Minha escolha por seguir o caminho da frente e não as demais opções quando me deparei com a bifurcação se mostrou ser uma má ideia. Estava correndo durante longos minutos e nada de encontrar uma saída. Pior, o breu da escuridão abraçava com mais intensidade meu corpo.

— Droga droga droga… — Parei por alguns instantes tentando respirar melhor, conforme mostrava minha indignação por estar numa situação tão ruim quanto essa. Um Espada não deveria perder tão feio quanto eu havia perdido, ter sido torturado como fui, fugir como uma criança indefesa como estava, na atual situação. Tudo me fazia ter ainda mais ódio. Porém, se eu realmente quisesse fugir, deveria manter a calma e a única maneira que encontrei, em meio ao caos da minha cabeça, foi mordendo a ponta do lábio inferior e infligindo dor a mim mesmo.

O sangue escorreu de forma prematura, enquanto tentava formular uma estratégia e pensar em como sair da caverna.

— Preciso lembrar qual o caminho que fiz até chegar naquela arena. Depois, é só me guiar até a saída… pense Ryūgan, pense direito. — Comecei a falar comigo mesmo. As lembranças recentes ainda estavam confusas, com certeza resquício do que aquele Privaron havia feito comigo.

— Vou curtir muito a morte desse merda. Ah se vou. — Sussurrei quando, em uma ideia um pouco contraditória, decidi voltar e refazer o caminho até encontrar a bifurcação.

Mais longos minutos passaram. Estar preso, dentro da caverna ainda me incomodava, a ponto de atrapalhar meus pensamentos que não não eram lá grandes coisas. Agir como um animal na maioria das vezes tem seus bônus, porém, quando é necessário pensar, os ônus aparecem.

Não tive dificuldade no percurso de volta, felizmente. Quando me deparei novamente com a bifurcação, pude notar algo extremamente estranho. Anteriormente, existiam cinco caminhos a serem seguidos, entretanto, só conseguia visualizar quatro, sendo que tinha acabado de sair da entrada número três, olhando da esquerda para a direita.

Coloquei a canhota sobre a face, franzindo o cenho e tentando pensar no que de fato estava acontecendo.

— Pare de mexer com a minha cabeça! — Gritei sem esperar qualquer resposta. Precisava me concentrar, sabia disso, mas quem disse que eu conseguia? Ser movido pelo ódio, de fato, tinha mais problemas do que soluções quando em situações adversas como essa.

Meu instinto fez com que eu corresse na direção da primeira entrada, da direita para esquerda, sem nem pensar se esse pudesse ser o caminho certo. Com os longos minutos se passando, tive a certeza de que não era o caminho certo. Voltei similar ao que havia feito no outro caminho.

Fitando novamente as entradas, agora existiam apenas três e não quatro.

— Que porra é essa. — Meu espanto era visível tanto sobre minha face quanto sobre minha fala. Os caminhos, conforme eu os percorria, sumiram como em um passe de mágicas. Em todos meus longos anos, sequer havia visto uma habilidade ou mecanismo que tivesse poder para fazer conseguir mudar o palpável de forma tão simples e objetiva.

— O Privaron é forte, devo confessar. Mas, como ele consegue fazer isso? Beira o irreal essa habilidade, se é que posso chamá-la assim. Parece que estou vivendo uma ilusão, mesmo que eu consiga sentir que tudo é real. — E de fato, era tudo real. Diferente das outras vezes, hesitei e muito em prosseguir pelos outros caminhos. Levei a destra sobre o queixo, tentando pensar melhor no que eu poderia fazer.

— E se eu for em todos os caminhos, forçar eles ‘’desaparecerem’’ até que eu consiga encontrar o verdadeiro caminho? — Suspirei, após sussurrar o que fazer.

— Mas, talvez eu não consiga voltar em um desses caminhos e fique preso para sempre. Maldito dilema. Fato é que eu preciso agir, antes que ele volte. — De uma coisa eu tinha certeza, quanto mais rápido eu fosse, mais fácil conseguiria fugir da caverna e evitar um novo embate contra o Privaron.

Alinhando os pensamentos, escolhi com extrema cautela, tentando pensar nos mínimos detalhes. A melhor ideia ainda era manter a calma e ir eliminando os caminhos, percorrendo eles até que só sobrasse um. Assim fiz, correndo mais uma vez. Parecia estar em um looping infinito. Os mesmos detalhes se repetiam como nos demais caminhos. Dessa vez eu corria prestando maior atenção nos detalhes, buscando algo de diferente em comparação às outras bifurcações.

Como esperado, não tinha uma saída. Suspirei e voltei. Já imaginava, então, não me decepcionei tanto assim. Ao voltar, mais uma entrada havia sumido. Agora restavam apenas duas.

Como decidir entre as duas? Refleti durante um minuto ininterrupto.

Fechei os olhos, sem convicção alguma e apenas corri pegando o caminho da direita. Obviamente não era a melhor decisão, mas não havia outro jeito senão esse. Pelo menos assim imaginava.

Conforme percorri o caminho, não identifiquei nada de diferente dos outros. Quando cheguei no final dele, pude ter a certeza de que se tratava de apenas mais um e não o caminho certo. Voltei com a mesma insegurança que tive ao escolher. Dessa vez, com receio em não conseguir voltar, porém, por sorte, consegui.

— Merda, merda, merda. Agora só falta u… — Antes que eu pudesse terminar, fui interrompido por uma voz protuberante ecoando de todos os lados.

— Espadas não hesitam, jovem Ryugan. — Reconheci a voz rapidamente. O ódio voltou a consumir meu corpo, entretanto, dessa vez, consegui controlá-lo. Afinal, era inteligente prestar atenção no que ele tinha pra falar.

— Olha… temos um avanço HAHAHAHA. Pelo jeito aprendeu a se controlar. Inteligente, eu diria. E olha que pensei ser impossível você ser um pouco inteligente a esse ponto. Bom, essa foi minha última lição, número 5. É legal se portar como um animal, digo, é a representação fiel do que nossa raça se tornou ao longo dos anos, certo? Entretanto, é necessário ser inteligente para identificar quando ser um animal brutal ou quando se portar com mais calma, analisar o ambiente ao redor, as situações e aí sim tomar uma decisão com base nas informações coletadas. Somos naturalmente fortes, agora, se você conseguir mesclar sua força com sua inteligência, será um dos maiores que Hueco Mundo já ouviu falar. — As palavras tocaram minha alma conforme ficavam cada vez mais distantes.

O silêncio se instaurou logo após as explicações. Fiquei ali, parado, estático. Não conseguia identificar os motivos de tudo aquilo ter acontecido comigo, se não colocar a culpa no destino. A verdade é que, apesar dos pesares, o Privaron me ensinou mais do que qualquer luta brutal que tivesse participado.

Peguei o último caminho. Esse, por sua vez, totalmente diferente dos demais. Vi a luz no fim, que me levou até a imensidão do deserto de Hueco Mundo, abraçado pelo frio e a noite ininterrupta.    

Considerações:

Vantagens e Desvantagens: