Minha cabeça estava latejando como se dentro dela estivesse martelando infinitamente. Demorei a conseguir abrir os olhos, a pressão estava fazendo com que eu os mantivesse fechados. Mas, a curiosidade era ainda mais. Me lembro vagamente do que havia acontecido. Aquela luta, no mínimo, foi divertida. Porém, perder daquele jeito? Sem ao menos entender o motivo de eu ter caído no solo de forma tão fácil e frágil?

Quando finalmente consegui abrir os olhos, vi uma sala escura, com somente uma tocha com um fogo fraco no centro dela, próxima a mim. Conforme tentava me mover, as correntes que prendiam minhas mãos não deixavam e quanto mais força eu fazia para tentar puxar, menos resultado tinha.

— Que porra é essa… — Começar a gritar foi uma atitude instintiva que, com o passar dos minutos, soube que não surtiria efeito algum.

Tentei, como outro método de quebrar as correntes, utilizar meu Reiatsu de forma pura e condensada, similar a um Cero, só que muito menos potente em seu efeito. Foi então que, ao tentar liberar o Reiatsu, soube que, além das correntes me manter preso, elas inibiam o uso de qualquer técnica proveniente dela.

Não tinha outra escolha senão aguardar.

Foi então que, após um longo tempo, pude escutar os passos pesados do mesmo ser que me colocou nessa situação. Ele vinha cantarolando algo inaudível que, com toda certeza, tinha o propósito de me tirar do sério. E, adivinhe? Conseguiu, com certeza.

— Me tira daqui filho da puta. EU VOU TE MATAR PORRA! — Ele gargalhou ao chegar mais perto. Agora, conseguia vê-lo com exatidão. Os ferimentos já não existiam mais. O corte que era pra estar no topo da cabeça, na parte lateral do corpo e no pé, principalmente, estavam completamente curados. Me espantei com tamanha habilidade regenerativa. Hollow’s, em sua maioria, são mais resistentes e conseguem se curar com maior facilidade, porém, a dele, estava em outro nível, com certeza.

— Você precisa se acalmar, jovem Ryugan. Tenho o remédio perfeito pra isso. —  As palavras dele me fizeram ter ainda mais ódio e, quando eu vi a arma que ele carregava, se pudesse espumar pela boca, teria feito.

— Largue ela. Você não é digno de portar minha foice… jamais será. — Quando eu terminei de esbravejar, veio o corte seco no ar e, consequentemente, na minha barriga, abrindo uma grande ferida, extremamente funda.

— Grhh. — Gritei de dor por consequência do corte e ele gargalhou.

— Já pensou o motivo de termos nos encontrado? — A indagação me fez refletir um pouco, apesar do ódio e da dor que sobrepuja qualquer pensamento que eu pudesse ter naquela hora.

— Motivo? Você fala como se a sua morte tivesse algum propósito, seu verme. — Cuspi o sangue acertando o rosto desfigurado do monstro à minha frente. Ele devolveu com um sorriso, breve, até desferir mais um golpe com minha foice direcionado à mim. Dessa vez, bateu com a haste de ferro enegrecido contra minha face, fazendo escorrer sangue do meu nariz de forma imediata.  

— Existe propósito nas coisas, Ryugan. Nada acontece por acaso. Eu não deixei de ser Espada por acaso. Você não se tornou um Hollow por acaso. — Ele pausou sua explicação por longos segundos, suficiente para fazer com que o silêncio invadisse minha mente. — Bom… acredito que você seja um pouco burro para entender a complexidade das coisas. Saiba que não está aqui por uma questão do destino, ou por simplesmente ter perdido aquela luta. Nunca conseguiria ganhar de mim, não nessa forma. — E ele finalizou com mais uma tortura. Dessa vez, usando o cabo da foice, pontiagudo, para perfurar ambas as minhas mãos.

Gritei de dor uma vez mais, tentando controlar ao máximo o que estava sentido no momento. Fui então perdendo um pouco da consciência, talvez pela extrema dor que estava sentindo. Não consegui, por mais que tentasse, manter meus olhos abertos.

Quando acordei, pude ver, de primeira instância, minha foice largada no solo arenoso. Meu corpo já não doía tanto quanto antes, estava apenas um pouco dolorido com algumas ataduras nos cortes. Entender o que aquele monstro desejava, de mim, se tornava cada vez mais impossível. As correntes que me prendiam já não existiam mais. Eu estava solto, por assim dizer.

Mas que porra é essa. Pensei, me recompondo e segurando na haste da foice aplicando muita força com medo de perdê-la outra vez. A porta estava aberta. Conseguia ver um pouco de luz vinda do corredor. Nunca fui um hollow de pensar e sim de agir. Portanto, só me restava correr até achar uma saída daquele inferno ou, quem sabe, encontrar o colosso exilado.

Usando toda a minha velocidade, comecei a correr, claro, com o mínimo de cautela. O corredor estreito e iluminado me auxiliou no começo, quando eu ainda sentia um pouco as minhas pernas formigarem. Correr naquela situação seria complicado, mas não havia outro meio de fugir se não correr.

Me esgueirei pelas paredes úmidas da gigantesca caverna, enquanto tentava manter o ritmo e continuar correndo, ainda meio lento. Correr, como nunca havia feio antes. Uma cena patética de se ver, de um recém nomeado Espada.

— Que merda. — Sussurrei quando encontrei uma bifurcação semelhante à que havia visto quando entrei na caverna, pela primeira vez. Entretanto, um pouco diferente dela; essa, por sua vez, possuía cinco entradas e não apenas três.

— Eu só preciso continuar correndo, mantendo minha velocidade, não? Basta escolher uma delas, Ryugan… vamos, porra. — Encorajei-me a continuar correndo, bastando escolher um dos caminhos, apenas. Optei pelo do do centro e, portanto, continuei correndo, aumentando a velocidade de forma gradativa conforme me acostumava um pouco mais ao meu atual estado; ferido, cansado, porém, cheio de ódio.

Considerações:

Vantagens e Desvantagens: