Chuva. Torrencialmente a água caía dos altos céus, enquanto Magnus comia um spaguetti num caro restaurante mundano. Reservado numa parte escura do local, comia silenciosamente e aproveitava o ambiente calmo, degustando um alto vinho de uma safra de quinhentos anos atrás. Seus olhos, àqueles que o observavam de rabo-de-olho, brilhava num sangrento tom rubro. Seu terno, marca-de-giz, cobria tranquilamente o buraco - literal - em seu peito, que acusava-o de não ser um humano como os demais. Sua máscara, cujo resquício se parecia com um colar, jazia ignorada. Existiam ricos exóticos, não? Era assim que os demais o viam.

Com o garfo, enrolou o spaguetti e o misturou ao molho al sugo, apreciando o cheiro delicioso que subia do prato. Sua paz gozada ao soar da chuva foi interrompida. Uma sombra tremeluziu à sua frente, tomando forma. Um chifre se erguia do lado esquerdo do crânio, com a outra metade da face livre. Os olhos sem íris, com a esclerótica numa cor azul escura, doentia. O convidado sem convite sorriu quase como se fosse tímido. Ninguém o via e Magnus fingiu também não ver, continuando a comer seu jantar.

— Magnus-sama... — Os olhos doentios buscavam os de Magnus. — Fazia tempo que eu não estava diante do antigo Rei dos Hollows. Todavia, assim como o senhor ordenou, alguns infiltrados trouxeram informações que podem ser interessantes. Não as conheço em profundidade, mas... — Foi interrompido por Magnus, que movimentou a mão direita como se o mandasse se calar.

— Por favor, vá direto ao ponto. Meus tempos de Rei se foram junto com as poeiras do tempo. Sobre o que me buscas? — E fitou a criatura. Seu rosto humano intimidante, os olhos frios tanto quanto a temperatura que parecia cair a cada segundo que os olhos vermelhos fitavam a criatura à frente.

— Encurralamos um Exéquias... Estava supostamente indo cumprir as ordens de alguém. Não sabemos se é do atual Rei do Escuro, mas... Não importa. Ele o aguarda. Suspeitamos que ele estava indo se encontrar com um Ceifeiro, pois se encaminhava para uma área sob proteção deles. — Magnus sorriu e se reclinou na cadeira confortável.

— Onde o guardam? — Perguntou. Seus olhos pareciam cintilar, sua reiatsu vazando como em ondas, interferindo no cair da chuva. Um raio estourou perto dali, reverberando pela terra que sofria para absorver.

— O escondemos num local indetectável, Magnus-sama. Longe dos shinigamis e longe dos outros hollows. Temos uma forte suspeita de que o Exéquias era esperado pelos ceifeiros. Ele se encontra no subsolo, na zona R. Onde o senhor torturou Belior. — E tão logo teve a resposta, foi como se não tivesse estado ali.

Um trovão estourou o céu, fazendo o firmamento e as paredes da gruta em que Magnus estava tremerem. Enquanto caminhava pela escuridão do subterrâneo londrino, o ancião refletia a respeito das suspeitas levantadas por Ruel. O que um Exéquias tinha a resolver com os Ceifadores em tempos de paz tão firmemente instalada? Não parecia, enfim, ter a participação do Rei Hollow e, por isso, Magnus se sentia confortável em tornar cativo um dos executores do Rei.

E mesmo se fosse ordem dele, e daí? Magnus não poderia se importar menos.

Luzes se acenderam em tochas por todo corredor, acesas pela fricção da reiatsu do arrancar com o material inflamável. Magnus parou de supetão, se advertindo para o momento em que fosse entrar. Olhou para trás de si e nada viu. Estava sozinho ali, ao que parecia. Não sentia, também, reiatsu para aquém daquelas já esperadas adiante. O hollow continuou seus passos e transpassou uma densa barreira que separava a câmara do resto da mortandade.

O local se iluminou como se a luz solar houvesse invadido o local, mostrando o rosto surpreso da criatura ao se deparar com o Vasto Lorde. Um sorriso se abriu no rosto humano, desumanizando-o. A pressão espiritual do Wasser fez as paredes racharem e a respiração faltar ao prisioneiro, cujos olhos quase saltavam para além do corpo. A câmara possuía paredes de pedras refinadas em fornalha, com musgo estendendo-se por todo lugar. Além disso, nada mais havia senão uma grande cadeira de madeira, com algemas de ferro forte, que prendiam o Exéquias à disposição do Ser Superior.

O Exéquias vestia-se com uma túnica branca e uma máscara de cervo, também branca, cobria todo seu crânio. A estrutura corporal era semelhante à humana, exceto pelo buraco na parte superior do abdômen.

— O que você acha de me esclarecer o motivo de eu estar aqui? — Questionou, sentando-se no ar à frente do prisioneiro. As íris vermelhas brilhavam em terror, fazendo com que mesmo a luz das tochas se curvassem ao vermelho hemorragia daqueles olhos. O silêncio fez o olho esquerdo de Magnus tremer levemente. — Vamos... Não me irrite. Vamos começar novamente. Como é seu nome, a quem serve e por que está aqui? — Um segundo se passou, até que o alerta foi feito. — Se não responder voluntariamente, vou te esmagar com minha reiatsu. E não será uma morte agradável. — Sorriu, agradavelmente - e fingido.

O silêncio curiosamente se manteve. Talvez o exéquias temesse mais seu 'dono' do que a si. Era completamente compreensível. Afinal, Magnus era apenas uma lenda, certo? Uma criatura de uma era passada, irrelevante para aqueles protegidos pelos novos donos do mundo. Magnus sorriu, e a pressão exercida contra a criatura foi tão forte que sua máscara trincou.

— PIEDADE!!!! — Gritou o Exéquias. Sua máscara estava quebrada em várias partes, sangue enxarcava o chão. Um dos chifres do prisioneiro estava perfurando o próprio estômago, de onde se vertia a maior quantidade do viscoso vermelho.

Numa puxada forte, o chifre foi arrancado e junto do chifre saiu as entranhas da criatura, que despencou no chão. A regeneração do Exéquias o mantinha vivo.

— Eu quero que me responda. Prometo que serei bonzinho. — E voltou a enfiar o chifre no cativo, mas agora em seu rosto. O chifre varou a face exposta e sangrenta do prisioneiro, indo de uma 'bochecha' para outra. Quando a boca foi aberta para gritar, Magnus enfiou a mão boca a dentro e agarrou a língua do Exéquias, a qual puxou com tamanha violência que não apenas a língua saiu, como toda parede da traqueia foi junto. Sangue espirrou fortemente no rosto de Magnus, que ignorou com certa bondade.

Jogou a língua no chão, pegou o chifre que o perfurava e arrancou, rasgando a pele do rosto do prisioneiro violentamente. Mais sangue.

Sentou-se, aguardando a regeneração agir.

Os gregos tinham um mito. Prometheu. Morria toda noite, e renascia todo raiar de sol para, todo fim de dia, morrer sob tortura.

Quando o Exéquias voltou à consciência, Magnus estava pacientemente aguardando. Depois de viver tanto tempo, alguns minutos - horas talvez - era irrelevante e não maculava seu humor. Levantou-se, vendo que o sangue, antes viscoso, agora estava seco. Horas, sim. Levantou seus próprios olhos para o Exéquias e agarrou sua mandíbula, forçando-o a abrir a boca. Vendo ali que a língua já poderia ser usada, Magnus sorriu, largou-lhe o rosto, recuou e novamente sentou no ar.

— Tenha a gentileza de me dizer, antes que eu tenha que ser repetitivo. E não te preocupes... Tenho todo tempo do mundo aqui. — O Wasser suspirou, como se refletisse. Certamente estava refletindo. — Estamos num local indetectável, inviolável... Ninguém se arriscará por você, porque ninguém liga o suficiente. Então seja generoso e tenha a bondade de me permitir ser bondoso, ok? Diga-me seu nome, a quem serve e qual seu objetivo por aqui. — A pressão espiritual foi tão forte que sangue esguichou do nariz do Exéquias, quebrando-lhe os ossos da parte superior do corpo com tanta potência que estes perfuraram a pele e a vestimenta do prisioneiro, expondo-se.

Magnus riu baixo, indo em direção ao hollow e, deslizando seus dedos da mão direita sobre o fêmur que ficara a mostra, agarrou-o e puxou-o com violência.

O grito vindo do Exéquias surpreendeu o Vasto Lorde, que não imaginava que um eco tão grande pudesse ser criado num ambiente tão pequeno. Magnus estava começando a irritar-se com a coragem do pequeno ser, que persistia em manter-se calado. Quem estava por trás dele? Quem lhe ameaçaria, dar-lhe-ia tanto medo? Mais medo do que o próprio Magnus? Era uma incógnita. Magnus ainda, e apenas e tão somente ainda, não compreendia.

Mas arrancaria a informação que queria nem que, para isso, Londres fosse abaixo. Milhares de vidas humanas eram irrelevantes perto da paz.

— Bom. Já que você é bastante resistente, acho que vou aquecê-lo e lembrá-lo das respostas que preciso. — Magnus pisou forte no chão, afundando-o sob sua pressão. Inclinou-se para frente, fitando-o olho-a-olho e, num só movimento, arrancou-lhe os dois braços, suturando-os para que não voltassem a crescer. Ameaçou fazer o mesmo com suas pernas, mas antes, fitou-o com o objetivo de identificar se dispor-se-ia a falar. Magnus sorriu. — Pois bem, diga.

— Eu sou Meeris e vim sob comando não do Rei do Escuro, mas de shinigamis. Não sei exatamente o que eu deveria fazer na zona deles, mas fui enviado para receber um recado e repassa-lo no Hueco Mundo. — Suspirou, ainda em terror por sentir fantasmagoricamente seus braços que começavam o lento processo de decomposição.

— O que os shinigamis queriam? Há muito se encontravam? — Questionou, soltando-o e reclinando-se para trás a fim de observa-lo melhor. Seus olhos vermelhos iluminavam a sala, pois as tochas amareladas tingiram-se de sangue e a luz lutava para brilhar.

— Não sei, essa é a primeira-AAAAAAAAAAAAAAAAA!! — Gritou ao sentir garras se aprofundarem sobre seus joelhos. — É a terceira vez que trocam mensagens, mas é a primeira que sou o emissário... PIEDADE, MISERICÓRDIA! — Magnus havia aumentado sua pressão espiritual, achatando o crânio do Exéquias. Sangue vazou de seus ouvidos.

— Interessante. Não pensa em nenhuma possibilidade de assunto? Quem são esses shinigamis? — Indagou, claramente curioso. O que diabos estava acontecendo?

— Não sei quem são, Magnus-sama... Mas sei onde se encontram, pois ainda me esperam. — Respirou pesadamente, lutando contra a inconsciência que lhe era forçada por conta da forte pressão.

— Opaaaaa! Isso muito me interessa. Conte-me. — Sorriu, removendo totalmente a pressão espiritual de sobre o prisioneiro.

— Craydon. — E tão logo a última sílaba foi falada, a cabeça de Meeris voou e seu corpo, do tronco para baixo, explodiu em sangue.

Craydon. Magnus suspirou. Aparentemente os shinigamis daquela zona estavam em contato secreto com alguns hollows, inclusive mandando e desmandando num Exéquias. O que exatamente estava acontecendo? Por que shinigamis estavam em contato com Hollows e, sobretudo, como diabos estavam sobre o controle de Exéquias?

Evidentemente que a resposta para suas dúvidas não surgiria do nada como resposta para o tudo. Magnus teria de descobrir a tramoia por si mesmo. Não poderia confiar em seus fraccións ou naqueles que juraram lealdade eterna em épocas imemoriais. Não era oportunidade de confiar. Afinal, se shinigamis controlavam exéquias, por que não controlariam hollows – supostamente – livres?

Magnus olhou a cabeça descartada ao chão e o sangue que cobria toda a sala, pingando sobre todo ambiente. Suspirou pesadamente e começou a caminhar porta afora. Quando havia dado dois passos adiante, virou parcialmente a cabeça para o lado, olhando de canto para a Câmara, cujo teto desabou sobre o ambiente.

Meeris seria apenas memória.

Continuou a andar calmamente adiante, como se o que acabara de acontecer nada fosse diante da magnitude do tempo. Seus passos diante daquelas catacumbas não emitiam sons, como se um fantasma por ali andasse. Quando estava já há alguns bons metros, sua voz saiu gélida como a neve.

— Ele foi bastante resistente. — Suspirou, mantendo os passos visando sair dali. — Ele não me esclareceu nada de interessante, disse apenas um nome. Terei, infelizmente, que investigar mais. — Olhou de canto para o hollow. — Esperava que você pudesse contribuir mais comigo e me contar suas suspeitas sobre o que aconteceu.

— Magnus-sama, nós o pegamos bem na fronteira. Estava tentando escapulir pelo pontilhão, mas o aprisionamos ontem. Curiosamente ele não resistiu à prisão, então... — Foi interrompido pela pressão espiritual de Magnus, que fez a base do subterrâneo tremer e poeira se espalhar pelo breu.

— O que você quer dizer com “não resistiu”? — Questionou, parando a própria caminhada. Sua sobrancelha se arqueou, e seus olhos vermelhos encheram o ambiente com iluminação rubra.

— Bo-bo-bom, nós o agarramos e nós o trouxemos aqui. Po-po-por que, Magnus-sama? — Sua voz tremia claramente. Terror passava em seus olhos doentios e o Vasto Lorde agora virara-se para ele, com os olhos resplandecendo em horror.

— Você não acha que essa teria sido uma informação importante para me dar? — Magnus o fitou, sua expressão severa. — Não interessa o que você acha, na verdade. Importa o que é. E você deveria ter dito. Mas enfim, irrelevante. Preciso refletir sobre o que farei.

Matara Meeris atoa. Provavelmente o Exéquias já havia vindo preparado para a morte. Foi um plano muito bem pensando, o que só o deixou ainda mais irritado – não por fazer algo atoa, mas por ter agido como um tolo.

Deveria ter suspeitado que um aprisionamento como aquele era muito suspeito. Um emissário dos hollows e dos shinigamis preso por um bando de hollows não muito fortes era, efetivamente, suspeito. E Magnus deixou passar. Um erro que o fez perder muito tempo. Pelo menos iria seguir as dicas do até então prisioneiro – que agora sabe que não foram confissões motivadas pela tortura, mas sim previamente planejadas.

Bem, não é como se Magnus temesse alguma armadilha. Estava preparado para a morte há muito e ela sempre fugia de si. Magnus trilhara, desde sempre, seu próprio caminho e próprio trajeto. E o trajeto que hoje o Vasto Lorde trilhava era o de manter a paz selada entre o Rei dos Hollows e o Capitão Comandante do Gotei 13.

Essa aliança desenhada entre o Hueco Mundo e o Sereitei pareceria loucura há alguns séculos. As guerras até então travadas se tornaram inesquecíveis, e um interminável ciclo de ódio se criou. Esse ciclo ceifou tantas vidas quantas se podia, e todos os lados sofreram tanto que, em algum momento, houve um basta.

E esse basta, embora extremamente frágil, pavimentou o caminho da paz que hoje se erguia firme (ou quase isso) entre os dois lados dessa moeda de imortais. Bem, excluindo os – irrelevantes, mas perigosos – quincys dessa contagem.

Agora essa frágil paz, pavimentada sobre muitas mortes, estava em risco porque um bando de shinigamis – sob ordens ou não – estavam alinhando-se a hollows rebeldes para alguma finalidade desconhecida.

A dúvida que persistia é: os shinigamis estavam de fato controlando hollows ou estavam em alguma espécie de parceria com um objetivo comum? Magnus não conseguia pensar em algo que os unisse em interesse.

No fim, o Hueco Mundo e o Sereitei não poderiam se ajudar.

Mas poderiam se atrapalhar, não é?

Será que havia envolvimento de quincys nesse tabuleiro?

Enquanto refletia, Magnus saía do subterrâneo londrino e caminhava em direção a Craydon. A chuva caía ainda mais forte do que antes, de modo que não se via mais ninguém nas ruas. Estava completamente deserto e Magnus, solitariamente, deixava a água lavar seu corpo e o encharcar, removendo um pouco do sangue que secara em suas roupas e pele.

Chegou próximo da fronteira que estava sob a proteção dos shinigamis que aguardavam Meeris. Magnus observou o solo, buscando algum selo ou sigilo que o ameaçasse. Nada havendo que lhe soasse ameaça, atravessou. Nada, a princípio, aconteceu e continuou andando a passos lentos, olhando aos lados e buscando alguma informação. O lugar a ser buscado era grande, mas nada que impedisse de ser averiguado durante algumas horas. Seus passos retesaram quando viu, flutuando sobre o ar, a cabeça de um fracción sobre seu comando.

Não que se importasse, na verdade.

Caminhou em direção à cabeça flutuante. Os olhos estavam abertos e a face numa expressão de terror. A máscara estava intocada e a garganta fora cortada de uma só vez, numa espécie de morte piedosa. Aparentemente, já que aquele arrancar especificamente estava degolado, o alvo era Magnus. Por que Magnus? O Vasto Lorde estava há muito afastado dos assuntos do Hueco Mundo – e mais ainda do Sereitei.

Agarrou a cabeça pelos cabelos vermelhos e a puxou do espaço onde flutuava. Ergueu-a pelos cabelos até diante de seus olhos. Sorriu e a jogou no ar, onde ela desapareceu por uma Garganta, que a mandou para um dos aposentos de Magnus em Las Notches.

Magnus tomou aquilo como um aviso e, como qualquer cavalheiro, o aceitou tacitamente ao permanecer andando naquela direção. Seus passos o levaram para um hotel que estava bastante iluminado, podendo-se ver as escritas de suas placas mesmo com a fortíssima chuva que caía.

O hotel chamou-lhe a atenção e, com certa dose de curiosidade, andou até lá. Não sem antes sentir uma leve barreira por volta do hotel. Bingo. Era ali. A barreira, pelo que podia perceber, não tinha a intenção de impedir sua entrada, mas sim avisar quem quer que fosse que alguém estava ali.

Não sem antes sorrir, Magnus atravessou seu braço por ali – e logo todo seu corpo – e esperou por não mais que alguns lentos segundos.

Imediatamente sentiu cinco pressões espirituais que o pressionaram, mas não o intimidara. Seus olhos, batalhando contra a chuva, buscou no ar aqueles tolos que buscavam contra si algum combate.

Três shinigamis e dois arrancars, sentados no ar, lado a lado, como se aliados fossem – e provavelmente eram. Magnus os avaliou, como se buscasse neles alguma ameaça. Exceto por um dos shinigamis, os outros não passavam de estrume – quando se pensava em poder. Magnus sorriu suave e cinicamente, olhando para os cinco.

— A quem devo agradecer o convite?

Silêncio. As cinco figuras se entreolharam rapidamente e Magnus apenas esperou, ainda no chão, fitando-as dali.

Antes que Magnus pudesse perturba-los ainda mais, uma das figuras – um dos shinigamis – pareceu desaparecer e reaparecer ao seu lado. A zampakutou buscou degolá-lo, mas não teve sucesso sequer em passar pelos dedos, indicador e médio, estendidos de Magnus, que parou o trajeto da lâmina.

Uma grande onda de ar cortou os lados do Vasto Lorde, fazendo a chuva ter um delay de alguns segundos antes de voltar a cair. Magnus jogou a cabeça para o lado, zombando do shinigami.

— Que falta de educação a sua, hein? Somos todos ladies e gentlemans aqui. Um pouco de respeito poderia ser apreciado, certo? — Ele poderia ter segurado a lâmina consigo, mas permitiu que o adversário recuasse de volta aos parceiros, agora um pouco mais dispostos a alguma gentileza. — Não me digam que realmente esperavam que isso, seja lá o que você tenha tentado, pudesse me ferir? — Magnus tentou segurar a gargalhada, mas falhou. — Pela cara de vocês, acharam que poderia. Que loucura! — Zombou, colocando a mão no rosto e deixando-se cair para trás, flutuando no ar.

Lentamente flutuou até estar diante dos demais, na mesma linha em campo de visão. Seus olhos vermelhos iluminaram-se e poder-se-ia vê-los mesmo com o dilúvio que caía naquele momento. As nuvens estavam pesadas, muito pesadas. Raios ribombavam ao longe, fazendo a terra tremer e iluminando a noite, vez que a luz da lua pouco podia fazer para se sobrepor ao breu.

— Então este é o famoso Magnus, rei caído do Escuro. — Disse um dos shinigamis, de cabelos dourados e longos. Ele era bonito, com seus olhos azuis profundos e pele caucasiana. Olhava para o Vasto Lorde com certo senso de superioridade, como se visse diante de si um ser abaixo de suas expectativas. O Ancião notou o desprezo que sangravam daqueles olhos, mas não se importou realmente.

— Não sabia que eu era famoso. Minha era se foi há muito tempo. Heróis surgiram, terrores também. E todos caíram, cada um a seu tempo. Onde reside minha fama? Em ser um mero expectador do mundo? — Questionou, sinceramente curioso com o apontamento do rapaz.

— Você é um tolo se acha que foi esquecido, Magnus. — Disse a shinigami mulher. Cabelos compridos azuis profundos, olhos castanhos e pele bronzeada. Seu sorriso, branco e largo, era encantador.

— De fato sou tolo. E você é linda demais para perecer aqui.

O sorriso de Magnus só aumentou ao apreciar a expressão de profundo desprezo que a shinigami fazia.

— Hoje é seu último dia nesta terra, Hollow. — Disse o shinigami que o atacara antes. Cabelos curtos e negros, pele escura e uma expressão vitoriosa. Seus olhos brancos chamaram a atenção de Magnus, mas notara que não era cegueira. Era apenas a cor natural. — Você é muito cheio de si, achando que viria aqui e sairia vivo. Achávamos que era mais esperto do que se mostrou. — Zombou, certamente confiante.

— Já fui chamado de tolo, e reconheci. Agora sou chamado de burro, mas esta acusação não reconhecerei. — Respondeu, com sarcasmo. — Minha espécie, diferente da sua, não se importa com seus pares. Ninguém virá em meu auxílio, pela natureza das coisas. Então se vim, é porque tenho a intenção de voltar sem precisar de terceiros. — Magnus arqueou sua sobrancelha esquerda, abrindo um sorriso presunçoso. — E acredito que, nessa circunstância, isso também se aplica a vocês. Certo? Vocês são shinigamis supostamente alinhados ao Sereitei. — Notou, indicando a braçadeira dos três. — Infelizmente ninguém virá ao auxílio de vocês, pois não sabem que estão aqui. Não é? — Perguntou retoricamente. Mudou seu foco e agora focou os dois arrancars.

— Magnus-sama. — Sorriram e a hollow mulher, de cabelos laranjas, pele bronzeada e uma máscara de cachorro cobrindo-lhe metade da face, dissera. — É um absoluto desprazer tê-lo aqui, mas você é um empecilho para nossos planos. — Ela disse.

— Planos? Quais planos? — Questionou, tentando parecer ingênuo.

— Nós queremos que... — Foi interrompida pela shinigami mulher.

— Cale-se, sua idiota. — Ela disse, e a hollow quase a matara com os olhos.

— Como se fosse mudar algo. Ele morrerá aqui, hoje! — Sua voz era enraivecida, como se odiasse o Vasto Lorde de forma particular.

— Oi. Ainda estou aqui! E não pretendo morrer nem aqui e nem hoje. Mas contem-me o plano! Juro que ficarei quietinho e guardarei o segredo de vocês até o túmulo. — Sorriu. — O de vocês, claro. Afinal, se esperam que vão sair daqui com ar nos seus pulmões, saibam que não vão. Espero que sejam apenas vocês os envolvidos nessa tramoia, porque me liberaria tempo. Mas saibam: vocês não viverão para além deste momento. Não importam seus planos, suas esperanças. Se possuem objetivos de vida, ou se temem o fracasso. Se são idealizadores ou meros operadores. Vocês perecerão e suas memórias serão esquecidas, seus nomes desaparecerão ao vento e sua história será como se nunca tivesse existido. Venham, se tiverem coragem. E se forem sábios, venham os cinco juntos e ao mesmo tempo. Caso contrário, não valerá nem mesmo a pena a ansiedade pela batalha que vocês sentem neste momento.

— Matem-no! — E os cinco avançaram contra Magnus ao mesmo tempo. Um dos shinigamis, o único que não tinha sua zampakutou embanhada, disse “Queime no escuro...!”, provavelmente uma frase para liberar sua shikai. Uma espada apareceu em sua mão, de fio negro e de aparência bastante afiada. Magnus sorriu, ao desviar dos arrankars que atacaram primeiro.

Os shinigamis, aparentemente, viriam depois que os arrankars perecessem. Bom, pelo menos eles tinham senso de sobrevivência. A arrankar mulher sacou sua espada e violentamente a jogou contra o torso de Magnus, que habilmente desviou e jogou seu corpo para o lado. A lâmina cortou o ar, fazendo a chuva se separar por alguns milésimos de segundos.

Milésimos de segundo que foram o suficiente para o Vasto Lorde chutar-lhe o ombro e fazê-la derrapar no ar.

Ato contínuo, o hollow masculino buscou acertá-lo com um porrete na cabeça. Magnus socou o porrete com sua mão desnuda e o fez voar alguns metros de distância. O hollow se afastou, para ir pegar a arma que voara alguns metros.

— Por favor! Que tal fazerem a gentileza de desembucharem e contarem logo o que os motiva? Seria tão mais fácil se tivessem essa pequena misericórdia. Se o tiverem, prometo que vocês morrerão rápido, e não lentamente como estou planejando. — Magnus suspirou, tentando parecer convincente. Obviamente esta deveria ser uma proposta tentadora, não?

— Vá se foder, seu filha da puta! — Gritou a hollow que conseguira se sustentar no ar, deixando de derrapar. Magnus segurou o riso. Na verdade, ele entendia bem aquelas criaturas. Eles estavam obviamente devotados para um fim, seja qual fim seja, e acham que fazem o melhor se atirando à morte certa. A consciência não é para todos, afinal. Alguns a desperdiçam.

— Você deveria tomar cuidado com sua boca. Vai que ela fica cheia de terra, hein? — Quase não teve tempo de se desviar do hollow macho, que o forçou a dar um passo à esquerda. Magnus segurou o porrete entre os dedos e apertou com tanta força que ele se estilhaçou. Inclinou-se à própria esquerda e chutou com a perna direita o adversário, fazendo-o se chocar com um dos prédios do ambiente.

A chuva não tinha piedade e cada vez estava mais forte. Estranho.

Magnus voltou à posição inicial. Aguardando as novas investidas. A adversária hollow voltou a ataca-lo, agora sincronizada com seu parceiro. Juntos, buscavam soca-lo e perfura-lo com a lâmina, mas o Vasto Lorde conseguia facilmente prever seus movimentos. Não apenas a velocidade o auxiliava, mas a previsibilidade dos adversários também.

— São adjuchas, certo? E mesmo assim tem a coragem de enfrentarem-me? Vocês não têm a menor chance. Nem seus parceiros shinigamis. — Disse, segurando a lâmina com a mão direita e o punho do adversário com a esquerda. — Por que se aliaram? Qual o objetivo de vocês? Por que possuem tanto vigor em tentar batalhar com um ser superior? Por que se unem aos shinigamis e atacam um hollow superior? — As palavras frias cortavam a chuva, atingindo os adversários com força. Eles recuaram, abalados. Havia medo ali? Respeito, talvez? — Me respondam, insetos! — Disse, agora mais alto. Sua reiatsu explodiu fortemente, fazendo os adversários – inclusive os shinigamis – se curvarem. Magnus se acalmou e retesou. Matá-los agora era inútil. Não iria ser precipitado novamente. Falhou uma vez com eles, não falharia novamente.

Aparentemente agiam sozinhos e por si próprios, não aparentando que fossem mandados por alguém. E se fossem, seria só por uma pessoa. Não parecia que eram alinhados à alguma facção paralela, senão a eles próprios.

A única dúvida que persistia era sobre o Exéquias. Por que ele havia estado com eles? Será que mentira? Ou será que ele iria para o Hueco Mundo para conquistar mais hollows à sua causa?

Não parecia, enfim, que o grupo passasse dos seis. Mas o exéquias – sua mente voltava nessa dúvida – disse que era a terceira troca de mensagens, e que era a primeira que participava. Não parecia que estava mentindo naquela ocasião.

— Digam-me a história daquele Exéquias. Ele aparentava ser um peão, mas não acho que vocês... Ou essa sua “facção”... Passe de vocês cinco. Sejam gentis e contem-me pelo menos isso. Para eu aguentar a curiosidade que me consome. — Magnus sorriu, quase que cordial.

— Ele é apenas um instrumento. Nós mesmos havíamos enviado, dissemos que era uma ordem dos shinigamis e que ele seria recompensado caso a cumprisse. O prometemos que, mesmo se morresse, ele viveria. — Ela sorriu. — Um tolo insignificante e... — Ela foi interrompida.

— Não acho sua história suficientemente convincente. Ele achou mesmo que, mesmo se morresse, viveria? Com qual fundamento ele creria nisso? — Magnus questionou, curioso. Alguém ali poderia conferir a ressurreição a alguém?

— Nós o dissemos que, quando chegasse a hora, você o daria uma morte rápida e, embora não indolor, e um veneno que o demos iria o recompor, e ele poderia viver. Você o acharia morto, e ele ficaria vivo. — Ela disse, dando os ombros. — Mas não parece que ele teve uma morte rápida.

— Eu sou misericordioso. — Magnus sorriu. — Vocês não devem se lembrar, embora digam que me conhecem. Quando eu Reinei sobre o Hueco Mundo, não havia uma criatura que não temesse a morte, mesmo assim, todos sabiam que eu era apaixonado em segundas chances. Às vezes eu permitia uma segunda chance apenas no pós-vida. Mesmo assim, uma segunda chance era conferida. Acreditem em minhas palavras quando digo que, se não resistirem e confessarem, eu lhes garantirei morte rápida. — Abriu os braços, mostrando-se confortável com os inimigos. — Não é como se eu os temesse.  — Sorriu, presunçoso.

— Sou tão forte quanto um capitão, Magnus-sama. — Disse o shinigami bonito, o sufixo derramando seu desprezo. — Você bem sabe que é resquício de um passado que deve ser apagado. E é o seu momento, aqui e agora. — Sua zampakutou cortou o ar com extrema força.

— Se és tão forte como um capitão, significa que o Sereitei está com sérios problemas em suas fileiras. — Magnus zombou. — Quanto a vocês, shinigamis, fiquem aí paradinhos. O momento de vocês chegará. Tenham paciência. — E os ignorou completamente, voltando sua atenção para os adversários hollows. — Venham, por favor. É meu momento de brilhar para os convidados do Rei das Almas. — E Magnus se curvou, mantendo a zombaria.

Num Sonido, desapareceu donde estava e reapareceu diante do hollow macho. Olho a olho. Com força concentrada na perna esquerda, chutou-lhe o abdômen, o qual foi defendido. O hollow se arrastou um pouco para trás, mas sua composição física o permitia grande resistência.

Novamente, noutro Sonido, reapareceu diante da hollow fêmea. Dessa vez, concentrou sua força no punho direito e buscou-lhe o rosto, que também foi defendido. Os ossos da mão da mulher trincaram imediatamente.

Magnus recuou. Seus olhos brilharam num vermelho sangue que premeditou o que aconteceria. Abriu a boca, e dela um grande Cero foi disparado na direção da mulher. Ato contínuo, Magnus se virou para o macho e disparou em sua direção. Com a Pressão Focalizada, alocou sua reiatsu no punho esquerdo, o qual usou para atingir a cabeça do adversário. Infelizmente, ele buscou segurar seu soco com a própria mão, num erro crasso. A mão do adversário explodiu em sangue e o punho de Magnus acertou o inimigo na máscara, com a mira desviada pela defesa anterior. Seu soco atingiu a parte exterior direita, rachando-a e removendo uma lasca.

Magnus recuou novamente, agora olhando para o resultado do cero e da disposição dos inimigos.

— Vocês realmente não compreendem a própria insignificância, não é? — Magnus sorriu. — Ei, shinigamis. Uma parte do plano de vocês eu entendi! Usar esses dois idiotas de peões, fazendo-os acreditar que são suficientemente importantes ou fortes para sobreviver à empreitada que vocês desejam. Não é? No fim, não parece que querem alinhamento com o Hueco Mundo. Querem outra coisa, mas o que será? Até a morte de vocês, eu descobrirei.

Magnus olhou a cena. Sangue escorria da cabeça do hollow masculino. Um dos braços da fêmea havia sido vaporizado. Magnus sentou-se no ar, de cócoras.

— Meu próximo ataque será o último. Tenham a gentileza de contarem-me seus nomes, hollows. — Magnus disse, como se suspirasse o pesar de ter de matá-los.

— E-e-eu sou Duilian! — Disse o macho. Sua feição era de claro terror, como se o arrependimento o mordesse. Todavia, uma verdade que se aplicava para ambos seria o orgulho. Jamais admitiriam o medo e muito menos correriam da batalha. Magnus respeitou isso, não que fosse importante. Medo era normal, mas a coragem para persistir diante da morte certa era um óbvio diferencial. Quem não temesse seria louco e tolo – e era esse o caso dos shinigamis, que assistiam a cena impassíveis, como se fossem superiores.

Esse era o problema dos ceifadores. Achavam-se superiores, intocáveis, perfeitos. Melhores do que os hollows, os “monstros” do submundo que caçavam e alimentavam-se dos mortais. Um desvio da natureza, uma mutação terrível que corrompia as almas.

De fato os hollows eram tudo isso. Mas quem definia o que era bom? O que era moralmente certo? O Rei das Almas, o Rei do Escuro? Os humanos e seus medos tolos? A vida não era justa, não era um conto de fadas.

Era dura, malvada e dolorida. Não havia lado certo. Tanto não havia, que o Pacto fora selada e um armistício foi levantado entre as duas facções.

— E eu sou Markaer! — Disse a fêmea. Magnus a olhou bem nos olhos. Ela tinha coragem, mas o cheiro do medo era nítido tanto quanto feromônio. Magnus a fitou por alguns segundos. Sua mente processando o que havia experienciado aquela noite.

Magnus trocou o fitar nos olhos dela para ele, revezando em segundos para cada um.

— Duilian e Markaer... Vocês morrerão porque fizeram a escolha errada. Não é porque se tornaram arrankar que a sina de serem adjuchas sumiu. Eu sou um Vasto Lorde, uma criatura superior e, definitivamente, não comparável com vocês. Não atoa sou da Raça Suprema, não é? — Magnus suspirou. Novamente. — Vocês foram atraídos por aqueles três e serviram como moeda. Eles acham que poderão fugir daqui quando eu os matar.... Tsc, tsc, tsc. Eu os perseguiria até o Sereitei e os executaria lá mesmo. E ninguém os defenderia. — Magnus mudou o olhar para os três. — Ou eles me matam, ou eles morrem. É uma sina para eles... E, sabe? Não há possibilidade deles me matarem.

— Longa vida ao antigo Rei dos Hollows. — Disseram, ambos, como se em despedida. Preparados para a morte que viria.

— Há muito abandonei essa sina, meus queridos. Mas obrigado pela memória. — Magnus usou Sonido e apareceu diante de Duilian. Segurou-lhe o rosto com a mão direita e, o prendendo com força, o arrastou até Markaer, a qual também segurou com força. A pressão era tanta, que a máscara esfarelava a seu toque. — Adeus. — E usou Cero em cada mão. A força foi tamanha, que a chuva cessou por alguns segundos, arranhando o céu e separando parcialmente as nuvens, de modo que tanto as gotas descendentes como as nuvens condensadas também vaporizaram. O ar se tornou rarefeito e a estrutura fundamental do mundo pareceu tremer. O corpo dos dois hollows tombaram metros abaixo até o chão, com as cabeças voando ao vento como pó.

Magnus mudou sua expressão. Sua face, até então zombeteira, se converteu em séria. Fitou os shinigamis, sua pressão espiritual reverberando e fluindo em ondas, fazendo com que a chuva que voltara a cair parecesse em câmera lenta. Sua reiatsu, de cor vermelha, fluía com liberdade. O Segunda Espada desceu até o chão e tomou para si a lâmina que a hollow portava, voltando a subir e ficar no mesmo plano que os shinigamis.

— Eu deveria ficar ofendido de ter que batalhar com insignificantes adjuchas. E eu tenho certeza de que vocês sabiam que eles morreriam, logo, o objetivo de vocês era usá-los para me cansar. Não funcionou. — Magnus girou a espada entre os dedos, cortando o ar fraco com ela, sentindo seu peso e seu equilíbrio. Não era perfeita, mas serviria.

— É seu fim, Magnus. Sua história encerra nesse exato instante. Eu sou Bali, da Segunda Divisão. — Disse o loiro bonito. Seus cabelos se soltaram do coque que estavam anteriormente, permitindo que grudassem em seu rosto, haja vista a chuva torrencial. A shikai liberta pousava em sua mão, falsamente parecendo nada demais.

— Sou Zara, da Quinta Divisão. — Disse a Shinigami de sorriso encantador, que de fato era lindíssima. Uma morte tola para uma mulher tola. No fim, a morte e a sua proprietária combinariam.

— Eu sou Moon, da Sétima Divisão. — Disse o que o atacara a princípio. Era robusto e forte, aparentemente corajoso. Mas o mais fraco entre os três, claramente, o que não o impediria de ser um óbvio estorvo, sobretudo dependendo de sua shikai.

— Algum de vocês tem bankai ou algo melhor? Se sim, sugiro usá-la. Precisarão, pois eu irei estraçalhá-los até que não sobre nada.

Magnus avançou contra os três adversários ao mesmo tempo. A zampakutou da adjucha morte, agora em sua posse, deslizou cortando as gotas de chuva e sendo parada pela lâmina de Bali. Magnus sorriu, enquanto girava como um parafuso na horizontal e jogava seu pé direito contra o busto de Zara, que avançara contra si com a própria zampakutou em riste.

Pegando impulso no chute, girou à esquerda e, afastando-se, dos dois, desceu sua lâmina cima abaixo contra Moon, que usou sua própria lâmina para deslizar o fio do ataque de Magnus, que recuou indo a alguns metros adiante dos dois. Sem dar tempo, Magnus voltou ao ataque, mas dessa vez seu alvo era Zara.

Sua lâmina cruzou com a dela no ar, criando um chiado que gerou um forte cheio de ozônio. Magnus forçou seu peso contra a shinigami, fazendo-a dobrar-se de joelhos e sustentar o ataque defensivamente. Sentindo o perigo iminente, Magnus jogou-se para a esquerda e removeu a força da lâmina, soltando Zara.

A shinigami não pôde controlar-se e, por conta da inércia, jogou sua lâmina contra a do parceiro, que errara o alvo, em virtude de Magnus ter desviado. Lâmina contra lâmina, Moon pego de surpresa, perdeu o equilíbrio da espada e fora perfurado no músculo do braço esquerdo por Zara, que removeu a própria Zampakutou e tentou, aparentemente com algum hadou, cauterizar a ferida.

Magnus pensou em zombar, mas não estava com humor suficiente para tanto. Seus lábios curvaram-se quando sentiu Bali às suas costas. O Arrankar colocou a lâmina contra a própria nuca, a qual defendeu o ataque da shikai, a qual Magnus passou a pensar o que fazia exatamente.

Enquanto os dois, Moon e Zara se ajudavam, Magnus trocou alguns golpes com Bali. Numa investida mais forte, gingou para a esquerda e foi pela direita, bradando sua zampakutou contra o adversário. Tinha certeza de que seu golpe lhe deceparia um braço, todavia, sua lâmina apenas atravessou o adversário, sem lhe causar nenhum dano.

Magnus achou interessante, mas ignorou-o. Saltou para trás, dando um mortal. Girando no próprio eixo, sua zampakutou buscou atingir ambos os shinigamis mais recuados no tronco, mas o ataque fora prontamente defendido.

Magnus os viu se reagrupar. Num rápido salto, sua lâmina iluminou-se com um Cero na ponta, que disparou como um laser contra os adversários que, unindo suas zampakutous, seguraram o poder da agressão. O olhar do Vasto Lorde não poderia ser mais arrogante.

— Isso não está divertido. Se continuar assim, eu os irei desintegrar no meu próximo ataque. — Magnus ameaçou, e falava sério. Seus olhos brilharam num tom vermelho profundo definitivamente ameaçador. Sua reiatsu explodiu numa coluna cor de sangue, dividindo os céus, vaporizando as gotas de chuva e fazendo com que as nuvens desaparecessem.

Com certeza essa demonstração de poder iria ter consequências, mas não ligava realmente. O poder foi tanto que as janelas dos prédios ao redor trincaram e explodiram, e desequilibrou os três adversários.

— Façam algo que me entretenha. Ou eu irei simplesmente... — Sua zampakutou ficou em riste, apontando contra os três. De sua ponta, uma luz vermelha começou a irradiar, como se concentrasse ali uma grande quantidade de poder. E de fato estava.

A coluna não se extinguia, o céu começava a colorir-se de vermelho e o ar já estava rarefeito, impossível de se respirar. Os shinigamis levaram as mãos à garganta, exceto Bali, que expelia sua própria reiatsu a fim de se manter inteiro. O shinigami segurou sua shikai com as duas mãos, firme. Seus lábios crisparam e uma densa quantidade quantidade de energia espiritual irradiou de seu corpo, concentrando-se sobretudo em sua lâmina. Era visível na coloração verde o tamanho do poder direcionado. Tanto poder concentrado só poderia significar uma coisa, e o Vasto Lorde sorriu quando ouviu o inimigo praticamente gritar:

— Que o sangue dos inimigos tinja o chão... BANKAI! — E então Magnus recolheu sua reiatsu, olhando o adversário com algum interesse.

Magnus piscou e, nessa piscada de um segundo, sua memória o puxou para eras primevas.

O frio era o mesmo de como era há cinco séculos. Magnus estava sentado em seu trono, enquanto centenas de cadáveres cobriam o chão, inundando-o de imundície. Sangue de todas as cores cobriam o chão, contaminando o odor, maculando a limpeza tão exigida por parte do Rei dos Hollows.

Enquanto o fedor pútrido contaminava suas narinas, a porta foi novamente aberta abruptamente e logo em seguida, fechada. Magnus abriu um largo sorriso, enquanto apoiava sua cabeça sobre a mão esquerda, que apoiava-se num dos braços do trono de ossos.

TRONO:

— Me parece que a noite foi retirada para os Espadas me desafiarem. O que quer com o Rei da Escuridão, Sétima Espada? — A voz de Magnus ribombou pelas paredes, do alto de seu trono. Seus olhos vermelhos podiam ser vistos mesmo a partir da entrada, há bons metros donde encontrava-se.

O homem olhou para o chão, os corpos estirados e iniciando sua lenta decomposição. Alguns possuíam olhares de terror, outros olhares de prazer. A maioria passara a não concordar com os métodos de Magnus e armaram uma longa insurgência. Alguns tolos poderiam convencer centenas. No caso, alguns convenceram ao menos cinco Espadas, que por sua vez trouxeram todos seus fráccions à peleja.

— Você é responsável por uma carnificina, Magnus-sama. Centenas de milhares estão perecendo em razão de sua exigência de novos arrancars. Por que tamanha insistência? Por que tantos dos nossos devem morrer para satisfazer seu desejo? — Questionou, sua voz pausada, pensando e refletindo a respeito do que falava.

— A consciência é o que nos diferencia de bestas, Bartho. — E levantou-se do Trono, olhando-o de cima. — E eu sou o Rei. — Junto a suas palavras, uma imensa quantidade de reiatsu vazou.

A porta foi arrancada de suas dobradiças por fora, voando para dentro e destruindo algumas das pilastras que sustentavam a sala do trono.

— É seu fim, Magnus-sama. — O Rei dos Hollows estava impassível. Havia ouvido essas palavras por tantas vezes que perdera as contas. Mal imaginava o quanto iria ouvi-las ainda. A expressão arrogante pouco podia tornar-se ainda mais. — Um enorme exército de hollows cerca Las Noches, alguns shinigamis também se alinharam com o objetivo de destrona-lo, embora eu acredite que os motivos deles sejam pouco nobres. — Abriu os braços, mostrando-se desarmado. — Tenha consciência, Magnus-sama. Não resista, observe sua consciência. Com certeza ela diz que uma morte rápida é melhor que a desonra de perecer. — E olhou profundamente nos olhos de seu – antigo – senhor.

— Cero. — Disse Magnus, apontando seu dedo em direção de Bartho. Uma densa energia vermelha irradiou da ponta de seu dedo, abrindo uma larga cratera no chão.

A densa energia vermelha explodiu contra a espada de algum shinigami que entrara no recinto, defendendo o Sétima Espada de ser atingido. A expressão de Magnus era de absoluto desagrado. Saltou do alto de seu trono, indo até o solo, ficando no mesmo plano que os adversários.

— Eu conheço bem o regime dos Shinigamis, e com certeza você não está aqui com autorização. Busca glória? Encontrará a morte. Busca justiça? Encontrará a morte. Busca vingança? Encontrará a morte. Vê? Morte é tudo que o aguarda aqui, shinigami. — Magnus sorriu, arrogantemente. — Mesmo o Sereitei inteiro não me afligiria. Por que acha que vocês o fariam? Rendam-se e a morte será rápida. Como foi a de seus antecessores. — E gesticulou com os braços para os cadáveres ao chão.

— Magnus, Magnus, Magnus. Sua arrogância é bem conhecida. E terei o prazer de estraçalhá-la. — Respondeu. — Eu sou Eon vi Luke e... — Ia continuar sua fala, mas foi cortado pelo Vasto Lorde.

— Sinceramente não me importa quem você seja. É apenas mais um cadáver, a diferença é que ainda respira. Por ora. — E desembainhou sua zampakutou, que repousava embainhada. — Eu irei destruí-los, os dois, e quando suas cabeças rolarem, irei dispersar esses insurgentes, para que se lembrem bem de quem eu sou. — E movimentou a lâmina pela direita, cortando o ar. A pressão foi tamanha que cortou o chão, derrubando uma das pilastras.

— Vamos. — Bartho sussurrou para Eon. Magnus zombou mentalmente, pareciam deveras amigos. Amigos perigosamente demais. Desde quando se conheciam? Por que Magnus não sabia desses encontros, se houveram? Encontraram-se no Mundo Humano? Provável. O motivo que gerou essa amizade inovadora era estranho, todavia, compreensível. Provavelmente os shinigamis plantaram esse desejo tolo de insurgirem-se contra o Rei. Tolice. Magnus buscava um reinado de seres conscientes e, para atingir a consciência, era imperioso que os hollows alimentassem-se um dos outros. Quem fosse contra isso era tolo, ou não se importava em gerar seres pensantes.

— Devore a carne e beba o sangue dos inimigos, La Camarera! — E o shinigami liberou sua shikai. Uma grande quantidade de energia empurrou levemente o Rei Hollow para trás, que sorriu psicoticamente.

— Vamos jogar! — E num salto, com sonido, desapareceu donde estava e sua lâmina descendentemente foi contra a cabeça de Eon. O shinigami defendeu e Magnus redirecionou o golpe à Bartho.

Magnus girou no ar, fazendo a pressão da lâmina curvar o ar à esquerda, fazendo com que Bartho fosse empurrado e Eon se curvasse.

— Você sequer é um capitão. O que acha que poderia conseguir comigo? — E virou sua atenção para Bartho. — Você é um Espada! O que faz aliado à escória? — Questionou Magnus, recuando alguns metros.

O Rei foi pego de surpresa, com um ataque às suas costas. A lâmina inimiga perfurou profundamente seu ombro, alojando-se ali. Dor como poucas vezes sentira espalhou-se por seu corpo. Como se envenenado, cada molécula de seu corpo vibrava em dor. Magnus retesou seu corpo por alguns segundos, tentando compreender o ataque. Tempo suficiente para ser novamente surpreendido – dessa vez, por pura desatenção – com uma lâmina gelada perfurando-lhe a barriga.

A lâmina girou em seu cerne e sentiu as fibras de seu corpo e seus órgãos – aquilo eram órgãos? – romperem. Magnus fraquejou por alguns segundos. E logo uma grande camada de reiatsu irradiou dos ferimentos, expulsando as lâminas, fazendo-as voar pelo ambiente – não diferente de seus agressores, que foram afastados pelo poder agressivo.

Magnus respirou profundamente. Sua mente calculando ainda os danos tomados, segurou-se em suas forças. Não iria se ajoelhar.

— Interessante sua Shikai. — Disse para o shinigami, voltando à posição altiva que lhe era de costume. Guardava profundamente a dor que sentia, não iria permitir que ela lhe atrapalhasse. — O que ela faz, exatamente? — Questionou, claramente curioso.

O olhar arrogante do inimigo lhe permitiria saber a resposta verdadeira, com certeza. A prepotência que ele emanava naquele momento era absolutamente indescritível. Ele parecia estar em êxtase.

Morreria gozando.

Magnus sustentou o olhar curioso. Aquela arma era um perigo, aparentemente. Não conseguia sentir a presença de nenhum dos dois e, consequentemente, não conseguia prever a partir de onde atacariam. Mesmo aguçando ao máximo seus sentidos, parecia que seria inútil. Teria que improvisar.

Sua pressão espiritual fortificou seu corpo. Simples ataques de zampakutou não mais o danificariam de grande forma. Seus olhos buscaram avidamente os inimigos, mas não os encontrava. Era como se... tivessem desaparecido.

De fato desapareceram de suas vistas, mas com certeza ainda estavam ali. Magnus respirou fundo e soltou sua reiatsu em ondas, buscando localizar os inimigos. Nem assim. Já que iriam agir assim, Magnus não teve escolha.

Concentrou reiatsu em sua zampakutou e cortou o ar em 360º, fazendo um cero concentrado – como se laser fosse – da ponta da lâmina. A estratégia deu parcialmente certo, visto que o cero foi desviado num certo ponto. Magnus, ao notar, ergueu sua lâmina para acima de sua cabeça e desceu verticalmente.

A força foi tamanha que cortou o teto e as paredes de Las Noches, fazendo rochas e outras estruturas tombarem. Pilares, pilastras e outras sustentações foram ao chão e parte do castelo tombou sobre a cabeça de todos.

Magnus livrou-se ao cobrir-se com a própria reiatsu, que pulverizou as rochas que choviam. Magnus sabia que ainda não haviam perecido.

— Minha shikai funciona como uma capa, Magnus. Ela encobre quem está sob seus efeitos, fazendo-os sumir de qualquer sentido. Não pode ser vista, nem sentida de qualquer forma. É como se o próprio véu da noite cobrisse seus protegidos... — A voz veio do nada. — É possível que eu decida o que será possível de se ouvir, sentir, ver, ou o que seja. Você morrerá e nem verá como... — A gargalhada morreu aos poucos, como se viesse de todos os lados.

Magnus estava numa difícil situação. A regeneração já começara a agir para curar as estocadas que sofrera.

— Uh, que poderzinho desagradável. — Zombou Magnus. — Mas para me matar, terá que me atacar, certo? — Zombou, arrogante. Fincou sua zampakutou no chão, e apoiou-se nela. — Venham. — E baixou completamente a guarda. A estratégia não poderia ser uma ofensiva aberta. Provavelmente não morreria com apenas um ataque, como ficou comprovado. Mesmo que viessem, Magnus resistiria. Assim esperava, ao menos.

— Então irá morrer! — Novamente a voz que vinha de todos os lados soou, quase ensurdecendo o Rei. Magnus teve a impressão de ouvir “Não faça isso!”, dito pelo Sétimo Espada, mas provavelmente era apenas impressão.

Tão logo a voz parou de soar, uma zampakutou lhe cortou o abdômen por trás. Magnus arquejou, indo para frente.

— Vê! — Disse Eon, extasiado. Deu as costas para Magnus, deixando-lhe com a espada fincada. Sua atenção agora foi para o comparsa, Bartho. — Ele não é nada diante do poder dos shinigamis! Agora ele é apenas memória e... — Não terminou de dizer, pois uma poderosa reiatsu emergiu de trás de si. Quando virou-se, Magnus segurava a zampakutou entre os dedos. Magnus a puxou e quase praguejou ao sentir o cabo ampliar ainda mais o ferimento. A lâmina varou seu corpo, sendo agora segurada com mãos limpas pelo Rei dos Hollows, que a observava com curiosidade.

O rei dos Hollows sorriu ao observar o Sétima Espada, o desespero dele o alegrava.

— Tolo... — Disse Bartho, ajoelhando-se em desespero. — Tínhamos a oportunidade perfeita, os meios perfeitos... Precisava apenas de mais paciência, alguns minutos a mais e eu poderia usá-la... — Enfureceu-se, de repente, e seus olhos tingiram-se de um verde doentio.

— A tolice deveria ser uma punição por si só, meu caro Sétima Espada. Vocês me forçarão a refazer os Espadas do zero. Que situação desagradável. — E olhou para o ambiente, claramente destruído. — E não só os Espadas, obviamente. — E olhou para a lâmina em sua mão. — Não precisa mais dela, né? — E a dobrou com a ajuda da outra mão, que estava livre, estilhaçando-a. Os cacos do metal foram jogados ao longe. — Eu achei que pensavam que eu era poderoso. — Magnus reprimiu o vômito de sangue, os ferimentos cobravam seu preço. Mas manter-se-ia imponente. Sua figura exigia isso. — Quanto aos shinigamis, que voltem pra seu lar. — E decepou a cabeça de Eon com uma só mão, fazendo-a rolar pelo salão.

Seus olhos voltaram-se para o Espada. E algo regurgitou em seu interior. Olhando os corpos tombados no chão, uma enorme necessidade de se alimentar deles começou a emergir, algo que não sentia há muito. Magnus interiorizou, abafando esse sentimento animalesco com a raiva que sentia.

— Você pensou que sua Resurrección poderia comigo? — Magnus sorriu. — Mas você não tem uma, tem? — Questionou, seus olhos resplandecendo em carmesim. E, como um raio, Magnus reapareceu às costas de Bartho. — Adeus, meu velho amigo. Que tenha sido feliz em suas escolhas. Pois não me satisfaz liquefazer meus velhos companheiros. Se os elevei à Espada, não o fiz apenas pelo poder de vocês. O fiz porque me pareceu correto. Eu confiei. E errei. E agora todos vocês estão mortos... Não cometerei esse erro crasso novamente. — E então também lhe decepou a cabeça, que ficou segurada pelos cabelos pelas mãos de Magnus.

Magnus flutuou sobre o chão, tomando em cada mão uma cabeça. Voou e ficou diante do exército que cercava Las Noches. Exibiu-as à vista de todos.

— Todos os poderosos que se acharam aptos a me desafiar, pereceram. Sejam Hollows, sejam Shinigamis. — Disse o Rei aos súditos e a um pequeno grupo de shinigamis. Sua aparência não demonstrava estar afetada pela dor lacerante que sentia. Talvez a psicopatia o ajudasse nisso. — Hollows, curvem-se ou morrão. Shinigamis... — Magnus abriu sua boca e, pensando em disparar um Cero, sentiu algo em seu cerne. A dor lacerante que sentia talvez o estivesse pregando peças, mas sentiu novamente uma enorme vontade de devorar ambas as cabeças. E, quase que instintivamente, absorveu Bartho. Eon caiu de suas mãos, rolando aos pés dos shinigamis. Magnus perdeu o timming de destruí-los, que fugiram através de seus portais e levaram a cabeça decepada consigo.

Os demais Hollows curvaram-se e abaixaram sua cabeça diante de Magnus que, evitando demonstrar fraqueza e curvar-se pela dor, deu-lhes as costas e voltou para seu trono. Onde sentou-se a fim de assimilar o que acontecera.

Sentiu como se Bartho agora fossem parte de seu poder. Seus conhecimentos – irrelevantes, é verdade – agora são como se estivessem disponíveis para acesso. Interessante. A dor perturbava-lhe. Sangue escorria de seu corpo, precisando de cuidados. Todavia, não poderia encontrar cuidados com os hollows. Tinha a opção de aguardar a regeneração curar-lhe, mas tinha outros planos.

Fez um gesto simples com os dedos e uma Garganta abriu-se. O Rei a olhou por alguns segundos, considerando se era a decisão correta. Abriu um largo sorriso e passou tranquilamente para o Mundo Humano. Lá havia uma shinigami capaz de curá-lo rapidamente. Os Hollows precisavam de seu controle, afinal.

Magnus quase foi atingido pelos adversários, nesse um segundo fora do ar. Usou um sonido bem antes de ter uma bankai lhe arrancando a cabeça do pescoço, indo há alguns metros de distância. Olhou para a arma que o atacara.

A Zampakutou inimiga cresceu, se transformando num dragão de fogo de não mais que cinco metros de altura e três de largura. Nem teve um segundo de paz e a bankai o perseguiu, quase como se estivesse teleguiando-se para ele. Desintegrava tudo em seu caminho, fazendo com que vaporizasse. À essa altura, não havia mais chuva e o céu tornara-se limpo, a luz da lua agora inundava a cidade de Londres.

Essa batalha tornou-se um problema.

Magnus ergueu a zampakutou e disparou um cero contra o dragão. A energia vermelha varou o dragão, atingindo um prédio distante que explodiu nas estruturas, caindo. Magnus agora tinha uma boa resposta: os ataques atravessariam a Bankai.

Isso era, em certa medida, uma vantagem. Mas se o portador morresse, a Bankai não permaneceria. O antigo rei abriu um largo sorriso, compreendendo. Os inimigos estavam absolutamente tranquilos, com a certeza repousando em que eles venceriam.

Tolos. Magnus vira esta mesma cena muitas, e muitas vezes. E sobreviveu em todas elas – enquanto os adversários pereceram.

O Vasto Lorde sabia que não viveria para sempre. Chegaria o momento de sua morte, e sua morte teria propósito. Não ocorreria pela mera vontade de shinigamis ou hollows que pouco se importavam com a estabilidade e continuidade do mundo. Não. Morreria com uma justa finalidade, a seus olhos.

Dois mil anos o ensinaram muita coisa e uma delas foi respeitar a justa separação do mundo, pois nela havia propósito.

Magnus usou um sonido e apareceu atrás de Moon. Seu braço atravessou o abdômen do shinigami e, com pressão focalizada em sua estrutura muscular, desceu o braço com força, separando o shinigami em dois.

Menos um.