outro e guarde-o na saca de pano que você carrega. – Deu a segunda ordem.

Esperou até que a passagem fosse despovoada, colocando Neretto a frente, enquanto taciturnamente seguia para o corredor. La Sombra arranhava o assoalho como um animal ensaguentado, grunhindo alto numa mania insuportável que Kayn havia adquirido. Avistou uma das saídas ao final da reta interminável, e tinha acertado... Era noite.

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As areias infindáveis do Hueco Mundo logo os defrontou com àquela paisagem desoladora e aparentemente sem fim que costumava sempre ostentar. Mas tem fim... Jamais havia chegado nem mesmo próximo à borda daquele universo, mas tinha irresoluta noção de sua finitude. Nada é eterno. Neretto era o condutor do trio improvável, e mesmo que fosse completamente arriscado aquela decisão, não tinha com o quê se preocupar. Era fora de cogitação qualquer tipo de rebelião por parte daqueles Hollows, e ainda que acontecesse, o que poderia fazer com Kayn? O máximo que aconteceria seria a diminuição de algumas dezenas, ou até centenas de habitantes do Hueco Mundo, só isso. Podia ser irrefreavelmente implacável quando lhe era conveniente.

Quando pensou que o caminho plano e improgressivo do deserto fosse exaurir sua mente até o limite, sentiu os pés deslizando por sobre a areia num declive que até então tinha passado despercebido por ele. Um vale os esperava no fim da gigantesca duna, repleto de pilastras e colunas tombadas, espaçadas e enterradas na areia como um cemitério de carcaças, todas feitas do mesmo material usado na construção de Las Noches. Racionalizou ligeiramente que o lugar pudesse ser uma antiga corrutela de Hollows, varrida pelo tempo, só não tentou adivinhar o período.

Quando aterrissaram a escarpa, o Hollow anafado não parecia nem um pouco estranho ao lugar, e seguiu caminhando e lançando olhares temerosos a Kayn à medida que se aproximavam.

– É logo a frente. – Avisou. É bom que seja.

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Uma fenda entre pilares caídos sugeria uma passagem, uma reta escura com um ponto cintilando luz no outro extremo. Não tinha porquê temer nada ali, nem mesmo uma emboscada. Eram insetos, muito inferiores a ele, sequer com capacidade cognitiva de planejarem um estratagema como aquele. Ordenou para que o flácido Hollow de máscara achatada fosse a frente, e este anuiu. Alguns metros a dentro e sentiu a mudança abaixo dos pés, as areias do Hueco Mundo tornaram-se pedra branca e sua foice lhe implorou pra ruidosamente arranhar aquele solo. Permitiu.

Quando o som aborrecível ressoou, Neretto olhou para trás confuso, mas que autoridade a ínfima criatura tinha para repreender Kayn? Nenhuma. E assim o Espada manteve-se a anunciar sua chegada com o arruído de La Sombra vagueando sorumbaticamente até onde quer que aquela passagem desse fim. Que seus tímpanos explodam, quem se importa?

– A-a-acho que ele acordou. – Avisou, enquanto Kayn observava a saca de pano se remexer atrás das costas largas do Hollow. Pôs o gume da foice em riste enquanto observava o outro, de rosto espichado e pontiagudo se reaver. Quando testemunhou o Espada e o local em que estavam, esbravejou.
– O que você fez seu idiota!? – Indagou estérico ao comparsa. O olho de La Sombra cintilou rubro em resposta. Este realmente quer morrer... – TROUXE ELE PARA CÁ, VOCÊ É UMA BESTA, ARRUINOU TUDO! – Num átimo, a parte cega do gume da foice chocou-se contra a lateral do corpo do Hollow, imediatamente lançando-o contra a parede.
– Está fingindo que não estou aqui, verme? – A força fora suficiente para que o flanco do corredor tivesse se rachado com o impacto.
– M-maldito... – Resmungou. – Pode me matar se quiser, não tenho medo... – Tem mais dignidade do que o outro, ao menos, admitiu.
– Morrer seria bom demais para você. – Aproveitou a posição vulnerável que estava e apanhou o Hollow do chão fincando a extremidade de La Sombra em seu traje superior. Jogou-o a frente de Neretto e rosnou: – Caminhando, os dois. – O mais rebelde deles estatizou-se por alguns segundos, mas o bom senso lhe venceu no fim.

O pequeno ponto brilhante de outrora era maior agora, e uma imagem mais nítida já era possível ser visualizada. Chegavam, e sem recepção ou balbúrdia. Teriam uma segurança tão falha a esse nível ou...? Cogitou.

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Antes que o cenário se abrisse diante deles, Shieda Kayn iniciou uma insidiação sútil, através da emanação de sombra provenientes da passagem cilíndrica que percorriam. Era o melhor naquilo, em manter-se escondido, as sombras sempre o abraçavam afetuosamente. Encontrava conforto quando não o viam. Os dois sob sua tutela seguiram até o final da travessia e pararam, o Espada percebeu se tratar de uma escarpa. Um local subterrâneo... adequado, teve de admitir. Quando as duas figuras lançaram um soslaio para trás e verificaram a ausência do Shieda, saltaram para o abismo sem pestanejar. Previsíveis... Já esperava por aquilo. Quando caíram, escutou o estrondo dos corpos estatelando desajeitadamente no concreto, e pela demora e o som que fizeram na colisão, conseguiu mensurar a altura da queda. Vinte metros. Manteve-se oculto e esgueirando-se pela escuridão das laterais, até conseguir por os olhos no que havia abaixo.


Um grande negrume tomava o solo daquele segundo vale, obstruindo à sua vista. Agarrou o cabo da foice e a lançou rotativamente no abismo, com o olho maligno e rubro da arma a girar enquanto voava até o térreo. Assim que ouviu a aterrissagem de La Sombra, desceu, tácito como só ele conseguia ser. Para todos os lados que vislumbrava; trevas, indistinguíveis e frias. Como isso é bom... Se pensaram que ambiente lúgubres podiam-no fazer regressar ou desistir, estavam profundamente enganados. Mais ainda se acham que podem se esconder de mim. Shieda Kayn há muito adotara as sombras como parte de si, de sua personalidade, de seu ser.

Furtivo, teve a descendência em negar o clamor da foice por alastrar seu arranhar pelo solo. Agora não... Queria ser o mais inexistente possível.

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A escuridão enevoava-o como um passageiro, translocando-o imperceptível até seu rumo final. Não sabia, entretanto, qual era esse, mas atinha-se a tentar traçar uma hipótese imaginária de para qual dos lados os dois intrusos tinham ido. A pupila maligna de La Sombra estava desativada e turva, tudo para torna-lo ninguém naquele lugar. Uma injeção de adrenalina subiu-lhe a espinha, era divertido quando não o viam. Sabem que eu estou aqui, mas não sabem onde, tinha o controle em suas mãos.

Não escutou balbúrdia alguma, entretanto, ao contrário do que se esperaria de uma suposta base inimiga. Onde estão todos...? Onde estão aqueles dois? Numa cintilação espúria e colérica, imaginou-se pondo as paredes do lugar abaixo e fazendo a caverna vir a baixo, matando os ratos em sua própria toca. Era fácil, bastava que quisesse. Não... quero saber o que está acontecendo aqui. Farejava perigo melhor do que ninguém.

Vez ou outra escutava risos longínquos, cochichos e sussurros. Tenho certeza que não podem me ver, acreditava fielmente em sua inigualável habilidade em ser furtivo. Mesmo com a visibilidade prejudicada pelo negrume, Kayn conseguia ter uma noção do que estava para além das trevas. Parecia-lhe uma antiga fortaleza de pedra, com padrões muito semelhantes aos existente em Las Noches. Notava as vezes vãos e colunas deterioradas entrepostas umas nas outras, mas nenhum sinal de outros Hollows.

Perdendo a paciência, ergueu a canhota a sua frente, e um pouco de sua reiatsu escapou para fora de seus dedos, logo cobriu-lhe a mão por inteiro. A bala vermelho sangue atraiu toda a atenção das sombras para si, e depois por todo o caminho que percorrera após Kayn a arremessar para sua fronte. Quando passou dos dez metros, a esfera de energia se apequenou e definhou e as sombras logo tornaram a se apossar do espaço que deixara. Não havia encontrado nada.

Escutava sons dissidentes e incoerente por todos os lados. Estão tentando me confundir, percebera, o que fez fluir um furor agressivo dentro de si. Vou explodir esse lugar...

– Vá embora! – A ordem achou caminho pelas sombras. Era uma voz feminina. Sério...?

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Não hesitou, e subitamente levou os pés até o local em que a voz foi emanada, tão rápido que a pequena Hollow não teve chance de responder à altura. Sentiu a mão se fechar envolta da jugular delgada da pequena criatura, que arfou incrédula com àquela movimentação. Grunhiu, lutando para implorar que Kayn interrompesse o sufocamento e a libertasse. Ele não o faria.

– Achou que fosse me ameaçar e sair impune? – Alçou o corpo para o ar como um objeto de pano. Apertou um pouco mais os dedos para que o ar fosse ainda mais dificultado de adentrar nos pulmões da pequena Hollow. – É evidente que vocês possuem o intelecto limitado. – Disse em desprezo. Um som arranhado e abafado tentava sair das cordas vocais da criaturinha, enquanto as pernas se debatiam no ar.

Foi quando saíram das sombras. Gritos em protesto à sua atitude surgiram em rompante por toda sua volta. Apareceram, hein? Sem vê-los nitidamente, abrandou o aperto contra a jugular de sua prisioneira e olhou para trás na tentativa de enxergar algo. Dez metros, era a distância que estavam dele.

– SOLTA ELA, MONSTRO! VOCÊ VAI MATA-LA! – Bradavam.
– É POR ISSO QUE ODIAMOS VOCÊS, ODIAMOS O REI. – Odeiam o rei? Quando indignações políticas tinham se tornado passíveis a Hollows como aqueles? Detestou a situação. Não podem fazer nada, senão gritar e implorar pela minha misericórdia.
– Quem é o líder de vocês? – Jogou, sabendo que não obteria a resposta desejada.
– NÃO TEMOS LÍDER, SOMOS LIVRES! – Um retrucou audacioso.
– Ah, é? Bom, se não irão me responder, vou levar essa coisinha comigo de volta para o Las Noches. Quem sabe ela me forneça mais informações do que os dois vermes covardes que me trouxeram aqui. – Intimou. – Só se... algum dos corajosos decidirem ir no lugar dela.

A azáfama foi abafada e alguns cochichos começaram a surgir. Gargalhou internamente, era lastimável o nível daqueles seres. Deveria matar todos aqui, em sinal de boa fé.

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De repente, a voz suave e feminina da Hollow erguida por sua mão direita se manifestou.

– Me mate, por favor... – Suplicou tristemente. Hã? De alguma forma a pequena Hollow fêmea já havia previsto o resultado do colóquio de seus irmãos rebeldes. – Rápido... – Continuou.

Da escuridão de sussurros, luzes começaram a reluzir, de variadas cores e tamanhos. Balas, soube. Virão mesmo me enfrentar!? Era absurdo. Quando o primeiro projétil chegou até a parede que apoiava à pequena, envolveu o corpo dela e esquivou-se para à esquerda, enquanto as demais balas chegavam desordenadas em seu encalço. A retirada era pairada por pensamentos violentos indo e vindo em sua mente. É isso que recebo por tentar ser compreensível. O ataque em si de nada significaria para ele, senão houvesse por trás o desrespeito à sua posição hierárquica. Sou um Espada, como aqueles vermes ousam me desafiar? Da ponta dos pés até a cabeça, um furor bestial lhe encheu de ódio, La Sombra respondeu aos sentimentos dele luzindo vermelho rubro enquanto aproximavam-se de uma curva acentuada. Se não estivesse com aquele Hollow sob sua proteção regressaria ao negrume sem pensar e destroçaria cada um daqueles patifes.

Quando viram-no recuar, os insurgentes sentiram-se vigorados e entusiasmados a ponto de correrem atrás dele em atrevimento descabido, arremessando-lhe suas balas incessantemente. Quanto mais furioso mais rápido se deslocava, mais balas recebia e menos pensava.

– Cuidado, não tem saída a frente! – A Hollow chamou sua atenção para o caminho obstruído. Ignorou a raiva momentaneamente, e com um segurar firme na arandela de La Sombra atirou a foice uma vez mais, explodindo parte da parede fina de concreto e criando uma saída improvisada.

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Uma antecâmara os recebeu.

Na velocidade em que esteve nos últimos instantes inferiu estar a quase trezentos metros de distância dos rebelosos. Pôs a coisa magra e feminina que carregava próxima a fenda que havia aberto. Ela era pelo menos metade de seu tamanho, com rosto ossudo e a máscara suave em forma de um coelho sem orelhas, mas a parte próxima a boca estava esfacelada. Ela vêm tentando destruí-la, observou. A coisa pequena e frágil, pôs-se a encara-lo enquanto ele espreitava o externo da antecâmara. Ninguém, devo ter os despistado, constatou.

– Você é o Kayn, não é? – Indagou com voz inocente. Ele não respondeu. – Eles odeiam você aqui, assim como odeiam todos os outros Espadas. – Contou.
– Quem deu esse direito a eles? – Foi ríspido.
– Quem deu ele a você? – Devolveu com coragem.
– Minha força. – Disse categórico. – Meu poder. – Ela não teve o quê contestar, sabia que o Hueco Mundo era regido pela lei do mais forte, os fracos que se amontoassem para que os heróis desfilassem sobre seus cadáveres.
– Não concordo com essa mentalidade. – Encontrou uma argumentação que pudesse fazer frente a dele.
– Porque você é fraca, claro que não iria concordar. – Olhou-a de forma presunçosa.
– Não é isso... – Quis iniciar.
– Tá legal, agora fique quieta. – Mas ele a interrompeu. Certificou-se que os rebeldes não mais o seguiam, e após isso começou a imaginar maneiras de ir até eles, furtivo, para encerrar àquela loucura uma vez por todas. Mas antes... – Quer ser morta agora ou depois? – Assustou-a subitamente.
– S-se irá me matar, faça rápido. – Pediu. – Não tenho medo de morrer, só da dor. – Confessou-lhe.
– Eu vou voltar e matar todos os seus malditos comparsas, aqueles traíram você. – Intentou manipula-la. – Caso eu retorne a esta sala e você tenha partido, eu vou acha-la e tortura-la pela eternidade. – Ela sobressaltou-se ao ouvir aquilo. Conhecia Kayn, ao menos o suficiente para saber que suas juras não eram levianas.

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Refletiu por alguns segundos, e então assentiu com a cabeça. Ótimo. Não confiou no gesto da fêmea de sua espécie, mas fez questão que soubesse os pormenores das consequências que a aguardariam caso não o acatasse. Pôs os pés para fora da abertura e deixou a antecâmara para trás, camuflando-se às sombras. Tal como um predador, não emitia som ou ruído, e negou mais uma vez que La Sombra arranhasse o assoalho, ao menos por aquele momento. Na hora certa ela irá.

Por longas centenas de metros não houve nada senão trevas, silêncio e um ar seco e frio invadindo suas narinas desagradavelmente. Acima de mim há o deserto, alinhou os pensamentos. Devo estar longe o suficiente de Las Noches para que minhas ações aqui jamais cheguem ao conhecimento do Rei ou de qualquer outro Espada,concluiu. Abominava ter de dar explicações de seus atos a seus superiores, a bem da verdade, Shieda Kayn odiava ter superiores. Quem sabe um dia não me torne o Espada número 1, criou a cena em sua mente. Quem sabe até o Rei do Hueco Mundo, ouvidos desavisados poderiam julgar àquela frase como sendo boba e irreal, mas no fundo de sua alma Kayn sabia que nada era maior do que sua vontade.

O corredor cilíndrico e entediante finalmente deu a ele algo, um som. São eles. Em algum lugar um pouco mais a frente, talvez à esquerda. São eles, soube. São eles, sorriu maquiavélico. Agora sim, deixou que o bico pontudo de La Sombra beijasse o assoalho e começasse a arranha-lo. O som do desespero começou a ecoar...

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