Experimento n.674egoísta?

Fazia muito tempo desde pisava naquele distrito, recheado de memórias degeneradas e amargas, cobertas por uma camada doce de descobertas e realizações pessoais. Sua casa foram as ruas dos conglomerados, seu quarto, qualquer beco que pudesse conformar o corpo magro e surrado de Akashi. Pelo menos, foi assim até descobrir, aceitar, que naquelas condições eram necessários sacrifícios, arriscar para conseguir mais. Assim viveu, e mais uma vez pisava naquele solo ascoso, não se sentia nem um pouco nostálgico por passar por lá novamente, na verdade nem mesmo sentia raiva ou tristeza. A partir daquele momento, já se tornava um lugar indiferente, já que pouca curiosidade ainda tinha pelo o que pudesse descobrir de significante naquele lugar.

Vestido com uma manta branca, cobrindo seu rosto e corpo, pretendia passar despercebido pelas pessoas, desde a alta sociedade de número 1 até sua origem, no distrito de número 80. Era para lá que se direcionava, interessantemente. - E pensar que voltaria mais uma vez nesse poço sem fundo. Lugar completamente posposto pela Gotei 13 e seus reis. - pensava consigo mesmo, passando com naturalidade pelas construções, relembrando suas antigas rotas como criança, adolescente e adulto, nesses terríveis anos. Se apressava, não tinha mais tempo a perder, havia colocado por si mesmo um protótipo dentro de uma região do complexo 80, eram mais um de seus experimentos pessoais. Aquela região, de maior pobreza, era ideal para testar qualquer que fossem equipamentos ou objetos sem risco de causarem algum reboliço. Ninguém ligava mesmo para esse tipo de coisa acontecendo por lá, contudo, para Akashi era essencial, pois para ele ainda assim lhe faltavam, as vezes, o contato humano, vital para recorrer a certos resultados.

Não demorou muito para que chegasse no local, envolto por criminosos e almas de todo tipo, infelizmente incluindo os inocentes e penadas como ele fora um dia. Em uma praça com acesso ao céu, cheia de telhados e pequenas moradias todas juntas, formando praticamente prédio único que o cercava radialmente, caia a chuva moderadamente pelo seu capuz. - Ora, podemos ver que as coisas já foram por água a baixo. - A medida que se aproximava do local, percebia a ausência humana e pessoas assustadas, mais do que o normal para as vielas. O que havia colocado, enterrado em pelo chão no centro do largo era um equipamento retangular, liso e reflexivo, capaz de absorver certas energias da matéria ao seu redor e converter em combustível, gerando frequências de onda responsáveis por bonificar a matéria orgânica. Anteriormente, no laboratório, foram observadas aumentos no metabolismo de células em cultura, suas velocidades e capacidades de crescimento dobraram.

- Vejo que vocês cresceram bastante, por que não saem dai e me mostram o que aconteceu? - Olhos brilhavam na sua direção, ocultos pelo véu das sombras de dentro das casas, algo havia definitivamente dado errado com as pessoas que residiam em volta. Tudo estava muito estranho, por mais que fosse um lugar com péssima qualidade de vida, ainda haveriam pessoas conversando, crianças roubando comida, comércio e bares, entretanto, havia apenas o gotejar da água que descendia do céu. Com velocidade esmagadora, saia a primeira criatura por detrás de uma das paredes, seus olhos estavam vermelhos, rosto e corpo com veias pulsantes, dentes maiores, garras e calor emanando de cada parte da sua pele, fazendo o vapor subir pelo ar acompanhando seu movimento. Os olhos de Akashi ficaram encantados, por mais tenebrosas que poderiam ter sido aqueles efeitos, era algo a mais que poderia incluir em sua pesquisa com o equipamento, mas desta vez em cobaias humanas. Eram irreconhecíveis, se não fosse algo relacionado com suas ações, até mesmo ele não poderia as reconhecer de cara.

Com dificuldade para esquivar para o lado, girando seu tórax e perna em uma rotação de meia lua, a criatura passou de raspão em seu lado, arrancando a capa que escondia sua identidade. - Mas olhe só pra você?! Impressionante! Aptidão física elevadas, velocidade impressionantes. Uma pena que a integridade da aparência e consciência foram brutalmente afetadas. - Por mais que fosse assim, Akashi ainda tinha uma certa preocupação com o propósito de suas criações, mesmo que os fins justificassem os meios para obter conhecimentos duradouros, nada valiam se não houvessem quem mantê-los e lê-los. Era por isso, talvez, que guardava uma certa humanidade dentro de si, por mais minimalista que fosse, mesmo que subconscientemente.

- Vou precisar de uma amostra, poderia fazer a gentileza de tentar me despedaçar mais uma vez? - dizia para o antigo morador das barracas de lá, completamente transformado. Sorrindo, foi ingênuo ao pensar que teria apenas um ataque vindo da criatura, já que realmente mantinha os olhos fixos nela, porém não estava sozinha. Outro deles saltava pelas suas costas, dando pouco tempo para que pudesse reagir, fazendo-o virar-se em sua direção com devida surpresa. Sacando sua espada, tentava bloquear uma parte do golpe, mas foi atingido no peito rasgando suas roupas e ferindo-o com as garras. Houve pouco tempo para que pudesse pensar, pois logo após recebia mais uma investida de outra criatura que aparecia das trevas, de outra das construções. Com o tórax sangrando, defletiu o ataque com a espada, repelindo o agressor para uma das paredes, causando uma rachadura, podendo-se distinguir claramente o som da carne se espatifando no concreto.

Antes que pudesse perceber, estava completamente cercado, não havia espaço para onde se mover sem entrar em contato direto com um daqueles monstros, que antes eram moribundos do distrito. - Realmente... o que eu devia estar... pensando? A fonte está logo abaixo dos meus pés, certamente se aconteceu com um deles, haveria uma concentração ainda maior por aqui. Por que atacariam sozinhos? - Com uma mão na barriga, havia sido golpeado e nem percebeu, certamente não era uma situação perfeitamente segura para si, parecia que o controle estava escapando mais uma vez pelas suas mãos. Precisava se concentrar e pensar em como encerrar com todos eles, como que conseguiria superar todas aquelas criaturas, que pareciam superar em muito a sua velocidade. Imediatamente recebeu uma investida conjunta, desviando por um triz de algumas das aberrações, estava se tornando cada vez mais claro que não conseguiria manter aquele ritmo. Golpeá-los também era um problema, a medida que acertava os golpes, os ferimentos pareciam regenerar em poucos minutos.

Ainda assim, algo parecia estranho, se eram tantos e em tamanha força... - Por que se mantém nesse espaço, nessa região, e não passam a sobrecarregar os outros distritos? - Pulava por cima de outra das criaturas, acertando seu crânio com a espada, encerrando suas funções motoras pela decapitação, parecia ser a única maneira de por um fim a suas vidas angustiantes. - Mas é claro! - Pensou consigo. - Eles precisam da fonte para se manterem ativos! Tamanha geração de energia para que seus metabolismos permaneçam ativos, se não de onde estariam trazendo tanto vapor! - Era uma hipótese, mas parecia ser sua última esperança. Recebendo outros golpes pelo corpo, por mais que fossem leves e médios, estavam começando acumular, Akashi se posicionou acima do lugar que havia enterrado o dispositivo.

- Bakudou N. 60: Kyoumon! - Uma barreira de vidro rodeou seu corpo, separando-o da horda de criaturas, dando a si um breve momento para que pudesse respirar. Elas se debatiam contra a parede, com dificuldade de entender o que estava acontecendo. Ela estava aguentando os ininterruptos ataques, mas Akashi sabia que não seria para sempre. - Espero que isso funcione, agora que coletei amostras significativas posso encerrar o projeto. - Dizia enquanto guardava sangue e pedaços de tecido recolhidos de sua espada em outro equipamento de seu jaleco, que parecia criogenar a matéria orgânica em pequenas quantidades. De pé, mirou a lâmina para o chão, e com um golpe certeiro, partiu o solo gerando um forte impacto com o que havia abaixo de seus pés. A barreira, em seu estado final partia sobre o golpe dos monstros ao mesmo instante...

Apesar disso, assim que seu golpe acertara o equipamento, ele podia sentir a pressão espiritual abaixar gradualmente, por mais leve que fosse, e todas as criaturas pareciam entrar em um estado de paralisia. Seus corações entravam em insuficiência cardíaca, fazendo-as cairem em conjunto pelo solo da praça. Ofegante, Akashi recolhia os pedaços da máquina do chão, ligou para o seu centro de operações de pesquisa e ao seu gabinete. - Tragam a equipe de limpeza, em conjunto com meus assistentes. Ala Norte, distrito 80 perto da praça. Já lhes dei as instruções necessárias. - Saia de lá bem machucado, muito mais do que estava acostumado, mas havia valido a pena, pois ainda mais deduções vieram a sua mente, que somente poderiam ser comprovadas assim que levasse suas provas de volta ao centro de pesquisa.

Considerações: